Partido dos Trabalhadores

Milton Pomar: “As eleições, o pânico da direita e a democracia”

Assistimos nos últimos meses à escalada de um conjunto de ações para desmoralizar o PT, Lula e Dilma.

A mensagem da direita é clara: candidatos das classes trabalhadoras não podem ganhar eleições presidenciais, e se ganharem, não podem governar! – Essa mensagem assusta, porque se nos tiram a possibilidade de exercer o mandato presidencial conquistado, de que vale participar do processo democrático das eleições? E se nos fecham a alternativa eleitoral, qual é então o caminho a ser seguido no Brasil, para reduzir a concentração de renda, que é das mais altas do mundo, e a inaceitável desigualdade social?

Desde os resultados das eleições de 2012, quando ganhamos a maior prefeitura do país com um quadro “técnico”, e obtivemos 17,2 milhões de votos, o maior total nacional, a direita entrou em pânico. O desempenho do PT nas eleições municipais, de 1996 a 2012, comparado com os outros grandes partidos, não deixava margem a dúvidas: fomos o que mais cresceu (60%) em votos, enquanto os demais diminuíram: PMDB -5%, PDT -10%, PSDB -22%, PP -45% e DEM -55%. A força eleitoral do PT e aliados, confirmada novamente em 2014, com os 51,6% dos votos obtidos no segundo turno, aumentou o pânico da direita. Após a quarta derrota sucessiva nas eleições presidenciais, a direita resolveu quebrar a economia. Não satisfeita com isso, em 2016 decidiu incendiar o país.

Essa situação lembra bastante a da Venezuela, em março de 2002, relatada por Eva Golinger (“A Case Study of Media Concentration and Power in Venezuela”): a Mídia liderando o golpe contra o presidente Hugo Chávez, eleito em 1998 com 56% dos votos. Lá como cá, havia as TVs Golpe – a RCTV, e a Venevisión, do Grupo Cisneros. Quando Pedro Carmona, da Fedecámaras, a maior entidade empresarial do país, assumiu a presidência do país dia 11 de abril, sem um único voto popular, ele anulou a Constituição e dissolveu o Congresso, o Supremo Tribunal, e outras instituições. Lá, o povo pobre foi para as ruas e derrotou o golpe, em três dias.

A atuação abertamente política das tevês e rádios constitui grave infração, e dá base legal para o governo cassar tais concessões públicas. Igualmente, a atuação política ostensiva de juízes, promotores, e da Polícia Federal (PF), também constitui infração à lei: são servidores do Estado tentando destituir a presidenta da República por divergência partidária.

Assistimos nos últimos meses à escalada de um conjunto de ações para desmoralizar o PT, Lula e Dilma, a partir de acusações não-comprovadas, diálogos gravados, ações espalhafatosas do Judiciário e denúncias sob encomenda de pessoas torturadas psicologicamente até aceitarem fazer acordo de delação. Toda a “lama” resultante tem sido jogada contra nós, repetidas e variadas vezes, pela TV Golpe e outras tevês, duas mil rádios, dezenas de jornais e três revistas semanais, visando destruir os conceitos positivos que a maioria da população tem de Lula e dos demais integrantes do PT, como defensores das classes trabalhadoras e do povo pobre.

A direita sempre odiou quem atuava para reduzir concentração de renda e desigualdade social no Brasil. Seus integrantes empresariais, acadêmicos, políticos e jornalísticos não querem nem ouvir falar de aumento real do salário mínimo, diminuição do desemprego a níveis de quase “pleno emprego”, reajustes salariais acima da inflação, inclusão do trabalho doméstico como atividade protegida por lei, e as cotas e programas de bolsas que permitem aos pobres o acesso à educação, moradia melhor e a uma renda mínima.

O ódio “novo” da direita é pânico puro, e deve-se à constatação que não conseguiram intimidar a militância de esquerda, democrata e progressista, e ao fato de estarem sendo expostas as entranhas do sistema político-empresarial que criaram: nomes, quantias e o funcionamento em si do sistema. Somam-se a isso a condenação de empresários e operadores do sistema; as delações ainda desconhecidas de dezenas deles; e a descoberta de movimentações financeiras da TV Golpe e seu possível envolvimento com corrupção na CBF e CARF, fragilizando a principal artilharia de propaganda. Tudo isso explica o ódio tornado público, e também a pressa para levar adiante o processo de impedimento da presidenta, na esperança de que assumindo a presidência da República conseguirão impedir condenações, como já fizeram tantas vezes, em outras operações da PF e com outros procuradores gerais. Os prejuízos bilionários gerados pela Lava Jato em setores estratégicos da economia, mais o que ocorreu com o banco Pactual, aumenta o pânico da direita de perdas econômicas, das empresas diretamente envolvidas na Zelotes e em dezenas de outras operações da PF em andamento. E há o temor deles da execração pública e das possibilidades cada vez mais reais de condenação, prisão, e multas milionárias.

Por tudo isso, temos que continuar mobilizados, em defesa da manutenção das regras do jogo eleitoral, da democracia e da Constituição, e pela alteração da política econômica do governo federal e por outras bandeiras históricas das forças que elegeram o governo Dilma.

 

Milton Pomar – geógrafo, mestrando em “Estado e Políticas Públicas” pela Fundação Perseu Abramo, atua em campanhas eleitorais do PT desde 1986.