Era 17 de fevereiro de 1997 quando 100 mil pessoas de todas as regiões do país chegavam à Esplanada dos Ministérios, em Brasília, após dois meses de caminhada. A marcha, que aconteceu um ano depois do Massacre de Eldorado do Carajás, foi um protesto direto contra o assassinato dos 21 Sem Terra no Pará e a política agrária do então governo de Fernando Henrique Cardoso.
Em 2005 uma segunda caminhada nacional organizada pelo MST ocupou Brasília, mas, desta vez, as bandeiras não se restringiram à luta pela terra. Entre as pautas de reivindicações também estavam o aumento do valor do salário mínimo e a redução da taxa de juros (Selic) que na época chegava a 19,25% ao ano.
Doze anos depois o MST irá marchar novamente. Desta vez, os Sem Terra se deslocarão em colunas de todas as regiões do país para denunciar a retirada de direitos e exigir a liberdade do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A Marcha Nacional Lula Livre começa nesta sexta-feira (10) e segue até o dia (15) com a chegada dos Sem Terra na capital federal.
E para falar sobre os pontos de reivindicações e sobre como o Movimento está se preparando para marcha conversamos com Antônia Ivoneide, da Direção Nacional do MST que também fala sobre a importância da pressão popular pela liberdade de Lula. “A prisão de Lula é arbitrária, é parte de um golpe que tem como único objetivo o desmonte da classe trabalhadora. Lula é uma vítima de um processo político e sofre uma perseguição que só pretende impedir que ele seja candidato. Todos sabem que se isso acontecer ele será mais uma vez o presidente do país”.
A primeira marcha do MST foi realizada em 1997, num cenário de acirramento e de violações de direitos humanos. Em 2005, o leque se ampliou e o Movimento marchou por uma cartilha de reivindicações com pontos que iam muito além do pedido de assentamentos. Agora em 2018, o que leva os Sem Terra a marcharem?
Historicamente o povo marcha. Essa é uma tática usada para chamar atenção da sociedade para a realidade em que vivemos. As estradas pertencem a classe trabalhadora que caminha em busca da transformação social. Além disso, a marcha traz unidade entre quem caminha e a sociedade. O MST enxerga as marchas como uma forma efetiva de luta.
Em todos os estados em que estamos organizados são realizadas marchas periódicas em momentos de jornada de lutas, por exemplo. As marchas nacionais acontecem em momentos específicos. A primeira foi em um contexto de repressão, de ausência de direitos humanos, já em 2005 ampliamos a nossa proposta, viemos com o objetivo de propor alternativas para a classe trabalhadora como aumento do salário mínimo e a redução de juros.
Nas edições anteriores as marchas do MST foram consideradas demonstrações de forca. No atual cenário em que a classe trabalhadora sofre com tantos desmandos o que significa essa mobilização para o animo da militância?
Agora, em 2018 vivemos um dos momentos mais difíceis da nossa história. Um golpe retirou do poder uma mulher eleita democraticamente. Um governo ilegítimo assumiu o poder, nomeou ministros que não representam a classe trabalhadora e, que ainda por cima, retiraram os poucos direitos conquistados ao longo de anos de lutas, avançou na privatização de estruturas públicas, desmantelou serviços públicos, congelou por décadas investimentos na educação, implementou a legalização do trabalho precarizado, retirando condições dignas da classe trabalhadora operária.
Já no campo da Reforma Agrária nenhuma área no governo Temer foi desapropriada, além disso, a privatização de assentamentos virou prática comum no país, isso sem falar no fechamento de instituições como o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), fechamento de escolas, cortes de verbas e de programas rurais e o mais grave, o aumento desenfreado da violência no campo. Logo, essa marcha servirá não só para animar a militância, mas para mostrar que a classe trabalhadora está viva e pronta para lutar.
Os governos anteriores pouco fizeram pela Reforma Agrária. Diante disso, quais as principais pautas de reivindicação do Movimento para o próximo governo?
A marcha não será só uma demonstração de força só do MST, mas sim, de toda a classe trabalhadora que é a mais afetada por esse governo golpista. Além disso, queremos quebrar o bloqueio da invisibilidade da mídia que criminaliza os movimentos sociais e se cala diante das nossas bandeiras de luta. Será uma caminhada conjunta com os movimentos do campo e da cidade. E pela primeira vez a presença de jovens será massiva.
E porque marchar por Lula Livre?
Serão seis dias de caminhada para retomar o Brasil e para exigir Lula Livre! É o MST marchando pela democracia e pela autonomia do nosso povo. A prisão de Lula é arbitrária, é parte de um golpe que tem como único objetivo o desmonte da classe trabalhadora. Lula é uma vítima de um processo político e sofre uma perseguição que só pretende impedir que ele seja candidato. Todos sabem que se isso acontecer ele será mais uma vez o presidente do país.
Por MST