“As cidades podem vencer, Stalingrado!”
(Carlos Drummond de Andrade)
Em 1943, quando as tropas alemãs haviam cercado Stalingrado, na Rússia, e tudo parecia perdido para os soviéticos, de seu pequeno gabinete de estudos no Rio de Janeiro, o poeta Carlos Drummond de Andrade vaticinou, em sua “Carta a Stalingrado”:
Penso no colar de cidades, que se amarão e se defenderão contra tudo.
Em teu chão calcinado onde apodrecem cadáveres,
a grande Cidade de amanhã erguerá a sua Ordem.
Quando vi aquele imenso mar de lama avançando sobre Mariana, em Minas Gerais, depois do rompimento da barragem de detritos da mineradora Samarco, me veio à cabeça a lógica do grande poeta de Itabira, antes de tudo, porque sou cubatense.
Cubatão, como agora as cidades pelas quais essa lama tóxica e trágica deixa sua trilha de tristeza e morte, também já foi um caso perdido. A cidade industrial, cinzenta e escondida num vão da Baixada Santista também já foi sinônimo de tragédia ambiental sem volta, sem esperança, sem futuro para se lamentar.
Na década de 1980, o ar de Cubatão era tão denso e poluído que possuía cheiro e cor. No auge de sua tragédia industrial, a cidade recebia 30 mil toneladas de poluentes por mês em sua atmosfera particular. Os pássaros haviam desaparecido do céu, os peixes, dos rios.
Entre outubro de 1981 e abril de 1982, das 1,8 mil crianças nascidas no município, 37 vieram ao mundo mortas. Outras nasceram com graves problemas neurológicos e com anencefalia. Cubatão era, então, líder em casos de problemas respiratórios no país.
Em pouco tempo, foi considerada pelas Nações Unidas a cidade mais poluída do mundo e ganhou um apelido sinistro: Vale da Morte.
Então, quando tudo parecia perdido, nós nos recuperamos.
De mãos dadas, governantes, industriais e a população decidiram que, sim, a cidade podia vencer.
Assim, um plano de controle ambiental foi feito para controlar e extinguir mais de 300 fontes poluentes da região, por onde jorravam despejos de substâncias tóxicas, em grande escala. Também foram feitos planos de recuperação da Mata Atlântica, com o replantio da vegetação nativa.
O primeiro pássaro a voltar foi o guará-vermelho, uma espécie típica da Baixada Santista que abandonara a Cubatão por quase uma década, por causa da poluição.
Em 1992, durante a Eco 92, no Rio de Janeiro, Cubatão foi apontada pelas Nações Unidas como Símbolo de Recuperação Ambiental, depois de ter controlado 98% do nível de poluentes controlados.
Cubatão venceu.
O “vale da morte” voltou a ser um lugar bom de se nascer e viver, para homens, mulheres, crianças e bichos.
As cidades do Vale do Rio Doce também vencerão.
O coração de cada cubatense sabe que isso é possível.
Marcia Rosa é prefeita de Cubatão pelo PT