“Esse projeto autoritário, obscurantista e de violação de direitos e garantias vai ser derrotado politicamente, como foi a ditadura no passado. Esse saudosismo da ditadura não tem futuro histórico”. A avaliação é do presidente da Fundação Perseu Abramo, o economista Aloizio Mercadante. Ex-ministro da Educação e da Casa Civil no governo Dilma, Mercadante fez o prognóstico nesta quarta-feira, 5 de agosto, durante o programa ‘Tertúlia’, da TV Democracia, conduzido pelos jornalistas Fábio Pannunzio e Juliana Fratini.
Para Mercadante, haverá uma disputa acirrada entre os dois projetos de nação que estão em choque no país, mas os valores da democracia irão prevalecer. “É uma disputa dura, não é uma disputa fácil, mas eu tenho certeza de que vão prevalecer os valores civilizatórios, os valores do Estado Democrático de Direito, os valores de um Estado republicano, os valores de uma justiça independente, isenta, que não seja partidária”, afirmou.
Ele também comentou a criação de dossiês pelo Ministério da Justiça, que investiga e cataloga os servidores opositores do governo, identificados como antifascistas. “Desde a ditadura que nós não ouvíamos mais falar de serviço de inteligência submetido a um projeto de poder, um projeto do governo”, lamenta. “A inteligência existe para os interesses do Estado brasileiro, sobretudo naquelas questões complexas e temas sensíveis à segurança institucional. Não pode ser utilizado para um projeto de poder, como está sendo feito por essa extrema direita, que não tem limites e agora quer criar uma central de inteligência com essa finalidade”.
“Eu acho que o Supremo [Tribunal Federal] vai ter que reagir novamente, como está fazendo com a questão das fake news, que era outro abuso de autoridade, outra deformidade”, opina.“Então, eu espero que a gente consiga também que o Supremo reaja, exija a punição dos envolvidos e impeça que isso tenha prosseguimento, porque a sinalização do Bolsonaro é que vai continuar”.
Agenda Neoliberal na América Latina
Mercadante avaliou que esse movimento de crescimento da extrema direita, de desrespeito da democracia e de imposição da agenda neoliberal tem ocorrido não só no Brasil, mas em toda a América Latina. “No caso do Equador, por exemplo, Rafael Correa liderava todas as pesquisas presidenciais, forçaram o julgamento dele e suspenderam seus direitos políticos por 25 anos. Em seguida, o juiz eleitoral suspendeu o partido Revolução Cidadã, que lidera todas as pesquisas, uma coisa absurda”, observa.
O ex-ministro também aponta que na Bolívia houve um golpe de Estado contra o ex-presidente Evo Morales, que ganhou as eleições presidenciais no primeiro turno. Segundo Mercadante, há hoje 70 estradas bloqueadas na Bolívia porque os golpistas querem adiar a realização de novas eleições, em que o ex-presidente e o partido dele lideram todas as pesquisas.
“A discussão é se ele tinha 10% ou não a mais que o segundo colocado. Mas, a OEA fez um parecer dizendo que não tinha, deflagrou um processo de levante nas ruas, e você vê que tem grandes magnatas americanos envolvidos nisso por causa do lítio, forças policiais e milícias contra o governo. O Evo acabou renunciando e foi para o exílio, com o Álvaro Liñera e outras lideranças do governo, alguns foram presos e, depois, Harvard fez um estudo mostrando que não houve fraude na eleição”, destaca.
Êxito dos projetos populares
Para Mercadante, o governo Evo foi um exitoso. “Você pode discutir se tinha que ter mais um mandato ou não, mas o projeto de ter um indígena governando a Bolívia, como foi ter um operário, alguém do povo, aqui no Brasil, invertendo prioridades, distribuindo renda, colocando os pobres no orçamento, fazendo o Bolsa Família, o Mais Médicos, o Minha Casa, Minha Vida, aumentando o salário mínimo, colocando 5 milhões de estudantes a mais nas universidades, fazendo a política de cotas para que os alunos das escolas públicas, negros, indígenas e pobres tivesse o direito de entrar na universidade foi um êxito histórico”, explica.
Segundo o presidente da FPA, todos esses avanços foram feitos no Brasil, um país com longo passado escravocrata e colonial e que tem uma oligarquia completamente avessa aos governos populares. “Mas, agora, o país não pode continuar sendo tão desigual, com tanta exclusão social e com tanta pobreza”, pontua. “Acontece que esse período da história mostrou que é possível mudar e essa experiência histórica vai voltar, de que forma e quanto, eu acho que é cedo para dizer, mas vai voltar, porque a maioria do povo vai se conscientizar que é necessário mudanças mais profundas”.
Da Redação