Acompanhei o presidente Lula como médico da sua comitiva durante toda a sua travessia no estado do Ceará. Depois da solicitação na noite anterior, compareci ao quarto do presidente às 8h da manhã acompanhado da médica do MST.
Entrei no quarto e meu coração estava muito acelerado, senti minhas mãos trêmulas e minhas pernas bambas. Olhei pra ele, ele abriu um sorriso, o quarto estava iluminado com a sua presença; sim, ele estava muito feliz com o resultado da caravana até aquele momento, apesar das constantes falhas na voz, ele estava feliz, era visível, era transparente e verdadeiro o que ele sentia.
Sentamos todos numa mesa no meio do quarto, com quatro cadeiras milimetricamente dispostas em volta daquele cômodo. Sem pensar muito no que dizer, eu disse: “presidente, eu estou em choque, pois eu estou diante da figura histórica mais importante do país”.
Ele olhou pra mim, sorriu e disse: “Que nada! Eu sou só um homem do sertão que foi pra São Paulo num pau de arara em busca de um sonho!”.
Após essas breves palavras que tocaram meu coração, a médica que me acompanhava perguntou como ele tinha passado a noite, se a garganta estava melhor…
Após outras breves perguntas sobre a saúde dele, eu iniciei um exame físico: auscultei seu coração, auscultei o seu pulmão, vi sua pressão, sua frequência cardíaca, sua glicemia e sua oxigenação do sangue. Estava tudo incrivelmente dentro dos conformes, apesar dos seus 71 anos.
Terminamos a avaliação clínica e ele começou a puxar conversa comigo, perguntou de onde eu era, se eu trabalhava no sistema público ou privado, quantas filhas eu tinha…
E muitas outras perguntas de ordem muito pessoal e a cada pergunta que ele fazia, eu me perguntava por que um homem da sua magnitude estava me fazendo tantas perguntas – esse foi um questionamento que ele me respondeu minutos depois sem que eu perguntasse (ele disse que antes de iniciar uma conversa, ele precisava conhecer a história de vida daquela pessoa pois, numa conversa, ele gostava de ver o interlocutor com os olhos dele!).
Depois de me desarmar por completo e conseguir se conectar com as coisas mais íntimas da minha vida, ele começou a falar de política e da sua forma de ver o mundo e que era necessário promover mudanças muito profundas na nossa sociedade para acabar com síndrome da casa grande e que era necessário um certo tempo até as pessoas mudarem culturalmente e começarem a olhar pro mundo sob uma nova ótica, onde todos servissem ao bem comum, sem individualismos e mesquinharias.
E depois de falar durante quase uma hora, ele nos olha e diz: “Bom, gente, eu acho que eu já tomei bastante tempo de vocês”.
Nos levantamos, eu olhei pra sua mão que ajeitava a barba e sem conter o ímpeto da fala, pego sua mão, digo que era uma honra estar ali naquele momento e dou um beijo na sua mão, prontamente ele puxa a minha cabeça e me dá um beijo no rosto.
Mas antes de nos despedirmos para cair na estrada, eu falo: “Presidente, eu posso tirar uma foto com o senhor? Pode ser naquele quadro com aqueles cactos?”. E ele: “Companheiro, já vi que você não entende de planta! Aquilo é um pé de palma. Vamos tirar a foto”. E tiramos essa foto linda…
Sim, foi amor a primeira consulta, foi amor e dava pra ver nos meus olhos! O Lula é um ser humano lindo, carinhoso, atencioso e sobretudo empático! Ele olha pra gente como se estivesse olhando para nossa alma, ele é sincero e verdadeiro nas palavras, por isso, ele comove tanto as multidões.
Ele não faz tipo, ele é só um sertanejo que foi do sertão de Pernambuco para São Paulo em busca de um sonho… Ele é só um filho do Brasil e muito provavelmente a nossa última esperança por dias melhores!
* Luis Henrique Correia Lima de Oliveira é médico