Em entrevista ao jornal francês Libération, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva demonstrou confiança de que o povo brasileiro fará com que o país supere o momento de crise econômica, social e política e colocará fim aos arroubos antidemocráticos de Jair Bolsonaro. “Estou certo que o povo brasileiro se encarregará de acabar com esta era de incertezas para restaurar a plenitude democrática”, disse Lula.
A capa da edição impressa do jornal, que chegou às bancas francesas nesta quinta-feira (7), é ocupada por uma grande foto de Lula ao lado da frase “Bolsonaro vai perder”. “Estou convencido da capacidade de nossas instituições. O Bolsonaro perderá e deixará o poder, como deve ser. Então, sem dúvida, ele terá que responder aos tribunais por seus atos arbitrários”, diz Lula na entrevista à correspondente Chantal Rayes.
O ex-presidente afirmou que o atual mandatário “não está em posição de desferir um golpe” e não tem credibilidade junto aos brasileiros por “incapacidade política e psicológica”. “Bolsonaro não é uma pessoa civilizada. Ele não gosta de pobres, nem de indígenas, nem de mulheres, nem de LGBT, nem de sindicatos, nem de democracia.”
Bolsa-família
Ao longo da entrevista, Lula pôde comentar uma das políticas adotadas por seu governo de maior repercussão internacional: o Bolsa Família.
“Não foi fácil implantar o Bolsa Família. Nos acusavam de criar vagabundos que não iam querer mais trabalhar. As críticas terminaram com o reconhecimento internacional desta política redistributiva, adotada depois por vários países pobres”, contou o ex-presidente.
Lula afirmou que as contrapartidas exigidas dos beneficiários — crianças vacinadas e matriculadas na escola — foram a chave do sucesso do programa. E ainda refletiu: “O Bolsa Famíliia era para ser uma medida de transição até a erradicação da miséria. Mas dado o rumo das coisas, e não só no Brasil, acho que mais cedo ou mais tarde teremos que adotar uma renda universal para aqueles que a nova economia expulsou do mercado de trabalho”.
Questionado sobre os anúncios do governo federal de mudanças nos valores do benefício com vistas a ganhar popularidade eleitoral, Lula diz que isso não enganará ninguém. “Como fui eu quem criou o Bolsa Família, o presidente quer mudar o nome do programa na esperança de convencer as pessoas a votar nele. Mas o povo é inteligente e não vai se deixar enganar”.
Reconstruir a política externa
Questionado sobre o atual momento da política externa brasileira, Lula lembrou que o país sempre manteve uma forte tradição na diplomacia, que Bolsonaro “jogou no lixo”.
“Tendo olhos apenas para Trump, ele falou mal da China, Rússia, Argentina, Bolívia, Chile … Ele até ofendeu pessoalmente Brigitte Macron [primeira-dama francesa]”, lembrou o ex-presidente.
Para Lula, a reconstrução da imagem do Brasil no exterior é um dos desafios para quem vier a governar o país.
Do site lula.com.br