Em audiência pública na Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional da Câmara dos Deputados, nesta quarta-feira (13/11), o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, reafirmou a posição do Brasil sobre os conflitos no Oriente Médio e a sua histórica defesa da paz, além da volta do país ao cenário internacional.
Mauro Vieira lamentou a continuidade e intensificação do conflito no Oriente Médio, um ano após os ataques do Hamas contra Israel, que iniciaram essa nova escalada de violência. Vieira destacou que, embora o Brasil tenha condenado firmemente os ataques do Hamas e promovido o diálogo pela paz, o cenário evoluiu para um conflito mais amplo, com milhares de civis mortos, infraestrutura devastada e milhões de deslocados, especialmente em Gaza e no Líbano.
Civis mortos por Israel
Vieira criticou a resposta de Israel como desproporcional e denuncia a situação de Gaza, onde dezenas de milhares de civis foram mortos, a maioria mulheres e crianças, e onde quase toda a população enfrenta fome. “Todo país tem o direito de se defender, desde que dentro das normas do direito internacional. Não é isso o que Israel está fazendo”, afirmou.
Ele ainda lembrou o discurso do presidente Lula na abertura da 79ª Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU). “Como disse o presidente Lula, o direito de defesa não pode se transformar em direito de vingança. O que começou com uma ação de terroristas contra civis israelenses inocentes tornou-se punição coletiva de todo o povo palestino”, lamentou o ministro.
O ministro também expressou sua preocupação com o aumento dos assentamentos israelenses na Cisjordânia e o risco de um conflito direto entre Israel e o Irã, com troca de ataques entre ambos ao longo do ano.
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Líbano
Mauro Vieira também falou da situação crítica no Líbano, país que tem sido fortemente afetado pela escalada do conflito no Oriente Médio. Ele ressaltou que, desde o início das hostilidades intensificadas entre Israel e o Hezbollah, o Líbano tem sofrido pesados bombardeios, particularmente em regiões com grande concentração de brasileiros, como Beirute e o Vale do Bekaa. Até agora, mais de 3 mil pessoas foram mortas e mais de 14 mil ficaram feridas, com um número expressivo de deslocados internos, chegando a 1,2 milhão de pessoas.
Em resposta, o governo brasileiro mobilizou a operação de repatriação “Raízes do Cedro”, uma iniciativa conjunta dos Ministérios das Relações Exteriores e da Defesa com a Força Aérea Brasileira. Até o momento, foram realizados 10 voos, trazendo de volta cerca de 2,1 mil brasileiros, incluindo centenas de crianças e idosos. Com voos contínuos para a retirada de cidadãos brasileiros em áreas de risco, Vieira destacou que o Brasil segue comprometido com a proteção de sua comunidade no Líbano, monitorando a situação de perto e priorizando o apoio aos brasileiros que desejam retornar ao país.
Vieira pediu o apoio do Parlamento para que o Brasil possa continuar atuando diplomaticamente e em defesa das comunidades brasileiras no exterior, ao mesmo tempo em que trabalha para desestimular o alastramento da guerra e promover a paz e a segurança na região.
Volta do Brasil à cena Internacional
Para Mauro Vieira o Brasil vive um “grande momento” e está voltando à tradição da diplomacia com a retomada do Brasil na cena internacional sob a liderança do presidente Lula. “O Brasil está voltando aos grandes foros internacionais, ao não isolacionismo, à cooperação com os vizinhos, à integração regional e à participação em todos os foros”.
Até o momento, Lula já realizou cerca de 65 encontros diretos com chefes de Estado, algo que, segundo o ministro, “não acontecia em um passado recente” e participou de eventos globais de peso, como a 37ª Cúpula da União Africana. “Ele esteve lá como único convidado especial para essa ocasião, sendo muito demandado e muito procurado por todos os 54 Chefes de Estado da União Africana, essa importante organização”, contou Vieira.
Lula foi convidado para as reuniões do G7 – grupo dos sete países desenvolvidos economicamente –. Vale ressaltar que ele é o único presidente brasileiro que foi convidado dez vezes, quatro vezes no primeiro mandato, quatro vezes no segundo, duas vezes neste ano e já está convidado para a próxima, que acontecerá no Canadá. “Nenhum outro presidente brasileiro teve esse tipo de contato e interação internacional”, afirmou o ministro.
O presidente também foi convidado para participar da cúpula da APEC (Cooperação Econômica da Ásia e do Pacífico) também como único chefe de Estado.
O Brasil também está estreitando laços com o bloco econômico ASEAN, que representa uma das novas fronteiras econômicas globais e cuja troca comercial com o Brasil já supera a da União Europeia.
G20
No âmbito do G20, cuja próxima cúpula ocorrerá no Rio de Janeiro, o Brasil está deixando uma marca significativa, com iniciativas que serão levadas adiante pela próxima Presidência, na África do Sul. O país também criou o primeiro fórum social do G20, reunindo mais de cinco mil participantes para discutir temas de impacto global.
O Brasil também é membro da COP – Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (Conferência das Partes).
Vieira ressaltou ainda que o Brasil continua presente em fóruns globais importantes, como a Assembleia-Geral da ONU, reafirmando seu papel ativo na diplomacia mundial e sua capacidade de influência.
Defensores da paz
O deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP) destacou que o Brasil é um dos poucos países que tem relação com todas as nações da ONU, por sua trajetória de universalismo, de reconhecer, de respeitar e tentar interferir no sentido da paz em outras nações. Ele defendeu a criação do Estado Palestino, porque a Palestina está perdendo terra “desde quando os ingleses decidiram formar o Estado Israel”.
Para o deputado Carlos Zarattini (PT-SP), Mauro Viera deixou claro a posição do Brasil em relação aos conflitos do Oriente Médio (especialmente a Faixa de Gaza) e da Ucrânia e Rússia. O parlamentar explicou ainda que nenhum país tem a capacidade militar para fazer ocupação e resolver os conflitos nos países em guerra, muito menos Israel. “Por que que o governo de Israel não consegue resolver o conflito na faixa de Gaza? Porque, evidentemente, não consegue ocupar a faixa de Gaza. Então, ele destrói a faixa de Gaza, destrói materialmente e destrói 40 mil vidas”, afirmou Zarattini.