Em entrevista ao programa “Bom Dia, Ministro”, do Canal Gov, nesta quarta-feira (9), o chanceler Mauro Vieira falou sobre a condução da política externa brasileira sob a reorientação estratégica da administração Lula, com ênfase para a liderança do país na agenda do clima, após o negacionismo e o isolamento internacional que marcaram o governo anterior.
O titular do Ministério da Relações Exteriores (MRE) também tratou das próximas Conferências das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 29 e COP 30), do posicionamento do governo federal em meio aos conflitos na Ucrânia e na Faixa de Gaza, do resgate de cidadãos brasileiros que vivem no Oriente Médio, da crise prolongada na Venezuela e até mesmo do primeiro turno das eleições municipais de 2024.
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Vieira esclareceu que o Brasil, mesmo sendo um dos maiores produtores agrícolas do mundo, tem mantido posição firme em relação à questão das mudanças climáticas, e assim permanecerá durante a COP 29, prevista para novembro, em Baku, capital do Azerbaijão, e a COP 30, a ser sediada na cidade de Belém, no Pará, em 2025.
“Nós temos uma legislação muito clara, muito forte […] eu não vejo, e não existe contradição, em ser um grande produtor e exportador […] e as políticas de proteção ambiental. O Brasil não precisa derrubar uma árvore sequer para aumentar exponencialmente sua produção agrícola”, ponderou o chanceler.
Sobre a relevância da COP 30, Vieira revelou que o presidente Lula decidiu trazer a conferência para a Amazônia antes mesmo de tomar posse. “Foi um trabalho diplomático intenso para obter a aprovação e a votação positiva dos membros do acordo da ONU sobre mudanças climáticas para que o Brasil fosse, então, a sede da reunião”, lembrou.
Conforme a Constituição
Os conflitos deflagrados no Oriente Médio e no leste da Europa também receberam a devida atenção do ministro das Relações Exteriores durante a entrevista. Vieira lembrou que o Brasil condenou, desde a primeira hora, o ataque do grupo armado Hamas contra Israel, em 7 de outubro de 2023, mas que rechaça, igualmente, a reação militar desproporcional do governo do premiê Benjamin Netanyahu, que já ceifou mais de 41 mil vidas, incluindo mulheres e crianças.
“Isso tem levado a uma outra situação, que sempre foi nossa preocupação, que é a contaminação de outros países da região. E é o que está acontecendo agora com o Líbano e que tem acontecido com outras ações que tenham ocorrido na região”, lamentou, ao reiterar que a política externa do Brasil é orientada pela Constituição de 1988, que prevê, entre outros pontos, a solução pacífica das controvérsias.
No continente europeu, Vieira argumentou que o governo Lula condenou a agressão russa à Ucrânia, há mais de dois anos. “A integridade territorial é um dos princípios norteadores da política externa brasileira, que está na Constituição Federal. Então, não poderia ser de outra forma”, indicou o ministro.
Repatriação de brasileiros
Parceria entre o Ministério das Relações Exteriores (MRE) e o Ministério da Defesa (MD), a operação de repatriação de brasileiros que estão no Líbano segue a todo vapor. O chefe do MRE recordou que o governo Lula, no ano passado, já havia realizado resgate semelhante na Faixa de Gaza, na Cisjordânia e em Israel.
“Foi uma operação bem sucedida. Como dessa vez, foi organizada entre o Ministério das Relações Exteriores e o Ministério da Defesa, e com a participação indispensável da Força Aérea Brasileira, que proporciona o avião e todo o apoio de logística. Dessa vez, começamos também na semana passada. Já fizemos dois voos […] no total, foram quatrocentas e cinquenta e poucas pessoas que vieram […] e hoje será realizado o terceiro voo”, contabilizou Vieira.
Crise na Venezuela
O chanceler afirmou ainda que o Brasil mantém articulações com países da América Latina para lidar com a crise prolongada na Venezuela e que o governo Lula não pretende perder o diálogo com as autoridades de Caracas. Vieira mencionou os contatos com México e Colômbia para se chegar a uma saída. Após as últimas eleições presidenciais, as tensões entre o presidente Nicolás Maduro e a oposição se acirraram.
“O Brasil participou, inclusive, da observação das eleições. O assessor especial do presidente Lula, o embaixador Celso Amorim, passou quatro dias, acompanhou todo o movimento eleitoral, foi testemunha do ambiente do dia da votação”, disse, antes de reforçar que o MRE continua tentando arrefecer a crise por meio do diálogo.
Eleições no Brasil
Por fim, o ministro enalteceu a democracia brasileira e o sistema de urnas eletrônicas, atacados pela extrema direita desde antes de o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) perder a reeleição em 2022. Na avaliação de Vieira, as urnas brasileiras são referência de solidez, dada a eficiência com que são divulgados os resultados, assim como ocorreu nas eleições municipais deste ano.
“Acabamos de ter o primeiro turno das eleições municipais e contamos, aqui no Brasil, com uma equipe, com um grupo, de observação da Organização dos Estados Americanos, a OEA. Essa missão de observação veio ao Brasil a convite da presidenta do Superior Tribunal Eleitoral, a ministra Cármen Lúcia, e ela foi chefiada por um experiente e importante diplomata uruguaio, que inclusive já foi embaixador em Brasília, o embaixador Agustín Espinoza.”
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Da Redação, com informações do Canal Gov