Não é de hoje que o nome Jair Bolsonaro induz imediatamente à palavra mentira. Muito antes de ser eleito presidente com o auxílio criminoso de notícias falsas, o militar reformado já acumulara no currículo inúmeras declarações inventadas com o intuito de inflamar o eleitorado e disseminar o preconceito contra seus adversários.
Mas, a partir da saída dos cubanos do Mais Médicos, o radical da extrema-direita inaugurou um novo patamar de invencionices – na tentativa de se livrar da culpa pelo rombo na saúde pública causado pela ausência dos profissionais da ilha do programa.
Por sorte, tudo o ele que diz é facilmente desmentido e a sua credibilidade, mais uma vez, colocada à prova. Veja a seguir algumas das principais fraudes ventiladas pelo presidente eleito:
Famílias dos médicos são proibidos de vir ao Brasil
No dia 14 de novembro, Bolsonaro afirmou no Twitter – e depois ainda repetiu a balela em coletiva de imprensa – que impôs a vinda de familiares dos médicos cubanos como condição para continuidade do Mais Médicos. Mas, além de mentir sobre a suposta proibição, ele próprio já havia alarderado anos antes que era contra a vinda dos parentes dos profissionais que chegavam ao país para trabalhar.
Ainda como deputado, em 2013, o militar destilou todo o seu desprezo ao povo cubano ao associá-los a terroristas e temer pela chegada dos familiares. “Prestem atenção. Está na medida provisória: cada médico cubano pode trazer todos os seus dependentes. E a gente sabe um pouquinho como funciona a ditadura castrista”.
Note que o próprio Bolsonaro já sabia que a Medida Provisória assinada pela presidenta Dilma Rousseff em 2013 continha em seu texto a permissão de visto temporário “aos dependentes legais do médico intercambista estrangeiro, incluindo companheiro ou companheira, pelo prazo de validade do visto do titular”.
Médicos são agentes infiltrados
Naquele mesmo discurso em que foi contra a vinda de familiares cubanos ao país ele ainda soltou mais uma de suas declarações criminosas: “Esses agentes podem adquirir emprego em qualquer lugar do Brasil com carteira assinada, inclusive cargos em comissão. Olhem o perigo para a nossa democracia”.
O presidente eleito parece não ter mudado de opinião e repetiu a ofensa recentemente ao insinuar que os cubanos nem médicos seriam, mas “militares e agentes infiltrados”, conforme declarou no dia 20 de novembro, em Brasília. “Acredito que os primeiros cubanos que saíram do país eram militares e agentes infiltrados (…) Não é uma declaração minha nova, há cinco anos eu já criticava a questão de não poder trazer a família para cá, isso é desumano, a questão do salário e a questão de não ter uma comprovação mínima que seja sobre se são médicos ou não”, declarou Bolsonaro.
Como se sabe, nenhum médico cubano jamais foi desmascarado como agente infiltrado em nome de alguma causa que nem mesmo Bolsonaro sabe dizer exatamente qual é.
Médicos cubanos são incapacitados
Aqui entra uma questão que beira à insanidade, já que o programa tem a aprovação de mais de 95% dos pacientes. Bolsonaro, no entanto, não apenas desconfiou da capacidade dos médicos caribenhos como tentou usar o Exame Nacional de Revalidação de Diplomas Médicos Expedidos por Instituições de Educação Superior Estrangeira, conhecido como Revalida, como justificativa para mandá-los embora.
Em agosto deste ano, pouco antes do início da campanha eleitoral, ele havia prometido expulsar os caribenhos do Brasil. “Vamos botar um ponto final do Foro de São Paulo. Vamos expulsar, com o Revalida, os cubanos do Brasil”, declarou.
Acontece que, conforme dados divulgados pelo jornal O Globo, o índice de aprovação dos profissionais da ilha caribenha na última edição do Revalida é praticamente a mesma dos brasileiros: 24,31% contra 24,8%.
Cubanos são escravos
A ladainha bolsonarista tenta emplacar a ideia de que os cubanos são escravos e que o governo cubano os explora – ainda que o presidente eleito não tenha dado a mínima para os direitos trabalhistas quando votou a favor das reformas de Temer. Para entender a razão de que parte do salário dos cubanos seja entregue ao governo da Ilha é simples.
No termo técnico assinado entre o Ministério da Saúde e a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), órgão vinculado à ONU que faz a ponte entre Cuba e Brasil no programa Mais Médicos, os profissionais médicos são funcionários do governo da ilha. Portanto, não estão vindo para o Brasil como pessoas físicas. São servidores públicos do governo cubano, trabalham para o Estado e são pagos por ele.
Em resumo, não tem cabimento a tese de que o recurso acertado durante o acordo entre os dois países fosse integralmente para os médicos. Para isso, eles teriam de deixar seus postos no governo de Cuba.
Da Redação da Agência PT de Notícias