O comando da Polícia Militar do Paraná culpou o secretário de Segurança do estado, Fernando Francischini (SD), pelo massacre a manifestantes ocorrido na semana passada, no centro de Curitiba (PR). Em carta divulgada nesta quarta-feira (6), o ex-comandante geral da PM-PR, Cesar Vinícius Kogut, repudia a atribuição “única e tão somente à PM” pela violência da ação.
A carta, assinada por 16 dos 19 coronéis da ativa da PM, surge um dia depois de Francischini dizer que não tinha conhecimento sobre o que ocorreria no local do protesto e responsabilizar o comando da PM pelo massacre. “O controle de uma operação de campo é da polícia. A secretaria é responsável por fazer a gestão da pasta. Isso (atribuir a responsabilidade à secretaria) é tentar politizar a questão”, declarou.
Entretanto, Kogut sustenta que o secretário não só sabia da ação da PM como participou do planejamento dela. “Todas as ações foram tomadas seguindo o Plano de Operações elaborado, o qual foi aprovado pelo escalão superior da SESP, tendo inclusive o Senhor Secretário participado de diversas fases do planejamento, bem como é importante ressaltar que no desenrolar dos fatos o Senhor Secretário de Segurança Pública era informado dos desdobramentos”, afirma.
Ainda segundo a carta, Francischini foi alertado inúmeras vezes pelo comandante-geral sobre os possíveis desdobramentos da ação. O texto também repudia a acusação de negligência contra a PM, pois tudo foi seguido conforme um plano.
Investigação – Entidades representativas dos servidores públicos do Paraná cobraram rigor nas investigações, durante audiência pública sobre o episódio, promovida pelas Comissões de Direitos Humanos (CDH) do Senado e da Câmara, nesta quarta-feira (6).
Os representantes foram unânimes quanto a um possível planejamento do massacre a manifestantes, na semana passada, em Curitiba, quando 213 servidores públicos foram feridos pela ação truculenta da Polícia Militar do estado.
Segundo a diretora da Ouvidoria Nacional dos Direitos Humanos, da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, Irina Karla Bacci, o áudio de um vídeo feito a partir do Palácio Iguaçu, no qual se ouve servidores do estado rindo e comemorando as bombas e jatos d’água projetados sobre os servidores, “é o retrato da falência das instituições, que não conseguem resolver seus conflitos por meio do diálogo”.
A secretaria recebeu cerca de 22 denúncias, por meio do Disque 100, a respeito o procedimento do Estado do Paraná, durante a repressão às manifestações públicas de quarta-feira (29). Bacci ressaltou a desproporcionalidade da força empregada contra manifestantes desarmados.
Irina informou que a secretaria irá à Curitiba, na quinta-feira (7), apurar denúncias de bombas jogadas na prefeitura e em uma creche onde havia 150 crianças, onde professores tiveram de deitar para protege-las do gás lacrimogênio.
A senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) disse que o Congresso Nacional não pode se omitir diante do acontecido. Segundo ela, as comissões dos direitos humanos da Câmara e do Senado vão encaminhar o caso à apreciação de entidades internacionais de Direitos Humanos. “Aquele que deve proteger, ataca. Que segurança as pessoas vão ter?”, repreendeu.
A petista lamentou a ausência na audiência do Secretário de Segurança do Paraná, Francisco Francischini, ou de alguém do comando da PM. Gleisi pediu que a culpa não recaia em soldados, cadetes rasos ou comandantes imediatos. Ela defende a responsabilização de quem ordenou a ação.
“Não se coloca dois mil policiais em uma praça sem um planejamento. Essa audiência deve encaminhar o total esclarecimento dos fatos e a responsabilização das pessoas com poder de ordem”, destacou a senadora.
Planejamento – Segundo o presidente da Associação dos Professores do Paraná (APP-Sindicato), Hermes Silva Leão, o episódio do dia 29 vinha sendo anunciado pelo governo desde dezembro. “Ele não cumpriu o acordo estabelecido de aguardar pelos menos sessenta dias para haver debate sobre seus planos. Foi um tratoraço”, criticou.
Ao invés de cumprir o prazo, o governador entrou com o projeto na Assembleia Legislativa do Paraná (ALEP), com pedido de urgência, para ser aprovado sem discussão. De acordo com o professor, isso foi o que motivou a ocupação da Casa pelos servidores públicos, no dia 10 de março e a permanência por dois dias.
O clima ficou mais acirrado quando os deputados chegaram escoltados pela PM, no dia 12 de março, e tentaram fugir dos servidores, sem dialogar.
O professor lembra que o confronto com a PM começou já na madrugada de terça para quarta, quando a polícia, com truculência sobre os manifestantes que ali estavam, retirou o caminhão de som do sindicato do Cetro Cívico, ocupado pela PM desde o sábado (25).
“Fomos impedidos de permanecer na praça. A população impedida de circular pelo local. Colocaram o caminhão em um lugar não combinado, confiscaram as chaves e as entregaram apenas depois do massacre. Toda a tensão foi criada pelo aparato repressivo do governo”, ressaltou Hermes.
A professora de Filosofia da Ciência da Universidade do Paraná (UFPR) e secretária-geral do Sindicato dos Docentes das Universidades do Paraná (SESDUEM), Luzia Marta Bellini, acusou o governo de usar tática de guerra para lidar com uma manifestação de servidores públicos. A professora denunciou o uso de um helicóptero, sem identificação, do qual eram lançadas bombas.
“À paisana, policiais circularam entre nós, faziam sinais, fotografavam. E depois foram duas horas e meia de bombas sobre nós. Isso não foi uma provocação”, afirma.
Bellini afirma estar com um hematoma de 15cm em uma das pernas, devido a um artefato bélico atirado contra ela. De acordo a professora, toda a ação do massacre seguiu os procedimentos de um manual de guerras, desde o posicionamento das tropas ao “terrorismo” psicológico, como pairar com um helicóptero sobre barracas armadas no Centro Cívico para elas voarem.
“Os manuais de guerra dizem que se você quiser dominar uma manifestação, cerque as pessoas. E foi isso, ficamos todos cercados por todos os lados.
Por Guilherme Ferreira, da Agência PT de Notícias