O ministro da Saúde do governo golpista de Michel Temer, Ricardo Barros (PP-PR), afirmou, nessa segunda (16), em entrevista ao jornal “Folha de S. Paulo”, que o País não conseguirá mais sustentar direitos garantidos pela Constituição, como o acesso universal à saúde.
“Em um determinado momento, vamos ter que repactuar, como aconteceu na Grécia, que cortou as aposentadorias, e outros países que tiveram que repactuar as obrigações do Estado porque ele não tinha mais capacidade de sustentá-las”, afirmou o ministro.
Na entrevista à “Folha”, Barros disse que é recomendável que os cidadãos tenham plano de saúde privado. “Quanto mais gente puder ter planos, melhor, porque vai ter atendimento patrocinado por eles mesmos, o que alivia o custo do governo em sustentar essa questão”.
O maior doador individual da campanha de Barros para deputado federal em 2014, coincidentemente ou não, foi Elon Gomes de Almeida, sócio do Grupo Aliança, uma gigante de planos de saúde, informou a coluna Expresso, da revista “Época”.
Apesar das dificuldades, o Sistema Único de Saúde (SUS) é considerado referência mundial em atendimento universal e gratuito de saúde. O The New England Journal of Medicine, um dos mais importantes semanários da área de saúde do mundo, por exemplo, escreveu que o Brasil promoveu a ampliação do acesso da população à assistência médico pelo SUS e inovou ao aperfeiçoar o atendimento à saúde básica nas comunidades.
“O mundo pode aprender algumas lições com a experiência brasileira”, escreveu o semanário secular.
Não bastasse a polêmica com o SUS, o ministro golpista quer envolver as igrejas na discussão sobre aborto no Brasil. “Vamos ter de conversar com a Igreja. A decisão do ministério não deve provocar resistência ou discussão. Temos de ajustar. Antes de propor uma política para isso, vamos ter de realizar um diálogo muito amplo”.
Além disso, o ministro ainda quer reduzir a participação de estrangeiros no Mais Médicos após as eleições municipais.
Austeridade contra o SUS
Para a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), o ministro golpista usa o “discurso comportado da austeridade orçamentária” para prejudicar o SUS com o corte de recursos.
“Sob o discurso de “aperfeiçoar a gestão” do SUS, esconde-se a real intenção de reduzi-lo, diminuí-lo. Afinal, ele custa muito”, diz a senadora.
O senador Humberto Costa (PT-PE), líder do Governo Dilma no Senado, condenou duramente as declarações do novo ministro da Saúde.
“O SUS é uma conquista dos brasileiros, que garante acesso universal de 150 milhões de pessoas a serviços essenciais. Acabar com a universalização é, na prática, destruir o sistema e atentar contra a vida dos que não têm como arcar com os altos custos dos planos de saúde. Estão ameaçando o que nós temos de mais precioso: a vida”, alertou Humberto.
O senador, que é ex-ministro da Saúde (2003-2005) do Governo Lula , também lembrou que o acesso à saúde é uma “cláusula pétrea” da Constituição e não pode ser alterada “ao gosto de quem quer que seja, muito menos por um governo sem legitimidade e sem voto”.
“O ministro da Saúde – um parlamentar licenciado que desconhece o fato de que a Constituição não foi sancionada, mas promulgada – disse hoje que a Carta Magna do País só tem direitos e não deveres. Não é de se admirar que faça parte desse governo golpista. Conseguimos em cinco dias de interinidade voltar para antes de 1988. Passamos a viver em um país autoritário, em que já não valem mais os direitos e as garantias individuais”, disse.
Humberto alertou, ainda, sobre o que chamou de tentativa de “privatização da saúde”, em referência à afirmação de Barros dee “quanto mais gente puder ter planos, melhor”.
“Quando o ministro da Saúde critica a Justiça, sem nenhum pudor, por garantir acesso de pessoas doentes a tratamentos caros por meio dos seus planos de saúde, fica muito claro quem o ministro quer beneficiar. Mas vamos resistir, não vamos aceitar mudanças que alterem aquilo que é uma conquista de todos os brasileiros”, afirmou o senador.
Da Redação da Agência PT de Notícias, com informações da Folha de S. Paulo