Comprovado que o “impeachment” não tem razão jurídica de ser, por inexistência de crime de responsabilidade, a maioria do Senado deverá ter o bom senso de votar pelo fim dessa imensa farsa, permitindo assim ao interino golpista voltar à sua insignificância e a presidenta eleita a reassumir seu mandato.
Mas… desfeita a farsa do “impeachment”, os donos do Brasil continuam a ofensiva judicial e midiática, visando impedir a vitória do PT nas próximas eleições presidenciais, tentando inviabilizar a candidatura do Lula, e, agora, liquidar o Partido dos Trabalhadores(!) – a exemplo do que fizeram com o PCB, na ditadura Dutra, após as vitórias do partido nas eleições municipais de 1946.
Realmente, a burguesia brasileira só aceita eleições que ela possa comprar ou fraudar…
Acabar com o PT sempre foi o sonho de latifundiários, capitalistas e políticos de direita. Como não conseguiram fazer isso pela via eleitoral, nem através da intensa propaganda da mídia articulada com integrantes do Estado e políticos de direita, decidiram partir para o tudo ou nada: dia 5 de agosto, Gilmar Mendes, ora presidente do Tribunal Superior Eleitoral – que se utiliza, de maneira impune até hoje, do cargo de ministro de tribunal superior para proselitismo político –, anunciou a instalação de procedimento jurídico para extinguir o Partido dos Trabalhadores.
Quem avalia que a ação de Gilmar Mendes “é só para aparecer, não vai prosperar”, esquece que os donos do Brasil não brincam em serviço.
Eles esfriaram a economia, causando o desemprego de milhões de pessoas, e, através da ofensiva jurídica visando culpar o PT pelo funcionamento do sistema político financiado pelo capital, desmontaram os setores da construção pesada e de petróleo e gás, causando enormes prejuízos à economia nacional e colocando em risco a soberania do país no setor de energia.
A partir de 2011, líderes empresariais, consultores e políticos de direita, divulgaram as teses de que somente uma crise econômica possibilitaria tirar o PT da Presidência, e que os modestos reajustes salariais, conquistados por várias categorias de trabalhadoras e trabalhadores, estavam “acima da produtividade” e por isso causavam queda dos lucros – esses reajustes foram obtidos, em alguns casos, graças ao quase pleno emprego, em 2011/12, o que possibilitou maior poder de barganha aos empregados.
Era preciso esfriar a economia nacional, aumentar o desemprego, diminuir salários e reajustes, e aí então, com a crise instalada, a oposição poderia ganhar as eleições de 2014.
A sucessiva redução da taxa de juros pelo Banco Central (Selic) no governo Dilma, até atingir 7,25%, em outubro de 2012, enfureceu os capitalistas que vivem de juros, porque diminuiu seus lucros absurdos.
Esse patamar inédito durou até abril de 2013 – quando Dilma atingiu o auge da popularidade: 79% de aprovação pessoal, pela pesquisa Ibope/ CNI publicada dia 19/03/13. Coincidentemente, a partir daí, Dilma passou a ser atacada com muita fúria, e a sua popularidade caiu cada vez mais.
Capitalistas que vivem de juros são poucos, mas não são fracos: estima-se serem 71 mil no Brasil, ganhando 500 bilhões de reais de juros por ano, somente da Dívida Pública, fora outras aplicações financeiras. Concentram mais de 60% da renda e do patrimônio no país – são os verdadeiros donos do Brasil.
A gota que lhes faltava, para entrarem na formação da crise, foi de petróleo: em maio de 2013, a Agência Nacional de Petróleo (ANP) licitou áreas do Pré-Sal, cujas reservas totais são estimadas em até 176 bilhões de barris, impondo o sistema de partilha nas concessões para exploração, e a obrigação de participação mínima de 30% da Petrobrás nos investimentos, exigências contrárias aos interesses das multinacionais do petróleo.
Esse é o quadro. Eles agem, e nós reagimos, às agressões, às mentiras, às armações e tudo o mais. A pergunta que não quer calar da militância de esquerda, em todo o país, é simples e direta: vamos continuar esperando?
Milton Pomar, 58, é militante e “campanheiro” do PT