Mal começou 2016, o FMI anuncia sua previsão da economia brasileira: encolherá 3,5% esse ano, o que significa aumento do desemprego e da inadimplência dos consumidores, e, consequentemente, da pobreza e da miséria. Como o PIB do Brasil teria diminuído 3,8% em 2015, vale dizer que continuaremos em crise econômica (leia-se “recessão”). Nesse ritmo, logo voltaremos à situação desesperadora de 1999/2002, quando o Brasil era governado pelo PSDB/PFL.
A previsão pessimista do FMI, somado ao bombardeio de notícias ruins propagandeadas todos os dias pela Mídia, causa um devastador sentimento de depressão na maioria das pessoas. Essa percepção da crise, muito maior do que ela é, contribui decisivamente para torná-la cada vez mais efetiva…
A crise econômica no Brasil é inegável, assim como é inegável que boa parte do mundo se encontra em situação semelhante ou até pior, infelizmente. A boa notícia do momento é que a crise brasileira está em crise: setores importantes estão mantendo o ritmo ou até mesmo crescendo, como a indústria aeronáutica, a construção civil, o exportador, a construção pesada, o turismo e o agropecuário. Este por sinal é só alegria, com três recordes: o Valor Bruto de Produção (R$498,5 bilhões em 2015); a safra prevista de 210 milhões de toneladas, e as exportações de carne bovina (US$7,5 bilhões) em 2016.
O câmbio desfavorável para os importadores ajudou as exportações, daí resultando um superávit na balança comercial em 2015 de US$19,7 bilhões (em 2014, houve déficit de US$4 bilhões); o melhor índice de rentabilidade nas exportações dos últimos 11 anos; e os manufaturados voltaram a ter 51,9% do total exportado.
A crise mundial do setor aeronáutico é real; apesar disso, a Embraer entregou 221 aeronaves em 2015, a maior quantidade dos últimos cinco anos: 101 aeronaves para a aviação comercial e 120 para a executiva, sendo 82 jatos leves e 38 jatos grandes. E encerrou o ano com US$22,5 bilhões em pedidos em carteira.
Apesar da queda dos preços do petróleo, de US$100 para US$30 o barril, colocando o setor em crise no mundo, no Brasil a produção em 2015 aumentou, alcançando 2,13 milhões de barris/dia, 4,6% acima da produção de 2014. Com a inclusão do gás natural, a produção total em 2015 atingiu 2,6 milhões de barris de óleo equivalente/dia (boed), 5,5% a mais em relação a 2014, dos quais mais de um terço do Pré-Sal: 767 mil barris/ dia, a maior da história, 56% maior do que a de 2014.
Itaipu voltou a ter a maior produção de energia elétrica do mundo, 89,2 milhões de MWh, o Brasil lidera a corrida por energia eólica – é o 4º lugar no ranking mundial de expansão de potência e o 10º em geração em 2014 (era o 15º em 2013) – e foram incluídas no mercado consumidor 3,4 milhões de famílias de áreas rurais, graças ao Luz para Todos. Em 2016 serão concluídas, continuadas ou iniciadas grandes obras do PAC: hidrelétricas (Belo Monte, Jirau, Teles Pires, Santo Antônio); a transposição do São Francisco; portos, ferrovias, aeroportos, linhas de VLT (veículo leve sobre trilhos) e metrô. O programa Minha Casa Minha Vida iniciará nova etapa, com mais 3 milhões de unidades, que se somarão às 3,7 milhões entregues, beneficiando um total de 25 milhões de pessoas.
A crise da crise é visível também no setor turístico: o câmbio desfavorável causou redução da demanda internacional, mas, em compensação, aumentou muito o fluxo de turistas nos destinos domésticos, lotando estradas, hotéis e aviões – o total de passageiros em voos no Brasil atingiu 117 milhões, em 2015, contra 36 milhões em 2002.
O reajuste do salário mínimo beneficia mais de 48 milhões de trabalhadores ativos e aposentados. Ele passa a valer 2,14 cestas básicas, a maior capacidade de compra registrada desde 1979. Serão R$57 bilhões a mais na economia, uma ajuda e tanto para aumentar o consumo e reduzir o desemprego.
Seguindo a máxima de que crise é “risco e oportunidade”, empresas chinesas continuam investindo no Brasil, e não apenas elas, já que os capitalistas do mundo estão sempre atentos à desvalorização cambial, e consequentemente à de ativos, em mercados do porte do brasileiro, ainda mais quando agências de risco e instituições como o FMI e a Mídia amplificam expectativas negativas, criando um cenário de “bacia das almas”. Tanto interesse do capital internacional pelo Brasil coloca em crise a crise, pois não?
Chegamos assim às vésperas das eleições municipais: as crises política e econômica tendem a diminuir. Entre outras coisas, porque o feitiço virou contra o feiticeiro: grandes empresas de Mídia entraram em crise, com o esfriamento da economia no qual tanto apostaram, e a redução das suas receitas. A crise da Mídia abalou a capacidade de fazer a sua parte, na ofensiva que desenvolve, articulada com nossos adversários políticos e ideológicos – e estes, aos poucos, se veem cada vez mais expostos nas ações, objetivos e ligações perigosas…
Milton Pomar é geógrafo, profissional de marketing, mestrando na Fundação Perseu Abramo em Estado e Políticas Públicas