Disputar campanhas eleitorais para os parlamentos e governos infelizmente ainda não anima a maioria das petistas com nítido potencial de atuação nesses espaços. Avançamos muito na participação feminina no PT, desde a fundação do Partido, e pouco na quantidade de petistas candidatas. Desde que comecei a ministrar o curso para candidatas e candidatos em potencial, em Santa Catarina, em 1997, e depois também em outros estados, ficou evidente que a motivação para disputar as eleições não surtia o mesmo efeito entre as petistas.
Em 2015 e 2016, nos cursos realizados em Florianópolis, Fortaleza, Manaus, Macapá e em outras cidades, esse fenômeno se repetiu mais uma vez. Havia muitas lideranças sindicais, professoras universitárias, profissionais liberais, agricultoras, estudantes, com toda a disposição de participar das campanhas, mas não como candidatas. O argumento central, para justificar não se candidatarem, é comum para as e os petistas: é quase impossível se eleger, por causa da compra de votos dominante no Brasil. E é mais difícil para candidatas se elegerem, por razões adicionais específicas: família, falta de recursos, machismo, a campanha em si etc.
Começa pelo fato de que os nomes das instituições em disputa continuam masculinos: câmaras de vereadores e de deputados. E até hoje ninguém se candidata a prefeita, vereadora, deputada etc. – os cargos continuam oficialmente masculinos. É possível que esse fato influencie negativamente as candidatas, mas não se tem notícia de uma pesquisa a respeito desse e de outros aspectos, da participação feminina em disputas eleitorais no Brasil.
Outro fator determinante para desmotivar mulheres a disputar eleição para vereadora é o quase total domínio masculino (90% ou mais) na maioria das câmaras municipais, em relação inversa à proporção de eleitoras e eleitores nas cidades.
Em Florianópolis, por exemplo, com 53,7% de eleitoras, a Câmara deveria ter 12 vereadoras e 11 vereadores, e não uma vereadora e 22 vereadores como é atualmente. Macapá, também com 23 vagas, e 52,4% de eleitoras, elegeu três vereadoras. Manaus, com 53% de eleitoras, elegeu quatro em 41. E Fortaleza, com 54,9% do total de eleitoras, elegeu seis vereadoras, em um total de 43.
Há outro aspecto importante em relação ao eleitorado nessas capitais: exceto em Macapá, onde a parcela do eleitorado de analfabetos de homens é pior do que o das mulheres; nas outras três, as eleitoras analfabetas declaradas e funcionais são em número maior do que o dos homens. Em Fortaleza, havia um total de 626 mil eleitoras e eleitores nessa condição, equivalente a expressivos 37% do total.
É possível conseguirmos alterar significativamente essa realidade, com pesquisas, motivação, treinamento de argumentação e os cursos de coordenação de campanhas para candidatas, realizados com a necessária antecedência. No caso das petistas com potencial para serem parlamentares ou governantes, a motivação tem que ser realizada na etapa anterior, da tomada de decisão. Só que a dinâmica eleitoral interna e externa não permite essa antecedência toda – o que explica porque muitas candidaturas são decididas às vésperas da data do registro, impossibilitando a eleição da quase totalidade das candidatas.
Por isso, a Secretaria de Mulheres do PT Nacional deve promover evento para todas as petistas que foram candidatas em 2016, que tiveram a coragem e a disposição de disputar as eleições municipais, tradicionalmente muito difíceis, e mais ainda no ano passado, pelas razões conhecidas. Da mesma forma, o evento que ocorrerá dias 17 e 18 de fevereiro, deveria ser, por seus objetivos, para “vereadoras e prefeitas”, e não para “eleitas”.
Realizar evento para “eleitas” (5% do total das petistas candidatas?), pode ser interpretado de maneira negativa pelas petistas que cogitarem se candidatar nas próximas eleições – dificultando sobremaneira o trabalho de motivação e as campanhas, e, consequentemente, as quantidades de eleitas em 2018 e 2020.
Milton Pomar, 58, é geógrafo e professor, “campanheiro” petista desde 1986.