No discurso de encerramento do maior encontro empresarial da história entre brasileiros e colombianos ocorrido nesta quarta-feira (17) em Bogotá, o presidente Lula fez um forte apelo pela integração da América do Sul e lançou o desafio de construir uma relação estratégica entre Brasil e Colômbia.
“Minha visita representa a renovação de uma parceria fundamental para o futuro da América do Sul. Vim para fazer um desafio: depende de nós construir uma parceria estratégica entre Brasil e Colômbia. O que falta? Falta decisão política”, reconheceu Lula.
“O Brasil vai tomar a iniciativa de conversar com nossos vizinhos, não querendo hegemonia. Queremos construir parcerias, oportunidades para todos, uma política de ganha-ganha. Política boa é uma via de duas mãos”, declarou Lula ao final do Fórum Empresarial Brasil Colômbia promovido pela Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil), que reuniu mais de 500 empresários brasileiros e colombianos.
Em visita à Colômbia desde terça-feira (16) a convite do presidente Gustavo Petro, Lula sugeriu a criação de um banco da América do Sul.
“Um banco para afinar o desenvolvimento porque não é possível a gente ficar correndo atrás do Banco Mundial toda hora. Precisamos recuperar a integração da América do Sul porque a gente nunca esteve tão separado como agora”, alertou, ao se declarar totalmente aberto para tirar todos os obstáculos e destravar toda a burocracia que atrapalha os investimentos e negócios entre os dois países.
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“Nós precisamos assumir a responsabilidade de definir qual América do Sul nós queremos e qual política de integração nós queremos. A nossa querida América do Sul precisa de uma chance. Precisamos definir o tamanho que a gente quer ter e a minha proposta aos empresários colombianos e brasileiros é: vamos parar de ter medo um dos outros, vamos ter em conta que Brasil e Colômbia têm condições de triplicar o fluxo da balança comercial, triplicar!”, ressaltou.
América do Sul faz parte do Sul Global, diz Lula
O presidente Lula enfatizou que a América do Sul não é mais um continente pobre e agora faz parte do Sul Global, o que dá uma dimensão de grandeza para a região que, quanto mais forte e unida, mais terá chance de ser respeitada pelas grandes potências.
“Não é subserviência que faz a gente crescer. O que faz a gente crescer, como diria o Celso Amorim, é uma posição ativa e altiva, para que a gente se faça respeitar no mundo político e no mundo dos negócios”, salientou, ao lembrar que por muitos séculos o Brasil ficou de costas para a América do Sul, não olhava para a África e se voltava apenas para a Europa e Estados Unidos.
“Falta só a gente acreditar para que sejamos melhores do que nós somos hoje”, incentivou Lula, ao revelar que, quando assumiu a presidência em 2003, o fluxo de comércio do Brasil para toda a América do Sul era menos de R$ 15 bilhões e hoje está em R$ 42 bilhões.
“Mas poderia ser R$ 60 bilhões se nós não tivéssemos tanto medo de nós mesmos e acreditássemos tanto nos outros. O que poderemos fazer juntos?”, indagou Lula, ao fazer outras perguntas sobre o que falta para ambos países serem “parceiros virtuosos” não apenas na questão ambiental da Amazônia, mas na questão do desenvolvimento econômico, da parceria entre as universidades, científica e tecnológica e na construção de políticas sociais.
Salto nos negócios para além do setor energético
Lula disse que teve a satisfação de inaugurar, há 20 anos, a primeira rodada de negócios Brasil Colômbia. À época, o comércio bilateral era de apenas US$ 847milhões e hoje é de mais de US$ 6 bilhões, “muito aquém daquilo que Brasil e Colômbia podem fazer”, ressaltou Lula ao sublinhar a diversificação dos segmentos brasileiros na Colômbia: agroindustrial, automotivo, químico, técnico e farmacêutico, num total de mais de 60 empresas brasileiras, sendo 20 de tecnologia de informação e comunicação.
Porém, esses avanços podem ser muito maiores. “Os dois países somam 255 milhões de consumidores e a vocação para unir o Caribe, o Pacífico e a Amazônia torna a Colômbia um sócio indispensável”, ressaltou.
Brasil e Colômbia compartilham a maior floresta tropical do mundo, uma grande reserva de biodiversidade em que é preciso fomentar a bioeconomia. “Isso pressupõe o uso adequado desses recursos em harmonia com a natureza e com os povos da floresta, como pactuamos na Cúpula da Amazônia em agosto passado”, lembrou Lula, ao concordar com a fala de Gustavo Petro de que a América do Sul pode ser a Arábia Saudita da energia limpa.
“O presidente Petro tem toda razão. A maior parte do fluxo de investimento entre nós já se concentra no setor energético”, reconheceu, ao perguntar sobre o que os empresários esperam de um grande acordo entre Brasil e Colômbia.
Lula apontou que é necessário garantir estabilidade jurídica, estabilidade fiscal, econômica e social e observou que o crescimento econômico dos países e dos empresários tem que estar associado ao crescimento econômico daqueles que detêm a força de trabalho.
Futuro está na América do Sul
As discussões sobre biodiversidade, transição energética e sobre o futuro da descarbonização no mundo obrigatoriamente passam pela América do Sul. “Quem quiser discutir isso vai ter que ver Colômbia e Brasil”, destacou Lula, pois ambos países compartilham a maior floresta tropical do mundo.
“A transição energética é uma oportunidade extraordinária e também a questão de exploração de minerais são uma oportunidade extraordinária para trazer os empresários para produzir aqui nos nossos países”, afirmou Lula, ao dizer que o Brasil inclusive tem a responsabilidade de financiar obras de engenharia para o desenvolvimento dos países da América do Sul.
“A minha proposta é trabalhar um pouco mais, colocar nossas universidades para conversar, colocar a Fiocruz e o Ministério da Saúde para conversar mais com os institutos da Colômbia. O Brasil está disposto a compartilhar, a fazer com parcerias, os bancos estão dispostos a fazer parceria”, anunciou Lula ao pedir que os empresários se associem para investir na América do Sul.
“Não sei quando a Colômbia vai ter a chance de eleger um presidente compromissado com o povo pobre, com o povo trabalhador, e respeitoso com a classe empresarial como o Gustavo Petro”, sublinhou o presidente Lula em sua segunda visita à Colômbia no terceiro mandato presidencial. A primeira ocorreu em julho de 2023, quando esteve com Petro em Leticia, cidade amazônica na fronteira entre os dois países, para um fórum sobre desenvolvimento sustentável da floresta.
Momento histórico
O presidente da ApexBrasil, Jorge Viana, sublinhou o caráter estratégico do evento para as relações entre Brasil e Colômbia, duas das três maiores economias do continente. “Estamos vivendo aqui um momento histórico, que só é possível pelo entendimento dos presidentes Petro e Lula, a Colômbia apresenta mais de 1500 oportunidades para exportações brasileiras”, disse Viana em publicação da Apex.
A Colômbia é o terceiro principal parceiro do Brasil na região, com uma corrente de comércio que, em 2023, chegou a US$ 6,1 bilhões, patamar abaixo do potencial das relações entre economias do porte de Brasil e Colômbia, segundo a ApexBrasil. O Brasil é o terceiro maior parceiro da Colômbia, com exportações com trajetória de crescimento desde 2003. Em 2023 o comércio bilateral foi mais de US$ 6 bilhões, sendo US$ 3,7 bilhões do Brasil e US$ 2,3 bilhões da Colômbia.
Da Redação