Emocionado, Lula disse nesta quarta-feira (19), em São Paulo, durante sua primeira coletiva de imprensa do ano, que só será candidato à Presidência da República se for para devolver à população uma vida digna, o que passa, necessariamente, pelo resgate da democracia real no país.
“O Brasil de 2023 será um país muito mais destruído do que o de 2003”, alertou aos jornalistas dos veículos independentes convidados para o encontro. “Vai precisar de muita conversa, de muito mais paciência, de muito mais habilidade para reconstruir. Precisa de inteligência política, de construir um grupo de pessoas que querem remar junto com você”, completou (assista à integra no fim da matéria).
O ex-presidente ressaltou que sua preocupação atual é garantir as condições necessárias para que, caso seja candidato e venha a ser eleito, consiga governar e implementar as mudanças necessárias. E, para alcançar esse objetivo, disse ter consciência de que é preciso construir alianças políticas.
“O povo quer mudança de verdade. O povo está com esperança e o povo sabe o que é viver bem. Nós temos que atender as aspirações da sociedade. Eu morei num quarto e cozinha com 13 pessoas. Eu tenho consciência do que o povo está passando. Então, eu não posso mentir, não posso ganhar e dizer ‘olha, não dá para fazer as coisas, desculpa, eu tenho que atender o mercado, atender a Faria Lima, preciso ter responsabilidade fiscal, manter o Teto de Gastos’. E o teto de comida, e o teto de emprego, e o teto de salário, e o teto de saúde? Quem vai devolver a este povo? Então, é esse cidadão, que acaba de ficar emocionado, que quer ser presidente, e se for, é para mudar, não é para continuar a mesmice”, afirmou.
Resgatar a democracia
Implementar as mudanças que tragam uma vida digna ao povo é, segundo Lula, o mesmo que resgatar a democracia. “A democracia não é um pacto de silêncio. A democracia é uma sociedade em evolução, em movimento, questionando e brigando, lutando, reivindicando, para que ela possa sempre aperfeiçoar a democracia e melhorar suas condições de vida”, definiu.
Na democracia, lembrou, o governo não deve servir, como o atual, apenas para “garantir dinheiro ao sistema financeiro”. “O sistema financeiro vai ter de aprender a, quando sentar com o presidente, não ficar discutindo apenas os seus interesses. Nós temos que estar preocupados com os milhões de brasileiros que estão dormindo na rua. Vamos ter de discutir por que a massa salarial tem caído tanto neste país e por que 74% das famílias estão endividadas”, disse. “Só tem uma razão para eu vir a ser candidato a presidente da República: para tentar provar que esse povo pode voltar a ser feliz”, completou.
O combate à desigualdade, disse Lula, deve estar no centro das preocupações do próximo governo, que precisa “colocar o pobre no orçamento e o rico, no importo de renda”. “Só pelo fato de eu ter dito que está na hora de o movimento sindical começar a ficar atento às mudanças trabalhistas que estão acontecendo na Espanha, foi uma gritaria. Por isso fomos o último país a abolir a escravidão. Essas pessoas não se dão conta de que não há democracia sólida se a sociedade não estiver bem.
O desafio, frisou, é grande, mas não impossível. “A gente vai precisar mudar muita coisa neste país. Temos que definir algumas coisas para dar mais sustentabilidade aos de baixo e exigir mais compromisso com o Brasil dos de cima. Parece difícil, mas, se a gente sentar para conversar e construir uma força política, (…) é possível a gente construir alguma coisa junto”, garantiu.
Da Redação