As ferozes declarações do deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ), nesta terça-feira (9), durante sessão plenária contra a deputada Maria do Rosário (PT-RS) não ficarão impunes. A promessa é da própria parlamentar, ao afirmar na manhã desta quarta-feira (10), em entrevista a jornalistas, que vai processar seu agressor.
“Fui agredida como mulher, como parlamentar e como mãe”, desabafou a petista, ex-ministra da Secretaria de Direitos Humanos.
Segundo Maria do Rosário, a presidenta Dilma Rousseff (PT) disse, por telefone ontem, para “ter firmeza” diante do caso.
“O que incomoda é que estamos falando de uma pessoa que disse que não mereço ser estuprada. Por que isso acontece? A cada dez minutos uma pessoa no Brasil é estuprada. Elas merecem? Será?”, observou a parlamentar.
As agressões de Bolsonaro acorreram em resposta ao discurso da deputada sobre o Dia Internacional dos Direitos Humanos e o relatório final da Comissão Nacional da Verdade, entregue nesta manhã à presidenta Dilma.
Os insultos proferidos ontem à deputada Maria do Rosário (PT/RS), ao dizer que não a estupraria porque ela “não merecia”, não são novidade e foram registrados também em 2003.
Durante entrevista no Salão Verde da Câmara, Bolsonaro respondeu com a mesma declaração. “Sou estuprador agora? Olha, jamais estupraria você porque você não merece”. No meio da confusão, chegou a empurrar a deputada e chamá-la de “vagabunda”.
Na época, nada foi feito contra o parlamentar, e ele conseguir se reeleger pelo Rio de Janeiro.
Reações – A Secretaria da Mulher da Câmara divulgou nota de repúdio em que considera as agressões de Bolsonaro “um explícito ato de violência contra as mulheres brasileiras” e uma “ofensa à moral da parlamentar”. A secretaria afirma ainda que a postura é uma evidente transgressão ao Código de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara dos Deputados e merece ser “exemplarmente punida”.
Posturas como a do deputado são comuns no seio da sociedade ultraconservadora brasileira. A violência de gênero, praticada corriqueiramente, tem reflexo no número alarmante de violações de direitos contra as mulheres. No Brasil, 50 mil mulheres são estupradas por ano. Isso dá uma média de uma mulher violentada a cada 12 segundos.
Em sua conta do Facebook, o deputado federal Jean Wyllys (PSol/RJ) questionou o silêncio da oposição diante das agressões de Bolsonaro.
“Os dois maiores partidos da oposição à direita na Câmara – DEM e PSDB – fizeram um silêncio ensurdecedor diante da postura do fascista e fizeram ouvidos moucos e caras de paisagem aos pronunciamentos do PSOL, PC do B, PT e PSB contra a postura do fascista. Nem sequer aplaudiram nossas falas!”, relatou.
Para o deputado, a única forma de acabar com a impunidade dentro do parlamento para casos como esse, é a população pressionar os membros da Corregedoria e do Conselho de Ética da Câmara e cobrar da grande imprensa que se posicione de modo contundente. Segundo ele, a mídia, de modo geral, o trata como uma “piada inócua”.
Incomodado com a repercussão das agressões contra Maria do Rosário, Bolsonaro protagonizou nova cena de desrespeito em plenário, na manhã de hoje. Após exigir a palavra, o deputado assumiu a presidência dos trabalhos em plenário sua versão sobre o show de horror de ontem. Deputados petistas reagiram e houve a interrupção da sessão.
Por Flávia Umpierre, da Agência PT de Notícias