Li com atenção o texto publicado pela companheira Manuela D’Avila sobre a formação de blocos partidários e eleição para presidente da Câmara dos Deputados.
Acho necessário, pelo respeito e pela histórica convivência entre o PT e PCdoB, compartilhar algumas informações que precedem o debate político, sempre importante para nossos posicionamentos.
Jamais qualquer gesto do PT teve como objetivo prejudicar ou impedir que o PCdoB construa solução para a cláusula de barreira, resultado da última eleição, com a fusão à outro partido.
O PT se opôs à cláusula de barreira por ter consciência do impacto desse dispositivo para o nosso principal aliado, o PCdoB. Muitas vezes derrotamos essa imposição.
Ao longo da história sempre nos apoiamos mutuamente. O PCdoB muito contribuiu com o PT. Na mesma jornada, o PT contribuiu com o PCdoB, construindo uma forte atuação conjunta na Câmara, no Senado, nos governos, nos movimentos e lutas do povo. São vários estados em que nossos deputados e deputadas foram eleitos juntos, com profunda unidade programática, que não acaba entre o dia das eleições e a posse da nova Legislatura da Câmara.
Diante de nossa imensa responsabilidade de atuação, não podemos deixar dúvidas. É preciso imediatamente esclarecer que a votação na Câmara dos Deputados nada tem a ver com a superação da cláusula de barreira via fusão de partidos.
O que aconteceu, é que nossas diferentes posições políticas sobre as eleições da Câmara, foram utilizadas pela direita para tentar nos dividir.
A decisão sobre a fusão de partidos é do âmbito do TSE. E o PCdoB conta com total apoio do PT, no que considerar necessário. O encaminhamento de Rodrigo Maia tem seus efeitos restritos ao âmbito da Câmara, e foi tomado em meio ao processo eleitoral da mesa, para viabilizar um segundo Bloco em seu apoio e isolar o PT.
Com o deslocamento de partidos de centro e de direita, aliados de Bolsonaro, para participarem de um Bloco com PCdoB e PDT, esse segundo Bloco de apoio à Rodrigo, alcançou um número maior de parlamentares do que o Bloco de Oposição formado PT, PSB, PSOL e Rede.
Essa manobra pode levar à situação inusitada de um governista ocupar formalmente a liderança da oposição e impedir não só o PT, mas os partidos todos que se opõem a Bolsonaro, de exercerem seu papel.
Não podemos aceitar tal situação que oferece mais instrumentos para um governo opressor dentro da Câmara, ampliando espaço por exemplo do Patriotas e Podemos. Nossa atuação é pela resistência contra o governo Bolsonaro.
Ao saber que Manuela escrevia com os olhos marejados, também os meus assim ficaram e sabemos que esse efeito se multiplicou em muitos de nós.
A extrema-direita trama e age contra nós. Usa o estado, a mídia, o ódio contra nós. Não permitiremos que nos use uns contra os outros.
Na defesa de Lula, no enfrentamento ao golpe, na jornada politicamente vitoriosa de Haddad e Manuela simbolizam o que somos: dois partidos com formulações próprias, respeito mútuo, mas capazes de caminharem juntos, e formarem uma Frente pela Democracia, pela Soberania e pelo Povo Brasileiro.
Camaradas, Companheiros e Companheiras,
Eventuais divergências táticas são muito pequenas diante de nossos objetivos estratégicos em comum, de construir uma sociedade justa.
Ao abraçar Manuela, Jandira, Alice e Luciana, mulheres comunistas, abraço o PCdoB. E podem ter certeza que esse é o sentimento de Gleisi, e todos os dirigentes e militantes do PT.
Com reconhecimento,
Maria do Rosario
Maria do Rosário é professora e deputada federal (PT-RS). Foi Ministra dos Direitos Humanos entre 2011 e 2014, no primeiro mandato de Dilma Rousseff