Precisou o senador Jucá dizer o que disse, para o Brasil se dar conta do óbvio ululante: não, com os golpistas o sistema político atual não será alterado em sua essência; e não, a corrupção não acabará por causa das prisões de alguns poucos empresários, políticos e executivos de empresas públicas. As eleições de 2016 serão na mesma lógica de sempre: compra impune de votos por quem tem dinheiro, perpetuando o sistema, agora por candidatos a vereador, para si e para seus candidatos a prefeito; e, nas eleições seguintes, pelos atuais candidatos, então como “cabos eleitorais” de deputados etc. Daí suas campanhas serem tão caras: 60% ou mais do que gastam é em compra de votos.
Como quem compra não chega a dez por cento do total de candidatos e candidatas, poderá haver esperança de que as coisas mudarão para melhor, se esse ano forem presos por compra de votos uns 50 mil candidatos e candidatas, dos mais de 15 mil a prefeito e 900 mil a vereador.
Capitalistas fraudam, corrompem e são corrompidos sempre que necessário, isso é algo intrínseco à sua própria atividade, seja nos Estados Unidos, Japão, Alemanha, França, ou Brasil. Sendo assim, por que o capitalista sistema político e eleitoral brasileiro seria “honesto”? – Aqui, e no restante do mundo, é o dinheiro, e não as ideias, que move as engrenagens do sistema: 80% ou mais dos parlamentares e executivos são eleitos para representar interesses capitalistas, não de trabalhadores.
Pesquisando sobre capitalistas, e a sua incidência nas eleições no Brasil, depara-se com “n” formas de corrupção; e em todos os setores da economia, inacreditável quantidade e variedade de fraudes – cometidas em sua maioria por empresários e executivos. Nos casos de corrupção, também há políticos e funcionários públicos envolvidos.
O que dizer a respeito das fraudes históricas de comerciantes, do pão com peso inferior ao que é pago, do leite acrescido de água, do pó de café com “tudo”, e da gasolina e bebidas alcoólicas adulteradas, se uma Volkswagen cria e instala, em milhões de carros, software para enganar a fiscalização ambiental dos Estados Unidos; grandes bancos manipulam a taxa de juros Libor na Inglaterra, sobre trilhões de dólares negociados no mundo; empresas de médio e grande portes, nos EUA e Brasil, pagam multas até bilionárias, para escaparem de processos federais por fraudes e outros crimes; remédios de uso contínuo são falsificados por especialistas e vendidos para milhares de pessoas, e tantos outros casos incríveis?
Infelizmente, a grande maioria da população ignora “como funciona o esquema” de apropriação de dinheiro público no Brasil, por uns e outros (playboys, empresários, políticos, dirigentes esportivos, líderes religiosos, fazendeiros): dezenas de milhares de pessoas apropriando-se o tempo todo de dinheiro público de maneira legalizada, e/ou ilegal, para aumentar a renda e seus patrimônios midiáticos, urbanos, rurais, em bancos estrangeiros, e também para campanhas eleitorais.
Delações, traições, prisões e condenações de 100 ou 200 “corruptos”, mais ou menos importantes, abalam o venal sistema político brasileiro, mas não conseguirão levá-lo ao colapso. A sua longevidade (ganhou asas com a construção de Brasília, a partir de 1956, e vulto com as obras da ditadura: Transamazônica, Itaipu, Ferrovia do Aço, usina de Angra dos Reis, ponte Rio-Niterói) e força vão além dos seus integrantes empresariais e políticos; conta com brechas legais, a lentidão e contradições do Judiciário, mais o apoio da mídia, de bancos e de quem vive de juros. Prova disso é a manutenção das concessões públicas de rádio e televisão como dantes, e a continuidade intocável da extorsão da União via juros e amortização da dívida pública – mais de 1,3 trilhão de reais esse ano.
Campanhas pela Auditoria da Dívida Pública, redução das taxas de juros, revisão das concessões de rádios e tevês, e pela prisão de quem compra votos, ajudarão a aumentar a enorme crise dos golpistas e seus apoiadores financeiros, e proporcionará aumento da representação popular nas câmaras de vereadores e vereadores e prefeituras.
Milton Pomar é Mestrando em Estado e Políticas Públicas pela Fundação Perseu Abramo, geógrafo e profissional de marketing, desde 1986 trabalhando em campanhas eleitorais petistas