Enquanto a decisão parcial do judiciário era tomada no TRF-4 de Porto Alegre sobre o processo injusto contra o ex-presidente Lula nesta quarta-feira (24), uma multidão se reunia na Praça da República, no centro de São Paulo.
Professores, estudantes, militantes de movimentos sociais e de sindicatos, representantes de diversos partidos políticos e cidadãos que defendem a democracia compareceram em peso. As cantoras Ana Cañas e Preta Rara também se apresentaram para animar a multidão.
Estiveram presentes lideranças do PT, como a presidenta do partido, Gleisi Hoffmann, a senadora Fátima Bezerra, o senador Lindbergh Farias, a deputada Maria do Rosário, os deputados Paulo Pimenta, Paulo Teixeira, Zeca Dirceu, Reginaldo Lopes, José Guimarães, Arlindo Chinaglia, Nilto Tatto, o vereador Eduardo Suplicy, entre outros.
Foram mais de 50 mil pessoas, lotando a região central da cidade. A divulgação da decisão de manter a condenação do ex-presidente nem de perto abalou os manifestantes, que estavam firmes no apoio a Lula.
O professor Luiz Carlos Seixas destacou que “o processo é todo ilegal, começa com uma denúncia sem fundamento, com um juiz em primeira instância que não deveria julgar o processo. Esse juiz produziu provas de maneira ilícita, cerceou o direito de defesa, produziu escutas ilegais e ele, na peça final, constrói uma narrativa própria sem provas para condenar o ex-presidente Lula.”
Ele acredita que a democracia é atacada desde 2016, com o golpe contra Dilma Rousseff, e que “o final é a condenação do Lula para retirá-lo da corrida presidencial porque a direita brasileira, as elites do país, não conseguem ganhar eleição no voto, então eles se utilizam de meios ilícitos para implementar um projeto.”
Para a jornalista Leila de Oliveira, a decisão do TRF4 abre um precedente perigoso para toda a população. “Quem apoia esse processo, quem endossa essa decisão, está endossando uma decisão contra si, é isso que a sociedade não entende. Nivela uma questão social por baixo, a questão da justiça por baixo.”
Ela ainda afirma que “é histórico no pior sentido da palavra. O recado é: se fizeram isso com o ex-presidente da república, um homem respeitado internacionalmente, o que mais pode ocorrer nesse país. Injustiça não favorece ninguém, o que atinge um ponto vai atingir outro.”
O trabalhador da indústria química Avilsom Ferreira afirmou que “é um judiciário vendido, é um julgamento totalmente parcial. Não foi apresentada prova nenhuma, como eles mesmos dizem que foi condenado por convicção, então realmente é um ato contra a democracia e contra a esquerda.”
Outro professor que estava no ato, Rafael, afirmou que foi dada uma sentença sem fundamento. “Quando a gente vê a imprensa divulgando um resultado antes do fim do que está acontecendo, a gente já tem a noção de que é algo predisposto. Traz um perigo muito grande, que é o Estado de Direito sendo implodido.”
Para ele, “condenar o Lula de alguma forma vai manchar a eleição. A gente já teve o golpe de 2016, que impediu que a pessoa eleita pelo voto chegasse ao fim do seu mandato. De alguma forma o povo será impedido de exercer a sua vontade. É uma eleição que fica manchada desde o início.”
Lula fala ao povo
O ex-presidente foi o último a falar na Praça da República, antes do ato seguir rumo à Avenida Paulista, onde terminou de maneira pacífica.
Ele começou afirmando que o ato era primeiramente em defesa da soberania nacional. “Eu nunca tive nenhuma ilusão com a decisão do Moro. Nem com a decisão dos desembargadores. Porque houve um pacto entre a imprensa e o poder judiciário para acabar com o PT”.
“Eles não suportavam mais o aumento da escolaridade. Eles não suportavam um programa que mandava 100 mil jovens para o exterior. Eles não suportavam mais o aumentos dos créditos para ajudar os mais pobres a comprar casa”, afirmou o ex-presidente.
Lula disse que aceita a decisão, mas não as mentiras contadas. “Eu não to preocupado se eu vou ser candidato a presidente ou não. Eu quero é que eles peçam desculpas pelas mentiras. Eu quero que ninguém fique preocupado apenas pelo Lula. Eu quero que vocês tenham clareza de que tudo tende a piorar quando eles consagrarem a reforma da previdência. Eu quero que vocês saibam que o Fies está acabando. O Prouni está diminuindo.”
“Quem está condenado é o Lula. Mas eu quero que eles saibam que quem está sendo julgado é o povo brasileiro.”
