Partido dos Trabalhadores

Medo do futuro leva funcionários a se demitirem da EBC

Empresa está ameaçada de privatização por declarações de presidente eleito e 257 pessoas pediram demissão voluntária

EBC

Trabalhadores e veículos de mídia da EBC ganharam 66 prêmios de jornalismo nos últimos quatro anos

Telespectadores e artistas iniciaram uma grande mobilização para explicar o que é a tal “EBC”. A Empresa Brasil de Comunicação tem sido um dos alvos do presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), que declara que quer privatizar ou extinguir a TV Brasil. O movimento “Fica EBC” explica que, na verdade, a EBC é uma empresa estatal que tem, além da TV Brasil, outros seis veículos de mídia.

São eles: a Rádio MEC, a Rádio Nacional, o site Agência Brasil, a Radioagência Nacional, a TV NBR e o programa Voz do Brasil. É uma empresa de comunicação pública, ou seja, é financiada pelo dinheiro público e deve atender aos interesses da população. Como não tem “dono”, suas informações também ficam, em teoria, mais livres de interesses econômicos e políticos.

A Frente em Defesa da EBC e da Comunicação Pública divulgou um comparativo de quanto os países gastam (por habitante) em comunicação pública federal. Os Estados Unidos destinam 3 vezes mais que o Brasil, o Japão 44 vezes mais e a Alemanha 140 vezes mais. Em 2018, o governo brasileiro dedicou 0,02% de seu orçamento à EBC. A empresa recebeu R$ 723 milhões pelo Projeto de Lei Orçamentária e, disto, gastou R$ 483 milhões até o momento, segundo dados do Portal da Transparência do Governo Federal.

Plano de Demissão Voluntária

Mesmo assim e mediante as declarações do futuro presidente, a empresa abriu novamente seu Plano de Demissão Voluntária, com intenção de diminuir o número de funcionários. O primeiro PDV aconteceu em 2017 e cerca de 100 profissionais saíram da EBC. Em comunicado divulgado em 10 de dezembro, a EBC afirma que mais 257 pessoas se demitirão. O desligamento aconteceu na segunda (17).

O repórter Gesio Passos comenta que o principal motivo das demissões voluntárias foi o medo. “O medo da extinção da EBC e o temor do que vai se transformar. Por exemplo, voltar a ser uma empresa de propaganda do governo”, explica Gesio, que é coordenador do Sindicato dos Jornalistas do Distrito Federal. Nesta leva, cerca de 50 jornalistas entraram no PDV, o cargo que teve a maior adesão.

A diminuição do número de funcionários já está gerando resultados dentro da empresa, pois os profissionais não estão sendo substituídos. Segundo Gesio, o jornal do radiojornalismo diminuiu sua duração, um programa de TV foi retirado do ar, há acúmulo de funções para funcionários que permaneceram na EBC e estão maiores as probabilidades de terceirização de trabalhos técnicos.

Declaração do novo ministro

O futuro ministro da Secretaria de Governo da Presidência da República, o General Carlos Alberto dos Santos Cruz, será o responsável pelas publicidades e assuntos relacionados à comunicação. Nesta segunda (17), ele deu suas primeiras declarações sobre o futuro da EBC, em uma entrevista ao portal Poder360. O general afirma que a EBC será analisada com mais profundidade, mas que é necessária uma modernização. Sobre o quadro de funcionários, afirma que “todo o governo está empenhado em redução de custos”.

Jornalismo premiado

Os trabalhadores e veículos de mídia da EBC ganharam 66 prêmios de jornalismo nos últimos quatro anos. Na lista estão concursos internacionais, de valorização social e também concursos promovidos por empresas privadas.

Por Brasil de Fato