Em entrevista ao Café PT desta quarta-feira (26), o ministro do Trabalho e Emprego, Luiz Marinho, classificou o fim da escala 6×1 como uma necessidade urgente para a saúde e a dignidade da classe trabalhadora. Marinho detalhou as articulações para a tramitação da proposta no Congresso Nacional e foi enfático: para que essa mudança histórica aconteça, a pressão popular não pode ficar restrita às redes sociais.
Para o ministro, a jornada de seis dias de trabalho por apenas um de descanso se revela “cruel”, afetando desproporcionalmente a juventude e as mulheres, e já é vista como um obstáculo pelos próprios empresários na hora de preencher vagas.
Questionado sobre prazos, Marinho explicou que a expectativa da Comissão de Trabalho na Câmara é avançar com o debate no primeiro trimestre do próximo ano, mas alertou que o ritmo depende diretamente da temperatura das ruas. Ele usou como exemplo a recente aprovação da isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil.
“O Congresso só aprovou, já para valer a partir de janeiro, a isenção de até R$ 5.000 do Imposto de Renda por conta das mobilizações. O consenso não existia, pelo contrário”, relembrou o ministro.
Marinho reforçou que a hashtag na internet é válida, mas insuficiente para enfrentar as resistências conservadoras no Parlamento:
“Nada substitui a interação pessoal. A mobilização é importantíssima, e é fundamental que todo mundo que deseja transitar para uma jornada justa assuma para si essa luta e não simplesmente fique na torcida, mas aja como ator desse processo.”
Saúde, produtividade e economia
O ministro desmontou o argumento de que o fim da escala 6×1 quebraria as empresas. Pelo contrário, Marinho destacou que a exaustão gera custos invisíveis e altíssimos, como o absenteísmo e as doenças ocupacionais, especialmente as de ordem psicológica.
“Um ambiente saudável de trabalho ajuda a combater o absenteísmo, ajuda na qualidade do produto e na produtividade. É melhor para o Brasil atender a esse clamor do povo trabalhador”, afirmou.
Ele ainda pontuou que setores que necessitam de funcionamento 24 horas podem e devem resolver suas grades de horário via negociação coletiva, sem prejudicar a saúde do trabalhador.
Um dos pontos centrais da entrevista foi a garantia de que a mudança na lei visa reduzir a carga horária máxima semanal (de 44h para 40h) e extinguir o 6×1, sem qualquer perda salarial.
“Toda a redução de jornada de que se fala, seja por convenção coletiva ou por lei, é sem redução da remuneração. Até porque a sua remuneração é importante para consumir o próprio produto”, explicou Marinho, lembrando que trabalhadores bem remunerados e com tempo livre aquecem a economia.
Impacto nas mulheres
Marinho também demonstrou sensibilidade quanto ao recorte de gênero da proposta. A escala 6×1 é particularmente perversa para as mulheres, que frequentemente acumulam a jornada de trabalho com as tarefas domésticas e de cuidado.
“A jornada é mais cruel para as mulheres. Mudar isso é importante para o mercado de trabalho e para a sociedade”, disse, aproveitando para cobrar dos homens a divisão real das responsabilidades domésticas, e não apenas uma “ajuda”.
Ao encerrar, o ministro reafirmou o desejo do governo Lula de ver essa transformação implementada ainda neste mandato, destacando que o Ministério do Trabalho está alinhado com o anseio das ruas e pronto para o debate técnico e político.
Assista à entrevista completa no canal da TvPT.
Da Redação