O balanço da semana é extremamente positivo para a candidatura da esperança do ex-presidente Lula. Enquanto Bolsonaro segue criando factoides para fugir do debate sobre os reais problemas do povo, avançamos ainda mais na consolidação de uma ampla aliança democrática e, ainda mais importante, foi a decisão do Comitê de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU), que reconheceu todo arbítrio e lawfare praticado pela Lava Jato contra Lula.
Na decisão, a ONU constata que a Lava Jato violou os direitos políticos, a garantia a um julgamento imparcial e a privacidade do ex-presidente. Concluiu também que a conduta e os atos públicos do ex-juiz Sergio Moro e dos procuradores da força-tarefa violaram o direito de Lula à presunção de inocência.
Além disso, a ONU considerou que as “violações processuais” da Lava Jato tornaram “arbitrária a proibição a Lula de concorrer à Presidência”. Assim, o comitê da ONU entendeu que houve violação dos direitos políticos do ex-presidente, incluindo o de se candidatar às eleições.
Apesar de fazer justiça histórica, assim como já havia feito o plenário do Supremo Tribunal Federal, a decisão da ONU não é capaz de reparar os danos pessoais e familiares de Lula, que ficou preso injustamente por 580 dias. Tampouco diminui o desastre causado pela Lava Jato na nossa economia e na nossa democracia.
Estudo do Dieese aponta que, entre 2014 e 2017, a Lava Jato fez o Brasil perder R$ 172,2 bilhões em investimentos e destruiu 4,4 milhões de empregos. No tocante ao processo democrático, ao alijar Lula, que liderava todas as pesquisas e em todos os cenários, das eleições presidenciais de 2018, a força-tarefa foi decisiva para a eleição de Bolsonaro, da qual muitos arrependidos tardios tentam se desvincular neste momento. Sem falar no papel de Moro e dos procuradores de Curitiba no golpe contra a presidenta Dilma.
No campo das alianças, o PT e o Psol avançaram no diálogo sobre os pontos a serem incorporados no programa de governo do ex-presidente. Em Brasília, a Rede Sustentabilidade anunciou apoio formal à candidatura de Lula, ampliando a aliança no campo democrático. Até João Doria acenou para o ex-presidente ao declarar que: “O Lula não é Bolsonaro, o Lula é inteligente e tem passado. Eu tenho posições diferentes das dele, mas tenho respeito por ele”.
Não menos importante foi a participação de Lula na abertura do Congresso Nacional do PSB. Ao lado de Geraldo Alckmin, foram reafirmados os valores da democracia, do diálogo e da necessidade de reconstrução do Brasil, com foco na preservação da nossa soberania, do desenvolvimento sustentável e da justiça social que são as bases fundamentais dessa aliança.
Por outro lado, Bolsonaro permaneceu estagnado e procurou tensionar ainda mais a relação do Executivo com o Judiciário. Fez ataques desesperados ao nosso processo eleitoral e aos ministros do Supremo para tirar da pauta o desastre econômico e social. Para ficar em alguns exemplos desta semana, levantamento da Austing Rating revelou que a taxa de desemprego do Brasil deve ficar entre as maiores do mundo, uma nova onda de reajustes de preços no mercado de bens de consumo se vislumbra para o segundo trimestre, o preço do gás de cozinha já custa quase 10% do salário mínimo, o preço da gasolina subiu pela segunda semana seguida atingindo novo recorde e a prévia da inflação de abril ficou em 1,73%, a maior para o mês desde 1995.
É essa tragédia econômica e social que Bolsonaro não consegue explicar. Por isso, vislumbrando uma inevitável derrota eleitoral em outubro, trabalha para que as eleições sequer aconteçam e, caso aconteçam, tenham os resultados contestados no grotesco “tapetão” do “Projeto Capitólio”.
Para fugir dessa armadilha, a campanha tem que estar focada nos grandes problemas do nosso povo, como o desemprego, a pobreza, a carestia e o custo de vida, especialmente da cesta básica e dos alimentos, que devem ser o foco de todo o nosso debate político, sem cair nas provocações sistemáticas de Bolsonaro para mudar a pauta.
Mas, em uma eleição polarizada, Lula segue liderando um grande movimento de reconciliação nacional e de isolamento dos extremistas. Com a alma lavada pela decisão da ONU e com o coração generoso de sempre, não tenho dúvidas, que Lula voltará a governar o Brasil para resgatar um país solidário, com projeção internacional, soberano e que combina estabilidade, crescimento econômico, respeito integral aos direitos humanos, preservação ambiental e justiça social.
O país e a democracia precisam derrotar Bolsonaro, pois não há solução possível com ele na presidência. Para isso, Lula é o agente portador de futuro para um Brasil extremamente democrático, plural e acolhedor para todos e para todas.
Aloizio Mercadante é economista e presidente da Fundação Perseu Abramo.