Por dois períodos consecutivos – 1989 a 1992 e 1993 a 1996 – o Partido dos Trabalhadores (PT) encabeçou uma coligação progressista que governou o município de Santos (SP). Primeiro, com Telma de Souza. Depois, com David Capistrano da Costa Filho. Um livro recém lançado pela Editora Alameda resgata o legado das duas gestões de administração democrática popular, cujas práticas se tornaram referência nacional e internacional.
A obra é de autoria do jornalista e professor Wagner de Alcântara Aragão. Intitulado “Santos, 1989 – as políticas públicas que inspiraram um país (e o mundo também)”, o livro tem texto de apresentação (orelha) da própria Telma de Souza, e prefácio do médico e professor Ubiratan de Paula, que foi chefe de gabinete de Capistrano.
Assista o bate-papo de lançamento.
Um bate-papo virtual promovido pela editora no dia 26 de fevereiro marcou o lançamento. Além do autor e de Telma de Souza, participaram do evento o vereador de São Paulo Eduardo Suplicy, o deputado estadual paulista Paulo Fiorilo e o jornalista Oswaldo de Mello, que foi editor do “D.O. Urgente”, jornal de comunicação pública criado na gestão Telma e que circulou até 2017.
“O livro traz recordações sobre os bons exemplos que Telma e David Capistrano deram para a população brasileira. ‘Santos, 1989’ merece ser lido por toda a população; em especial – pelos exemplos formidáveis das administrações do PT da cidade -, merece ser lido pelos nossos filiados, do PT”, declarou Suplicy, no bate-papo de lançamento.
O deputado Paulo Fiorilo enfatiza a importância do livro em resgatar o legado dos dois governos. “Ao ler o livro, a gente vai comparando o que foi o governo da Telma, o que foi o governo do David, com o que foi o nosso governo [na cidade de São Paulo] na época, de Luíza Erundina. Foram governos que têm uma muita importância muito grande para o modo petista de governar”, afirmou o parlamentar.
Lutas
A obra relembra, por exemplo, o enfrentamento da epidemia de aids, processo marcado por ações que, anos depois, se tornariam políticas públicas federais. Ainda na área de saúde, o livro aborda como a intervenção na Casa de Saúde Anchieta foi o marco inicial para a humanização da saúde mental no Brasil, em modelo até hoje tido como referência no mundo.
O “Todo Criança na Escola” – renda mínima a famílias para promover a universalização do ensino e o combate à evasão – é outro programa fruto daquele período em Santos, mencionado no livro, e cuja filosofia norteou, anos depois, o Bolsa Família. A erradicação dos cortiços, por meio da locação social (instrumento que também passou a ser adotado por administrações de outros municípios) , também é lembrada.
“Santos, 1989” conta ainda como o transporte coletivo passou a ser tratado como um direito social, e não um negócio. Diante do locaute promovido pela empresa privada concessionária de linhas, a Prefeitura encampou os serviços e implantou a tarifa zero aos domingos. Foram medidas que, apesar da forte pressão enfrentada, hoje se mostram como pioneiras: anos depois, em 2015, uma emenda constitucional tornou oficialmente o transporte como direito social e a tarifa zero agora é pauta até entre grupos políticos mais conservadores.
O modelo de comunicação pública de prestação de serviços e cidadania, representado pelo D.O. Urgente; a despoluição das praias; a ampliação de equipamentos públicos de cultura (como a criação do cinema de arte, da gibiteca e da biblioteca na orla; e ainda, de bibliotecas em bairros, entre outros), de esportes (a escolinha de surfe e a pistas de skate da Praça Palmares e Praça da Paz Universal) são outros legados resgatados.
Linguagem
Não se trata, contudo, de inventário de obras e ações, ou um relatório de prestação de contas. O livro mescla memórias do autor (à época, adolescente) com o rigor jornalístico. Há entrevistas com personagens do período (como a ex-prefeita Telma de Souza, o ex-vice-prefeito Sérgio Sérvulo da Cunha e jornalistas que conduziram o D.O. Urgente e noticiavam os fatos), manifestações de fontes diversas à época (entre lideranças, personalidades e o cidadão comum) e dados diversos.
O objetivo, segundo o autor, foi o de recuperar a memória daquela fase, para que atuais e futuras gerações identifiquem que políticas e serviços públicos são frutos, principalmente, de concepções do modo de governar.
Serviço
O livro pode ser adquirido por meio deste endereço: https://www.alamedaeditorial.com.br/historia/santos-1989-de-wagner-de-alcantara-aragao.
Da Redação