Partido dos Trabalhadores

Lula: “soberania é coisa sagrada. O Brasil pode ser grande, é só querer”

Em entrevista à ‘TV 247’, ex-presidente defende mobilização do PT em torno de um novo projeto de desenvolvimento do país diante da rendição do governo Bolsonaro ao mercado financeiro. “Quem pensa grande, fica grande. quem pensa pequeno, fica como Bolsonaro”. O ex-presidente também acusou Bolsonaro de facilitar a aquisição de armas para criar uma rede de milícia no país. “O povo quer tranquilidade, quer trabalhar. Quer carteira assinada e escola, não armas”

Ricardo Stuckert

Lula

O PT precisa ir para as ruas defender e tornar populares as ideias contidas no programa de transformação e reestruturação do Brasil da Fundação Perseu Abramo, insiste o ex-presidente Lula. Em entrevista à TV 247, nesta quarta-feira (24) Lula argumenta que só uma conscientização sobre processo de destruição em curso no país junto à população poderá mudar os rumos do Brasil. A ideia é colocar o debate na rua, ou como diz Lula, transformar o conteúdo dos estudos da Fundação Perseu Abramo em “conversa de bar”.

“O Brasil está ilhado, desmoralizado. Um país que teve Celso Amorim como chanceler, agora tem Ernesto [Araújo, ministro das Relações Exteriores]. Essa mediocridade é o povo brasileiro que tem que mudar”, sustenta o ex-presidente. Para isso, será necessária uma ampla mobilização na sociedade.

“Se voltarmos ao governo, o PT tem que ter consciência do seguinte: a soberania nacional é coisa sagrada”, ressalta Lula, para quem é necessário, acima de tudo, “tomar conta do povo”. “O Brasil pode ser grande, é só querer”, aposta o ex-presidente. “Quem pensa grande, fica grande. Quem pensa pequeno, fica como Bolsonaro”.

Para Lula, o atual presidente transformou o Brasil em pária mundial. “Um presidente que só fala bogabem, que só fala para milicianos. [Desse jeito] esse país não vai a lugar nenhum. Qual presidente estrangeiro que veio ao Brasil? Qual presidente quer receber Bolsonaro?”, questionou Lula.

Petrobras

O ex-presidente avalia que crise na Petrobras é resultado do desmonte das políticas voltadas para a população nos governos do PT, como a Lei de Partilha do pré-sal. “A gasolina já aumentou 34% e o diesel 27% só em 2021”, apontou Lula. “Não há sistema de transporte que suporte isso. E isso tem uma relação direta no aumento dos alimentos”, comparou Lula, que afirmou ainda que “o golpe foi feito pra isso”.

Lula lembrou dos investimentos do seu governo na empresa, em especial nas refinarias de Pernambuco, Ceará e Maranhão. “O Brasil não queria ser exportador de óleo cru, queria ser exportador de derivados, a gente queria uma indústria química forte, não queríamos ser importador de material petroquímico”, compara.

“Isso era o pensamento de um país grande, de um país líder na América Latina, com empresa na África, respeitado na Europa, com ascensão política forte nos BRICS, esse era o desejo, de fazer o Brasil protagonista internacional, que não fosse quintal dos EUA”, desabafa Lula.

Ele questionou a atual política de preços dos combustíveis. “Por que subordinar o preço de uma gasolina extraída no solo brasileiro, refinada dentro do Brasil, ao preço internacional? Porque os acionistas de Nova York querem, porque o mercado quer”, responde, argumentando que não é isso que caminhoneiros e consumidores querem.

Rede de milícias

Lula também acusou Bolsonaro de facilitar a aquisição de armas para criar uma rede de milícias no país. Indagado sobre a situação de caos social no Rio de Janeiro, Lula explicou que o povo não quer ver o brasileiro armado até os dentes. “O povo quer tranqüilidade, quer trabalhar. Quer carteira assinada e escola, não armas”.

Na entrevista, Lula explica as diferenças entre seu governo e o de Bolsonaro. “Eu aprovei o estatuto do desarmamento e o Bolsonaro faz o contrário. Quer voltar ao Velho Oeste”, lamenta.

“Dê emprego par o povo que ele não vai precisar roubar celular, que ele vai aprender a cuidar da sua família, vai fazer sua casinha, seu puxadinho, observou Lula. “Vamos dar emprego, vamos dar salário, vamos levar escolas, vamos dar educação e cultura. E vamos ver se a gente não vai diminuir a bandidagem e a violência nesse país”, desafiou.

Auxílio emergencial

Na avaliação de Lula, a retomada do auxílio emergencial é essencial e trata-se de uma solução temporária, desde que o Estado crie as condições para a geração de empregos.

“A verdade é que esse governo quer que o povo se dane”, define. “O povo que precisa comprar arroz que se dane. O povo que precisa comprar comida que se dane. Está chegando a hora dos partidos de esquerda darem um basta nisso. Temos que brigar cada vez mais”, afirma.

Vacinas contra Covid-19

Diante da inércia do governo e do atraso na execução do programa de imunização contra a Covid-19 no país, Lula defende que os governadores tomem a iniciativa de adquirir vacinas para imunizar a população em seus estados.

Para Lula, a incompetência do governo Bolsonaro é um entrave ao combate à pandemia. “No nosso governo, aplicamos 80 milhões de vacinas em menos de quatro meses. Esse governo não consegue sequer comprar vacinas”.

Lava Jato e interferência militar

Sobre o escândalo que desnudou a atuação ilegal do Juiz Sergio Moro e de Deltan Dallagnol nos processos fraudulentos contra Lula, o ex-presidente lembrou que as denúncias que vieram à tona recentemente estavam em sua defesa desde 2016. “Eu vejo as conversas desses procuradores vindo a público e penso que Deus existe. A verdade está vindo à tona”, comemora.

Do mesmo modo, Lula considera gravíssimas as revelações de que o ex-comandante do Exército Eduardo Villas Bôas pressionou o Supremo Tribunal Federal (STF) a recusar um habeas corpus que poderia ter impedido a prisão de Lula em 2018.

“É uma loucura inexplicável desse general, de alguns membros da Forças Armadas, que não tinham o direito de ter o comportamento que tiveram com o PT, com meu julgamento, com o processo eleitoral, é inexplicável”, diz Lula.

“Não tem explicação que sustente, a não ser um comportamento fascista de alguém que não tem nada de nacionalista, de alguém que não compreendeu o que foi o meu governo para as Forças Armadas brasileiras. Nunca, nem no governo militar, foram tratados com o respeito e a decência com que os tratei”.

Da Redação