O Brasil tem um imenso potencial agrícola, capaz de gerar riquezas e ao mesmo tempo alimentar toda a população. Mas, para isso, é preciso que haja um governo que apoie tanto o agronegócio quanto o pequeno e médio produtor, e saiba se relacionar de forma respeitosa com os principais parceiros comerciais do país, como a China. Foi o que afirmou Lula, nesta quinta-feira (3), em entrevista à RDR – Rede de Rádios Paraná.
“Eu sei do esforço que nós fizemos para ocupar o mercado chinês, e hoje eu fico feliz de saber que a China é a maior consumidora dos produtos agrícolas brasileiros. É para lá que nós vendemos mais e é por isso que temos de tratar os chineses com respeito, porque no dia em que os chineses pararem de comprar, nós vamos ter dificuldade”, disse o ex-presidente.
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Ao mesmo tempo em que se preocupa com as exportações, o governo deve ficar atendo ao abastecimento interno, ressaltou Lula. “O agronegócio e o pequeno produtor, cada um tem uma função extraordinária. O agronegócio exporta e o pequeno produtor é responsável por quase 70% do alimento que chega à nossa mesa. Este precisa ser valorizado, receber ajuda e ter incentivo”, explicou Lula. “A agricultura, seja grande, média ou pequena, tem um valor inestimável para o desenvolvimento do Brasil e nós precisamos cuidar disso com muito carinho”, completou.
Jair Bolsonaro, entretanto, não faz nenhuma das duas coisas. Permitiu a volta da fome, ao tirar apoio dos pequenos produtores e abandonar a política de estoque de alimentos, que nos governos Lula e Dilma ajudava a regular o preço da comida, e entra em conflito constante com parceiros comerciais importantes para o Brasil.
Para Lula, Bolsonaro é reflexo de uma elite nacional que não enxerga o restante do mundo, e apensas olha para os Estados Unidos e a Europa com um complexo de inferioridade.
“Temos uma elite que acorda olhando para os Estados Unidos e Europa, não vê África nem América Latina. É uma elite com complexo de vira-lata. Hoje, nós exportamos para a China três, quatro vezes mais do que para os Estados Unidos, mas a elite fica esperando que os americanos façam alguma coisa por nós. Não vão fazer, porque não querem concorrência aqui na América do Sul, não querem que o Brasil seja protagonista, tenha influência. E eu quero uma relação internacional em que o Brasil respeite todo mundo e todo mundo respeite o Brasil.”
Alto custo da energia e dos combustíveis
Além disso tudo, Bolsonaro ainda prejudica o país aumentando os custos de energia e dos combustíveis, o que impacta no aumento de preço de tudo que é produzido no país, inclusive os alimentos. Lula lembrou que cerca de 40% da inflação é causada por áreas que o governo, se fosse soberano, poderia regular. Mas Bolsonaro prefere desmontar a infraestrutra elétrica e a indústria de óleo e gás e deixar a conta de luz nas alturas e dolarizar o preço dos combustíveis.
“Não é posssível que este país não goste de si, que a gente não tenha um governo que não goste do Brasil. Ele fala pátria amada para quem? Não é para o povo brasileiro. Porque do trabalhador de fábrica até o motorista de aplicativo e o caminhoneiro, o povo está abandonado”, denunciou Lula.
Orçamento secreto e exclusão de prefeitos
Para o ex-presidente, o país precisa se livrar do governo Bolsonaro e dar início a um nova estratégia de crescimento. “Nós queremos fazer um novo programa de desenvolvimento, que leve em conta o que os governadores têm de obra prioritária no seu estado, o que os prefeitos têm de prioridade.”
Segundo Lula, o atual governo cortou investimentos e, pior, entregou a elaborando e execução do orçamento que sobra ao Congresso Nacional, dando, via orçamento secreto, um poder exagerado aos deputados.
“Se o prefeito não tem um deputado que leva verba para ele, ele não recebe verba. Vira refém do deputado. Esse orçamento secreto é uma forma muito grave, muito violenta, de extorquir prefeitos e extorquir a sociedade. Se eu disputar e ganhar as eleições, em janeiro vou convocar uma reunião com todos os governadores e, depois, vou fazer reuniões regionais com prefeitos, para que a gente discuta uma nova relação entre os entes federados para que os prefeitos tenham direitos sem ficar devendo favor a ninguém”, disse Lula, lembrando que em seus governos os prefeitos tinham canais de atendimento tanto na Casa Civil quanto aos superintendências da Caixa Econômica Federal.
Da Redação