Lula citou Nelson Mandela, que ficou preso e ao voltar à vida normal foi para a presidência, além de Tiradentes, que foi morto pelo governo e depois virou símbolo da República, para então afirmar: “O Lula é insignificante. O que é gigante é a consciência política do povo brasileiro.”
O ex-presidente citou os interesses estrangeiros no golpe que avança no país. “Eles não admitem que este julgamento foi criado junto com a Globo, Estadão, Folha, Veja. Eles nunca se conformaram da gente ter mandado a ALCA embora e fortalecido o Mercosul”.
“Eles não podem prender o sonho da liberdade. A esperança. Eles podem prender o Lula mas não podem prender as ideias que já foram colocadas.”
Lula ainda ressaltou que as pessoas aprenderam como é bom ter acesso a crédito, poder comprar os eletrodomésticos para suas casas e poder entrar em boas escolas. Ele ainda disse que não quer ser tratado com pena. “Nada de ficar ‘coitadinho do Lula’. Não fiquem de cabeça baixa. Andem de cabeça erguida. Portanto a hora não é para desistir. A hora é de mudar a nossa trajetória para o futuro.”
Lula ainda afirmou que as mulheres, as crianças, os negros, a população LGBT, não aceitam mais preconceito e ódio. Ele elogiou o público dizendo que estavam todos fortes e finalizou afirmando que “uma sociedade sem sonho, sem direitos, não é uma sociedade. É uma boiada. Esperem que nós vamos voltar para provar que este país pode ser respeitado. O povo pobre nunca foi problema, foi solução. Na hora que você chama para participar este povo tem a solução.”
Parlamentares do PT em defesa de Lula
A senadora e presidenta nacional do PT Gleisi Hoffmann, que pela manhã participou do ato em Porto Alegre, veio até São Paulo e afirmou aos manifestantes que a Constituição tem sido rasgada e desrespeitada. “Porque a constituição foi um marco na história do Brasil e nela dizia que a democracia seria decidida no voto popular direto. Os direitos de defesa, direitos humanos, isso tudo não está valendo desde o impeachment.”
Gleisi citou a volta do Brasil ao Mapa da Fome e os cortes em programas sociais, afirmando que “essa gente não tem nenhum respeito ao povo brasileiro, governa para uma elite que tem dinheiro. Essa é uma sentença corporativa, de proteção de Sérgio Moro. Eles disseram que a gente deu tom político ao processo. Quem deu foram eles.”
“Estamos num momento histórico deste país”, ressaltou a presidenta do PT. “Eu acho que só temos um caminho: reagir firmemente, defender a democracia e defender o Lula. Nós não aceitamos esta sentença. É uma sentença com visão de classe. A coisa mais importante que temos na nossa democracia é o voto popular, e eles querem impedir o voto.”
“É impedir que milhões de brasileiras e brasileiros tenham o direito de votar em quem eles já mostraram que querem como presidente. Três desembargadores não podem decidir sobre a vida deste país. Se eles levantarem o tom nós vamos levantar. Se eles trucaram nós vamos aceitar, mas vamos para cima. Este país não é uma republiqueta de bananas.”
A presidenta reafirmou que não abrirá mão da luta. “Os partidos de esquerda que estão aqui e nos apoiaram: nós vamos consolidar uma frente de centro-esquerda para lutar pelo nosso país. Não vamos aceitar que o Judiciário determine o futuro da nação. Vamos dar um recado: cuidado, vocês estão rasgando de novo a constituição.”
“Eles não ver ter a nossa rendição. Por isso é importante reforçar os comitês populares em defesa da democracia. Pendurar uma bandeira vermelha com a bandeira do Brasil. Porque a bandeira do Brasil não é monopólio de coxinha. Vamos enfrentar esta reforma da Previdência e vamos continuar com um calendário de lutas. Se foi para a rua que eles nos chamaram é na rua que nós vamos ficar”, completou Hoffmann.
Líder do PT no Senado, Lindbergh Farias também veio de Porto Alegre e afirmou que “hoje eles acabaram com a democracia brasileira e com o pacto constituído em 1988, que dizia: nós vamos disputar o poder respeitando eleições livres e o voto do povo brasileiro.”
Para o senador, querem transformar as eleições em uma fraude. “Nós não vivemos mais numa democracia no Brasil. É preciso entender isso de uma vez por todas. É um golpe duro. Na história a gente ainda vai entender o real papel dos EUA neste golpe.”
Ele citou a movimentação da marinha norte-americana na época da descoberta do pré-sal, o golpe de 1964 e a queda de Getúlio. “Muita gente discordou da fala dura da Gleisi porque tinha ilusão de que a gente podia ganhar no tribunal. Mas será que alguém aqui acha que vamos garantir a candidatura do Lula com liminar? Só há um caminho para derrotar o golpe: é a rebelião popular. É ocupar as ruas.”
