Partido dos Trabalhadores

“Manicômio oprime e segrega”, afirmam militantes em ato no Recife

Protesto ocorreu nesta sexta (17) e faz parte da 7ª Semana da Luta Antimanicomial

Divulgação

Sob o lema “Pisa forte, canta alto, liberdade é resistência”, movimentos populares, profissionais de saúde e usuários do Sistema Único de Saúde (SUS) em defesa de uma política de saúde mental antimanicomial ocuparam a praça do Derby na tarde desta sexta-feira (17). Com faixas e cartazes em defesa do SUS, da democracia e de uma política pública mais humanizada, os grupos caminharam pela avenida Agamenon Magalhães em um “passeato”.

A ação realizada é parte da programação da 7ª Semana de Luta Antimanicomial e aconteceu um dia antes ao 18 de maio, Dia Nacional da Luta Antimanicomial. Segundo Jessica Aquino, militante do Núcleo Libertando Subjetividades, em Pernambuco e outros estados do Brasil estão sendo realizadas atividades para colocar essa questão em pauta em diversos contextos, como nas ações de rua, ocupando as universidades e visitando as comunidades.

Jessica explica que é preciso buscar diálogo com a sociedade, principalmente porque houve, já este ano, retrocessos na política de saúde mental promovidos pelo governo de Jair Bolsonaro (PSL). “A gente teve, em fevereiro, mudanças na política de saúde mental, que colocam em risco tudo o que a gente tem conquistado até então, com a Luta do SUS e da Reforma Psiquiátrica”.

Ainda de acordo com Jessica, os incentivos financeiros às comunidades terapêuticas representam um “retorno à lógica manicomial em todos os termos”. “É uma instituição que vai fazer um tratamento moral com pessoas que são colocadas como desviantes e que vão ser isoladas. Isso é, exatamente, o que eram os manicômios”, reforça.

Outro ponto que Jessica destacou o anúncio do governo de que serão comprados aparelhos de eletroconvulsoterapia, os chamados eletrochoques. “Não é necessário, a gente tem estudos para dizer que o modelo psicossocial reabilita pessoas. A gente precisa trabalhar com as pessoas a cidadania, o retorno às suas atividades diárias, às relações sociais, ao trabalho. Todas as pessoas do mundo precisam de suporte para viver” conclui.

Para Ana Lúcia da Silva, usuária do Centro de Atendimento Psicossocial (CAPS) 24 horas David Capistrano, no bairro do Ipsep, é muito importante que se lute contra a privatização do SUS para que se defenda a rede de saúde mental e políticas que não segreguem os usuários da sociedade. “A gente quer ser visto como cidadãos”, reforça.

Também para Jailson José dos Santos, usuário do CAPS AD Recanto dos Guararapes, em Jaboatão dos Guararapes, que atende a pessoas que fazem uso problemático de álcool e drogas, é preciso que se leve adiante políticas de redução de danos e cuidado em liberdade, como vinha sendo feito com os avanços das políticas em saúde mental nos últimos anos. “Essa luta é para que seja respeitada a democracia. Eles não querem respeitar a lei que a gente já tem. Queremos respeito à democracia, à liberdade de expressão e ao direito de ir e vir”, frisa.

A assistente social Silvia Gomes reforça que é preciso mobilizar a sociedade contra os manicômios. “Manicômio oprime e segrega. A gente está aqui para dizer ‘não’ aos retrocessos na política de saúde mental desse governo atual”, afirma. De acordo com Silvia, a alternativa que os movimentos defendem é uma política de cuidado integral em liberdade. “Queremos os CAPS em todos os municípios, ampliar espaços de convivência e mais residências terapêuticas. A gente quer que essa rede se amplie cada vez mais e que a ótica da segregação não seja mais usada em nenhum local de cuidado”, explica Silvia.

Por Brasil de Fato