Está difícil saber a extensão e profundidade do atual curto-circuito nos meios empresarial e político do Brasil, resultado da divulgação prematura e propositalmente misturada de possíveis delitos envolvendo financiamento eleitoral, com a apropriação de recursos públicos em larga escala, por grandes grupos empresariais, parlamentares, integrantes de governos nos três níveis e empresários da mídia.
Esse curto-circuito será maior se as investigações na FIFA pegarem a CBF/Globo; se ficar comprovado o envolvimento de megaempresas em fraudes no CARF; se remessas ilegais de recursos, via Banestado, forem ressuscitadas e os envolvidos denunciados; e se vierem à luz nomes de brasileiros no “Panama Papers” e no HSBC na Suíça.
Verdade que a mixórdia de investigações, delações, traições, prisões, condenações, multas, acordos de leniência e execração pública de centenas de pessoas é produto do “modus operandi” político e agressivo da parcela do Estado (Judiciário, PF, MPF), que atua no combate à corrupção em íntima parceria com empresas que fazem propaganda disfarçada de jornalismo. Combate que está custando muito caro à economia nacional, em especial os setores de petróleo e gás e construção pesada: o desemprego mais que dobrou, caiu a arrecadação dos governos.
Verdade também que o combate à corrupção em tão grande escala deve-se ao PT no governo federal desde 2003, via nova legislação; ampliação, através de concurso, dos efetivos da PF, Receita Federal, COAF e CGU; de maiores recursos para estruturas e operações; e possibilitando inédita e histórica liberdade a esses órgãos federais para investigar, até não restar “pedra sobre pedra” no combate à corrupção.
E até acabar o estoque de pedras, faltam os magistrados e promotores que recebem valores maiores que o teto legal de salários; as “n” formas de corrupção das polícias civil e militar e dos presídios e abrigos para menores; os casos envolvendo militares das Forças Armadas (para estes, processos correm em segredo de justiça); os “cartolas” de futebol; os jornalistas que recebem “jabá”; médicos e outros profissionais envolvidos em fraudes contra o sistema público de saúde; e em muitas outras situações desonestas.
Os operadores policiais, jurídicos e midiáticos da atual cruzada contra a corrupção no Brasil começaram-na mirando nas relações entre empresários e representantes dos trabalhadores, por desconsiderarem tolamente quão corrupta e fraudulenta é a natureza do capitalismo.
Bateram de frente com a realidade nacional, anterior à época do Barão de Mauá, dos relacionamentos corruptos de empresários que fazem negócios com governos, políticos a serviço de empresários, e empresários que estão na política para fazer negócios – 80% do total, no Congresso, assembleias e câmaras municipais.
Quando não restar “pedra sobre pedra”, chegaremos ao curto-circuito total, econômico e político. Talvez fiquem apenas cinzas das instituições brasileiras; com certeza faltarão cadeias quatro e cinco estrelas e tornozeleiras de grife para os milhares de ricos, empresários e políticos envolvidos em negócios ilegais no universo de 5,5 mil prefeituras e respectivas câmaras de vereadores, 27 governos estaduais/assembleias legislativas, Governo Federal, Congresso, Judiciário, polícias, Forças Armadas, fundações, etc…
Quaisquer que sejam os desdobramentos desse verdadeiro caos que se avizinha, uma coisa é certa: a corrupção só será reduzida se houver combate feroz à sua base de funcionamento – a compra e venda de votos nas eleições municipais. Isso será possível através de campanha nacional, de julho a outubro de 2016, articulada pelos movimentos sindical e popular, entidades diversas, igrejas, universidades e institutos federais, forças armadas, polícias, judiciário etc.
Com investigações pela PF, para que sejam presos, julgados e condenados em todo o país compradores, vendedores e financiadores dessa prática criminosa.
Milton Pomar, 58, é profissional de marketing, geógrafo e mestrando em Estado e Políticas Públicas pela Fundação Perseu Abramo. Trabalha em campanhas eleitorais desde 1986.