“Para prender Lula tem que prender todos nós que estamos aqui. E nós vamos registrar Lula no dia 15 de agosto como candidato. Quem viu o que aconteceu sabe que está renascendo a esquerda. Vamos fazer também uma reforma no judiciário. Agora é hora de uma esquerda com vontade de lutar para defender Lula e defender o Brasil. Muita gente neste país lutou e morreu para defender a liberdade a justiça. Ou ficar a pátria livre ou morrer pelo Brasil.”, finalizou o senador.
O líder do PT na Câmara, Paulo Pimenta, também participou do ato em Porto Alegre e em seguida foi para São Paulo, onde afirmou: “não aceitaremos o golpe.” Para Pimenta, “aqueles que querem destruir o nosso pré-sal, a nossa previdência, estão enganados se pensam que Lula será a vítima deste esquema criminoso teve mais um capítulo.”
Para ele o julgamento foi um jogo de cartas marcadas. “Vamos denunciá-los dentro e fora do Brasil. Esta decisão de hoje não interfere um minuto em nossa decisão e no dia 15 de agosto Lula será inscrito como candidato a presidente da República. Se querem nos derrotar que tenham coragem de lançar um candidato. Venham para a disputa e vejam qual será a decisão do povo brasileiro.”
Movimentos sociais em defesa da democracia
Liderança do MTST, Guilherme Boulos começou a sua fala destacando que o primeiro desembargador do TRF-4 gastou mais de uma hora justificando a sentença de Sérgio Moro. “Passaram o dia todo falando e não conseguiram apresentar uma prova. Mesmo assim conseguiram manter a sentença daquele xerifinho sem vergonha chamado Sérgio Moro.”
“Não não temos nenhuma dúvida de que estes três anões morais vão para a lata do lixo da história. O Lula já foi absolvido pelo brasileiro por tudo que fez e representa para o nosso povo. Mas nós precisamos tirar uma lição: eles passaram do limite. E sempre que o andar de cima fecha as portas, eles levam o povo à radicalização.”
Para Boulos, “eles deixam a rua como única alternativa. Não há espaço para hesitação ou recuo. A resposta já foi dada com 70 mil pessoas nas ruas de Porto Alegre. Hoje já começamos a bloquear diversas rodovias. Queiram eles ou não, a rua vai ser nossa. Agora é tempo de ir pra cima. Se pensarem em botar o dedo no Lula, o bicho vai pegar.”
A líder indígena Sônia Guajajara destacou que a democracia ainda é jovem e frágil. “Nossos direitos estão sendo tirados por uma elite burguesa que não quer nos deixar falar. Hoje um homem está sendo julgado. Não é um julgamento individual. É o povo brasileiro que está sendo julgado.”
“Condenam também os nossos direitos. A nossa força nós temos nas nossas mãos: ocupando as ruas e os espaços institucionais. Nós precisamos retirar do poder quem está aí querendo nos calar. O julgamento de Lula, maior liderança da América Latina, é também o julgamento dos nossos direito”, completou Guajajara.
Silvia Ferraro, da Frente Povo Sem Medo, afirmou que “a luta contra o golpe não se encerra hoje. A luta vai continuar nas ruas, com greves, porque os golpistas não passarão e não merecem o nosso perdão. Aqui está o povo sem medo, sem medo de lutar.”
“Hoje é um dia da farsa montada pelo capital financeiro, a Rede Globo e o judiciário para acabar com os direitos trabalhistas e entregar os bens do Brasil ao capital estrangeiro”, afirmou Edson Carneiro Índio, da Intersindical. “Ainda que a gente possa ter todas as diferenças nós não vamos nos omitir. Estamos aqui para dizer: eleição sem Lula é fraude, sim!”.
Nivaldo Santana, da Central dos Trabalhadores do Brasil (CTB), destacou que “depois do golpe que se instalou em nosso país, nós vivemos um estado de exceção que está desmontando o Brasil. Procuram agora que a maior liderança política deste país não possa exercer os seus direitos. O julgamento de hoje foi uma farsa que desrespeita os mais elementares direitos do Brasil.”
Isadora, do Movimento Rua e do Psol, destacou que o grupo defende o direito de Lula ser candidato. “Nós acreditamos que isso é defender a democracia. Mesmo que a gente não apoie o Lula eleitoralmente, nós defenderemos ao lado de vocês o direito de ele se candidatar. Porque o que eles querem é nos tirar a esperança. Mas não vai ser um juiz que vai tirar do povo o direito de decidir. Nós estamos juntos num outro projeto de sociedade.”
Da redação da Agência PT de notícias