Partido dos Trabalhadores

Lula: “Garanto que o salário mínimo não será mexido, enquanto for presidente da República”

Ao Uol, presidente também reafirma a solidez da economia do país, o controle da inflação, a responsabilidade fiscal e rejeita pressões por cortes em saúde e educação

Ricardo Stuckert

Lula, na entrevista "Eu não posso penalizar a pessoa que ganha menos"

Entrevistado pelo site Uol nesta quarta-feira (26), o presidente Lula reafirmou a solidez da economia brasileira, o controle da inflação e a responsabilidade fiscal do governo. Ele rejeitou as pressões contra o ganho real do salário mínimo e por cortes na saúde, na educação e em benefícios como a aposentadoria. Afirmou que faz política de inclusão social para permitir que “as pessoas tenham a oportunidade de crescer”, defendendo a repartição das riquezas produzidas no país entre todos os brasileiros.

“Eu garanto que o salário mínimo não será mexido, enquanto eu for presidente da República”, assegurou, antes de sublinhar que a retomada da política de ganho real dessa remuneração é simplesmente o cumprimento do que determina a Constituição.

“Você tem sempre que colocar a reposição inflacionária porque é para manter o poder aquisitivo. E nós damos uma média do crescimento do PIB dos últimos dois anos. O crescimento do PIB é exatamente para isso, o crescimento do PIB é para você distribuir entre os 213 milhões de brasileiros. E eu não posso penalizar a pessoa que ganha menos. Eu não posso penalizar”, enfatizou.

Lula também defendeu a valorização dos salários dos trabalhadores que ganham acima do salário mínimo. “Quando o patrão de vocês dá o aumento do salário para vocês, é custo ou é investimento? Eu acho que é investimento, esse é o dado. Porque quando o patrão dá o aumento para você, ele está dando aumento porque ele acha que você merece, porque você teve produtividade e ele quer que você esteja mais feliz no trabalho e produza mais ainda”, explicou.

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Desvinculação

O presidente foi perguntado também se pretende desvincular do salário mínimo o Benefício de Prestação Continuada (BPC) e as pensões. Ele descartou essa possilidade e reafirmou que não vê esses benefícios como gastos, mas uma forma de dar uma vida digna aos cidadãos: “Pelo amor de Deus. A palavra salário mínimo é o mínimo que uma pessoa precisa para sobreviver. Ora, se eu acho que vou resolver o problema da economia brasileira apertando o mínimo do mínimo, eu estou desgraçado”.

“Tem uma coisa que eu aprendi, que eu sempre reforço: muito dinheiro na mão de poucos significa pobreza, significa desnutrição, significa analfabetismo, significa desemprego. Agora, pouco dinheiro na mão de muitos significa aumento de renda, significa mais consumo, significa mais desenvolvimento, significa mais emprego, mais educação, mais saúde”, acrescentou.

Lula prosseguiu: “É preciso garantir que todas as pessoas tenham condições de viver dignamente. Por isso nós temos que tentar repartir o pão de cada dia em igualdade de condições. Você acha que eu quero que o empresário tenha prejuízo? Eu não sou doido. Eu não sou doido, porque se ele tem prejuízo eu vou perder meu emprego. Eu quero que o empresário tenha lucro. Mas eu quero que ele tenha a cabeça como teve o [empresário] Henry Ford, quando disse: ‘Eu quero que meus trabalhadores ganhem bem para eles poderem comprar os produtos que eles fabricam’”.

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Desoneração

Outro tema abordado na entrevista foi a discussão em torno da desoneração de setores da economia. Nesse ponto, Lula criticou o fato de, hoje, no Brasil, essa renúncia fiscal beneficiar apenas o empresariado, em detrimento dos trabalhadores. O presidente também criticou os que defendem a desoneração e, ao mesmo tempo, cobram que o governo reduza os investimentos públicos. “Olha, como é que a gente pode falar em gastos se a gente está abrindo mão de receber uma quantidade enorme de recursos que os empresários têm que pagar?”, questionou. 

“A gente tem que fazer política de desoneração quando a gente quer fortalecer o setor por um determinado tempo, quando a gente quer retomar a rapidez, como eu fiz com o setor mobilístico em 2008”, disse. 

Ajuste fiscal

Lula também foi perguntado sobre as preocupações do mercado a respeito de um suposto gasto excessivo do governo, e, com base em números, demonstrou que isso não passa de uma crise fabricada para atacar os investimentos públicos.

‘Esse tema sempre foi um tema recorrente, sempre. É engraçado, porque esse tema é mais forte no Brasil do que em qualquer outro país do mundo. Aqui, no Brasil, vira e mexe as capas de jornais, as manchetes, as matérias, são sempre assim. O governo está gastando demais, a dívida pública está muito alta. O que não é verdade”, disse.

“Se você pegar a média dos países da OCDE, eles gastam 113% do PIB. Se você pegar os Estados Unidos, 123% do PIB. Se você pegar a China, 83%. Se pegar o Japão, é 237%. Se você pegar a França, é 112%, a Itália, 137%. Agora, o Brasil é, efetivamente, 74, 76%. Hoje está em 76%, que está muito aquém do que os outros países fazem”, afirmou. “O orçamento é um bolo de arrecadação, você tem que distribuí-lo”.

Lula disse ainda que o governo está fazendo uma análise, “sem levar em conta o nervosismo do mercado” sobre as despesas do governo, mas sim a necessidade de manter a política de investimentos.

“O problema não é que tem que cortar. O problema é saber se precisa, efetivamente, cortar. Ou se a gente precisa aumentar a arrecadação. Temos que fazer essa discussão”, disse, reafirmando a mesma responsabilidade que teve com as contas públicas nos seus dois governos anteriores.

“Não podemos gastar mais do que arrecadamos. Eu sempre disse isso, e aprendi com a minha mãe. Isso vale para a economia do Brasil e para dentro de casa também. Só podemos contrair uma dívida para algo que seja um investimento que aumente nosso capital, nosso PIB”, afirmou.

 “Se você tiver investido na educação, não tem jeito, você tem que contratar professores, você tem que contratar funcionários, você precisa fazer laboratórios, você precisa fazer uma sala de aula, não tem jeito. Esse país ainda tem menos estudantes comparado à população, ao Chile e à Argentina. E isso porque nos nossos governos nós duplicamos o número de alunos na universidade. Então nós vamos continuar investindo em educação, nós vamos continuar investindo em saúde. Quanto custa um trabalhador doente? Quanto custa um trabalhador são?”, pontuou.

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Da Redação