Vinte dias, 4.300 quilômetros, 55 municípios. A Caravana Lula pelo Brasil concluiu seu roteiro pelo Nordeste (veja no mapa) na última terça-feira (5), em um grande ato público em São Luís (MA), celebrando um resultado ainda mais profícuo do que apontavam os prognósticos mais otimistas: o Brasil está vivo, tem solução e tem futuro, graças a sua gente lutadora e que sabe o que quer.
Luiz Inácio Lula da Silva partiu em caravana pelos nove estados do Nordeste no dia 17 de agosto. Queria fazer um diagnóstico, ver de perto os resultados do desmonte das políticas públicas que vem sendo impiedosamente levado a cabo pelo governo que emergiu do golpe parlamentar de 2016. “Quero levar esperanças às pessoas”, explicava o ex-presidente, antes de iniciar a jornada.
“Quando começamos a organizar esta Caravana, sabíamos que os oito anos de mandato de Lula deixaram marcas profundas de gratidão e carinho no Nordeste”, lembra Paulo Okamotto, presidente do Instituto Lula. “Foi uma jornada carregada de força, carinho e emoção, a evidenciar o prestígio e a confiança que o ex-presidente mantém entre uma parcela significativa do nosso povo”.
Sonho e esperança
Pela recepção sempre emocionada que encontrou pelo caminho, é certo que Lula traz de volta consigo muito mais esperança do que quis levar. “Queria que todo governante desse país fizesse uma caravana. Que tivessem coragem de conversar com o povo, abraçar pessoas com cheiro de poeira, cheiro de esperança e cheiro de sonho”, afirmou o ex-presidente diante da praça lotada, em São Luís.
Não há ilusões: os nordestinos sabem que estão perdendo o que conquistaram em 13 anos de governos petistas. Mas também sabem o caminho para virar o jogo. Para garantir a sobrevivência de programas como Minha Casa, Minha Vida, Luz para Todos, Transposição do Rio São Francisco, a ampliação e interiorização da rede federal de ensino (universidades e institutos). “O projeto que foi abortado com os golpistas de 2016 pode ser derrotado”, resume o senador José Pimentel (PT-CE).
A conexão imediata e profunda de Lula com as pessoas mais simples não se explica apenas por sua origem humilde. “A cabeça pensa onde os pés pisam”, lembra a presidenta nacional do PT, senadora Gleisi Hoffmann (PR) — citando uma das máximas favoritas do ex-presidente, para quem é preciso manter a conexão permanente com a realidade que se pretende transformar. “Lula dá importância ao povo, continua pisando no mesmo chão que o povo pisa. Vai lá e fala com as pessoas, quer saber o que elas pensam, sentem”, avalia a senadora.
Energia rara
Ao longo de todo o trajeto, iniciado em Salvador (BA), mesmo os militantes mais experientes se surpreendiam com a relação direta, sem intermediários, que o povo e Lula conseguem estabelecer. O Líder do PT no Senado, Lindbergh Farias (RJ), está longe de ser calouro em grandes mobilizações — foi o presidente da União Nacional dos Estudantes no grande movimento dos caras-pintadas, que derrubou o presidente Collor, em 1992. Mas mesmo ele se confessa impressionado com a energia que brota do encontro do ex-presidente com a população.
Lindbergh participou da Caravana Lula Pelo Brasil em três finais de semana, acompanhando as atividades na Bahia, Pernambuco, Paraíba e Piauí. “É impressionante a relação de Lula com o povo e do povo com Lula. Ele sempre teve uma popularidade muito grande. Só que o que eu vi no Nordeste, desta vez, foi algo diferente, ainda mais forte. Acho que o povo está sentindo a perda de direitos, o desemprego aumentando, a sua situação de vida piorando, e as pessoas olham para o Lula agora em um misto de esperança e confiança. É mais do que esperança, porque ele já fez”, relata o senador.
Desde a primeira atividade da Caravana, nas obras do Metrô de Salvador às inúmeras paradas fora da agenda, à beira da estrada, por exigência das multidões que aguardavam Lula, todos os encontros tinham uma força que não se vê em qualquer lugar, conta Lindbergh. “Vi os olhos marejados dos trabalhadores que vinham dar um abraço apertado no presidente Lula. Vi as pessoas das cidades no meio do trajeto irem para a beira da estrada e pararem o ônibus para falar com Lula”, lembra o senador, sem disfarçar a emoção. “Lula se alimenta do contato com o povo”.
Paixão e discernimento
Aos 71 anos de idade, Lula demonstra uma vitalidade surpreendente no meio de uma agenda diária que só tem hora para começar. Companheiro de jornada do ex-presidente desde a fundação do PT, há 37 anos, o senador Humberto Costa (PT-PE) tem a proximidade suficiente para perceber os sinais de cansaço por trás da animação de Lula, como apontou no palanque onde discursava em Ouricuri (PE). Mas sabe que não adianta recomendar um ritmo mais pausado: “Ele é um guerreiro”, resume Humberto.
O senador pernambucano ressalta que boa parte da “mágica” que rege a relação de Lula com as multidões tem muito do discernimento de cada indivíduo que sai às ruas para abraçá-lo. Tem paixão, sim. Mas tem também a percepção de um projeto completamente diferente dos que relegaram a região ao esquecimento ao longo de 500 anos.
“Lula e Dilma colocaram o Nordeste como prioridade das políticas públicas, algo que jamais havia acontecido na história do Brasil. Seus governos mudaram a realidade da Região. Humberto cita programas como a Transposição do São Francisco, que está garantindo água para diversas áreas nordestinas, o Bolsa Estiagem, a construção de mais de 1,1 milhão de cisternas. “Foram essas ações que garantiram que nenhum nordestino morresse mais de fome num país tão rico como o nosso”.
Do PT no Senado