A deputada federal Margarida Salomão (PT-MG), professora, pesquisadora, ex-reitora e presidente da Frente Parlamentar em Defesa das Universidades Federais repudia a tentativa de censura do ministro Mendonça Filho à disciplina O Golpe de 2016 e o futuro da democracia no Brasil, do curso de graduação em Ciência Política da Universidade de Brasília.
“Enquanto ex-reitora, professora universitária, pesquisadora e deputada federal, eu repudio o gesto do deputado Mendonça Filho, que atualmente chefia o Ministério da Educação, de censurar a proposta de disciplina sobre o Golpe de 2016, de iniciativa do professor Luís Felipe Miguel, do curso de Ciências Sociais da UnB”, disse a deputada.
“A tentativa de um ministro da Educação – alçado a essa condição por meio da ruptura democrática de 2016 – de censurar uma disciplina em ambiente universitário é a própria prova de que não vivemos em uma plena democracia. Trata-se de mais uma prova empírica do golpe”.
Para Salomão, o recente pronunciamento do ministro, feito no Twitter, também carrega consigo outras marcas indeléveis do processo que subtraiu uma presidenta legitimamente eleita da presidência. “Trata-se da condenável prática de criar ‘cortinas de fumaça’, impondo falsos elementos para justificar práticas condenáveis”.
“Isso ocorre quando, de início, o ministro trata como ‘proselitismo’ a iniciativa do professor em oferecer a referida disciplina. Argumento que fere de morte um dos preceitos fundamentais da universidade, em seus quase mil anos de existência: o da liberdade e autonomia de pensamento e pesquisa”.
Margarida defende que é direito próprio às universidades e a seu corpo docente definir os conteúdos aplicados. “Ou é assim, ou voltamos à Idade das Trevas, quando instituições autocráticas reivindicavam perseguir aqueles que desafiavam o pensamento vigente – tais como Galileu Galilei e Nicolau Copérnico”
A deputada afirma que “Mendonça Filho falseia a verdade ao desconsiderar a livre iniciativa do professor Luís Filipe Miguel em oferecer a disciplina. Trata-se, na verdade, de um desrespeito com a história pessoal e acadêmica do docente, cuja produção se tornou referencial no país ao justamente calcar-se no estudo crítico da democracia no Brasil – inclusive estendendo questionamentos aos governos petistas”.
“Nesse sentido, o ministro faz uso de uma das lógicas mais simplórias que existe, o de reduzir o mundo a uma dicotomia estúpida, onde os que não estão ao seu favor são automaticamente inimigos a serem abatidos.O ministro tergiversa ao sugerir cursos em tons críticos ao PT, supondo que isso geraria críticas. O ministro não diz, contudo, se conhece algum professor que tope sustentar academicamente tarefa tão inglória”.
Para Margarida, a reação desproporcional provocada pelo episódio em questão demonstra a profunda ignorância de Mendonça quanto a natureza da produção acadêmica no Brasil. “A disciplina em questão está longe de ser a primeira iniciativa a acusar a ascensão de Temer ao poder enquanto ruptura democrática, enquanto golpe parlamentar”.
˜Ao cabo, fica claro o despreparo e a desconsideração de Mendonça para com a Universidade, seja quanto a seus princípios, seja quanto a suas potencialidades. Na prática, censurar uma disciplina vai no mesmo sentido que o intenso corte de recursos praticado pelo governo – nada mais é que o esvaziamento de suas funções e criar justificativas para seu fechamento”, conclui a deputada.
Em vídeo, a deputada questiona a postura do ministro, tanto de tentar censurar a disciplina, quanto sua reação às críticas.