Parte da velha imprensa força a mão ao comparar o incomparável. Jair Messias Bolsonaro não é Luiz Inácio Lula da Silva. O ex-tenente do Exército, que deixou a carreira militar sob a acusação de planejar um atentado terrorista em 1986, foi caracterizado pelos generais Leônidas Pires Gonçalves e Ernesto Geisel como um mau militar, cujo principal problema era ser indisciplinado. Eleito vereador defendendo a ditadura militar, Bolsonaro jamais foi um democrata. Já o metalúrgico que liderou greves nos anos 80 por melhores salários para os trabalhadores, fundou um partido que ajudou a derrubar a ditadura e tem 45 anos de serviços prestados à democracia brasileira.
A presidenta nacional do PT, Gleisi Hoffmann, reagiu à despropositada comparação noticiada nesta terça-feira, 30 de junho, por ‘O Globo’. O esforço do jornal é estabelecer um paralelo e comparar a situação de Lula em 2006 com a de Bolsonaro em 2022. O problema é que não há paralelos entre as situações vividas há uma década e meia por Lula e agora pelo presidente da República. Em compensação, o jornal esconde o que defende: a agenda econômica de Paulo Guedes, que amplia a desigualdade e concentra renda nas camadas mais ricas.
Gleisi diz que não existem nem mesmo o fato que ampara a comparação. Lula tratou de traçar uma estratégia de investir em programas de renda para atender às camadas carentes da população. O ex-presidente reforçou o Bolsa Família, enquanto Bolsonaro trata agora de se apresentar como o criador dos R$ 600 do auxílio emergencial, que ele não apoiou quando encaminhou ao Congresso. Coube à oposição turbinar os R$ 200 oferecidos por Guedes. A ideia de que ambos distribuíram recursos aos mais pobres, portanto, não se ampara na realidade e peca ainda pela omissão de alguns fatos ocorridos agora e no passado.
Gleisi lembra que, há 15 anos, o país vivia o crescimento econômico, com geração de emprego, queda da inflação e aumento da renda do trabalho, fruto de uma aposta do governo Lula em criar as condições para o desenvolvimento econômico com justiça social. “Isso levou ao aumento de produção e consumo de alimentos, vestuário e material de construção, combinados com investimentos maciços do governo federal”, lembra a presidenta do PT.
Segundo a deputada, a situação era diferente. “A tal roda da economia estava girando, como diz o Lula”, aponta. Não é o que está acontecendo agora. O país vive o desemprego na sua fase mais aguda – com previsão de 50 milhões de pessoas no mercado informal de trabalho, mantém empregos precarizados e trabalhadores sem direitos. A desigualdade é crescente e a perspectiva é de que o país mantenha-se em recessão pelos próximos dois anos.
“O fato é que perdemos 10 anos da economia, desde que Dilma deixou a Presidência da República com o impeachment fraudulento e sem crime de responsabilidade”, destaca a deputada. “Mais que o Bolsa Família, foi o dinamismo da economia, o crescimento do mercado de trabalho, a distribuição de renda e os investimentos federais que determinaram a recuperação de Lula nas pesquisas eleitorais pós-crise”, avalia a presidenta do PT.
“Isso Bolsonaro não terá. Sem falar da crise sanitária, que já tirou a vida de 58 mil brasileiros sem que o presidente da República tenha se prontificado a investir um centavo para minimizar os impactos da crise”, critica Gleisi. Além disso, ela lembra que Lula nunca teve a desaprovação maior que a aprovação, como agora acontece com o líder da extrema-direita que ocupa a cadeira no Palácio do Planalto.
As condições da política econômica de Lula não têm comparação com aquela desenhada por Paulo Guedes e implementada por Bolsonaro, que aprofunda o modelo iniciado por Michel Temer: corte de investimentos, privatização empresas da União e redução do tamanho do Estado.
O governo Lula teve como característica o estabelecimento de uma política econômica inclusiva, que reforçou o papel do Estado como peça-chave para o crescimento econômico com justiça social. A de Guedes-Bolsonaro é exclusiva. Só beneficia os ricos e promove o desmonte do Estado brasileiro. “Não dá para comparar”, adverte Gleisi.
Da Redação