O que aconteceu neste dia 15 – em São Paulo principalmente – impressiona. Podemos estar diante da segunda onda do movimento que eclodiu em junho de 2013.
Em sua primeira aparição, as manifestações mostravam, apesar da heterogeneidade, uma face progressista, pois se filiavam a movimentações como a dos Indignados, da Espanha, ao Ocuppy Wall Street, nos EUA, ou ainda à gênese do Syriza, na Grécia.
Em 2015, tudo mudou.
Os contingentes engajados no protesto não escondem sua filiação à direita. Estão mais próximos das fisionomias políticas que mostraram seus rostos nas chamadas Revoluções Coloridas do Leste Europeu ou ainda nas jornadas da oposição golpista, na Venezuela.
O que aconteceu hoje marca apenas o início de uma escalada. Quem está em perigo, a partir desse sinistro dia 15 – mais que o atual governo – são as instituições democráticas no país.
Nas pistas da Avenida Paulista marcharam homens e mulheres ausentes de qualquer apreço pelos poderes da República, sejam o executivo, o judiciário ou o legislativo. Uma gente autoritária que não hesitou em seqüestrar o hino, a bandeira e as cores pertencentes a todos os brasileiros.
Esta espiral de intolerância só pode ser detida pela ampla unidade de todas as correntes democráticas do país. Que a oposição não incorra no mesmo erro de personalidades como Carlos Lacerda e Ademar de Barros, políticos engajados na urdidura do golpe de 1964, posteriormente tragados pelo movimento ao qual pretenderam dar direção.
Não se enganem os brasileiros. O espectro que ronda a atual crise é o do fascismo.
(Artigo inicialmente publicado no blog Algo a Dizer, em 16-03-2015)
Marcelo Barbosa é advogado, doutor em Literatura Comparada pela UERJ e diretor-coordenador do Instituto Casa Grande
Kadu Machado é jornalista e militante do Núcleo Celso Furtado, do PT-RJ