“Este país não precisa ter fome. É o terceiro maior produtor de grãos do mundo, o maior produtor de proteína animal. Eu fico imaginando como alguém dorme tranquilo, come do bom e do melhor, sabendo que ao lado dele tem gente passando fome. Cadê o humanismo, a solidariedade, a fraternidade? Nós estamos virando algoritmo. Quando vamos voltar a ter sentimento, a pensar nos outros, a estender a mão para os outros?”
Foi com essas palavras que Lula se dirigiu a lideranças de movimentos sociais da Bahia, em seu primeiro compromisso no estado, aonde chegou na tarde desta quarta-feira (25) para cumprir a última etapa da viagem que ele e lideranças do PT realizam pelo Nordeste desde o dia 15. No encontro, que tinha como tema “Combater a Fome e Reconstruir o Brasil”, Lula agradeceu o apoio das entidades na luta para provar sua inocência e as convidou para, unidas, reerguer o país do desastre promovido por Jair Bolsonaro.
“O país só vai ser justo no dia em que o povo pobre não pedir favor para comer, quando recuperar seu direito de trabalhar com salário e regras decentes. (…) E ficou insuportável ver a diferença entre aqueles que têm e os que não tem. O que nós vamos fazer? Ficar quieto? Em algum momento, nós vamos ter que ir para a rua. Ainda não tenho convidado ato de rua porque não quero ser irresponsável, mas vocês não sabem a vontade que eu tenho de fazer uma manifestação na praça Castro Alves”, discursou.
Antes de falar, Lula ouviu histórias de jovens que viram a vida deles e de suas famílias serem transformadas pelos programas sociais que criou e recebeu as reivindicações de entidades organizadas. “Damos agora, de fato, a largada para reconstruir o país e minimizar a fome que voltou a assolar esse Brasil. Nosso povo morre. Morre porque perde emprego, as indústrias fecharam, nossas matas pegam fogo, não há mais apoio à reforma agrária, nossos jovens não conseguem mais estudar. Não dá para ver o país sendo destruído e não tomar posição”, conclamou Madalena Firmo, presidenta da CUT-BA.
O cacique Emanuel, representando os povos originários, lembrou que milhares de indígenas lutam hoje em Brasília contra o Marco Temporal e recordou: “Quando Lula era presidente não precisava de manifestação, porque o governo abria agenda para nos receber e nos ouvir”.
Fala semelhante fez Cícero Félix, representando os movimentos do campo, lembrando que o apoio à agricultura familiar no país deixou de existir após o golpe contra Dilma Rousseff. “O Brasil de hoje é o Brasil da fome e da exclusão, e precisamos transformá-lo no Brasil da inclusão e do direito à alimentação garantido. Para isso, é preciso exercer a pedagogia do cuidado, do cuidado com a terra, com a água, com os biomas, com os povos originários, com os povos pretos, com as mulheres, com os jovens LGBTQIA+. E para sair da fome é preciso fazer o que já provamos ser possível: valorizar a agricultura familiar camponesa.”
Lula unificador
Também presente no encontro, o governador da Bahia, Rui Costa (PT), pregou o diálogo amoroso para vencer o ódio. “É importante que posamos dialogar com o povo brasileiro com afeto, com amor, com alegria, para substituir o ódio deles. E o ódio não é ao PT, ao Lula. O ódio é a maldita herança escravocrata que não sai do coração e da alma de alguns. A herança escravocrata que perpetua o racismo, que é incapaz de se orgulhar da filha de uma empregada doméstica, de um trabalhador rural, que chega à universidade, uma herança escravocrata que se incomoda de construir casa para pobre”.
Para os senadores Jaques Wagner (PT-BA) e Otto Alencar (PSD-BA), Lula é a força capaz de unir o país. “Lula livre e inocente é a pacificação do Brasil”, resumiu Alencar. “As pessoas querem ver este país harmonizado e não conheço outro político com a capacidade de conciliação de Luiz Inácio Lula da Silva”, completou Wagner.
Da Redação