Partido dos Trabalhadores

“Ministros” de Bolsonaro indicam governo de retrocessos

Em caso de vitória, candidato reserva núcleo da administração federal ao “time dos sonhos” do militarismo, moralismo e neoliberalismo

Reprodução/Google News

Presidenciável do PSL tem anunciado aos poucos nomes que integrariam o primeiro escalão de seu eventual governo

Ao longo da corrida rumo ao Palácio do Planalto, os presidenciáveis têm articulado diferentes nomes para compor seus eventuais governos.

Na lista de opções do candidato de extrema direita Jair Bolsonaro (PSL), o destaque na provável composição dos ministérios é para três perfis – já confirmados – que se destacam pelo discurso conservador na política e pelo caráter neoliberal no pensamento econômico.

O primeiro deles é Paulo Guedes, apontado como seu “guru econômico”, e que, em caso de vitória da chapa, deve comandar a pasta que irá aglutinar os Ministérios da Fazenda e do Planejamento. Consultor de linha neoliberal, Guedes defende, entre outras coisas, a privatização sem restrições das empresas e agências governamentais, e é apontado como o garoto-propaganda de Bolsonaro junto ao mercado financeiro.

O economista é pós-graduado pela Universidade de Chicago, expoente do pensamento neoliberal e ponto de origem ideológica dos governos latinoamericanos nos anos 1980 e 1990, e de onde saiu diretamente para ser professor da Universidade do Chile, em um período no qual a instituição estava sob intervenção da ditadura de Augusto Pinochet (1973-1991). Atualmente, é um dos sócios da Bozano Investimentos, empresa que gere cerca de R$ 2,7 bilhões em fundos de investimento, segundo dados oficiais da própria companhia.

Um eventual governo Bolsonaro deverá ter também o atual deputado federal Onyx Lorenzoni (DEM-RS) como ministro da Casa Civil, pasta que responde pela articulação política do governo.

Reeleito para um novo mandato na Câmara e membro da bancada ruralista, o democrata é o atual coordenador político da campanha de Bolsonaro. Ele foi um dos articuladores do apoio oficial dado à chapa do líder do PSL por parte da Frente Parlamentar Agropecuária (FPA), grupo que congrega deputados e senadores ligados ao agronegócio.

Lorenzoni é um dos mais insistentes e estridentes detratores do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a quem frequentemente acusa de ser “chefe da quadrilha” responsável pela corrupção no Brasil. O próprio deputado, porém, consta na lista de beneficiados por propinas da Odebrecht, e admitiu a uma rádio de Porto Alegre, em 2017, que recebeu R$ 100 mil em doações ilegais da JBS.

O terceiro nome que foi confirmado por Bolsonaro como membro da cúpula do Executivo é o do general da reserva do Exército Augusto Heleno, que iria para o Ministério da Defesa.

Heleno é um dos três generais que ajudam a articular o plano de governo do candidato do PSL, e atua como consultor de campanha na área da segurança pública. Figura de posicionamentos conservadores, o militar defende políticas como a redução da maioridade penal, o controle militar de comunidades consideradas “tomadas” pelo tráfico de drogas e a revisão das leis para reduzir as punições a militares e agentes policiais que matarem durante o serviço.

Agricultura e Meio Ambiente

Para o Ministério da Agricultura – que deverá acumular ainda as funções do Meio Ambiente –, por exemplo, Bolsonaro chegou a cogitar o nome do fazendeiro e pecuarista Nabhan Garcia, milionário que preside a União Democrática Ruralista (UDR). A entidade é conhecida pelos embates com movimentos populares que reúnem trabalhadores do campo.

Garcia tem defendido, entre outras coisas, um combate ao que chama de “indústria da multa” na área do meio ambiente. A declaração é uma referência à fiscalização no meio rural para evitar degradação dos recursos naturais, prática comum ao agronegócio.

O anúncio do nome dele como possível ministro gerou ciumeira nos bastidores do ruralismo. Nos últimos dias, Bolsonaro voltou atrás e disse que, em caso de vitória sua, ele não será ministro. No entanto, num aceno ao agronegócio, o presidenciável afirmou que o cargo ficaria com alguém do “setor produtivo”.

Outros

De acordo com o presidenciável do PSL, a ideia é reduzir o número de ministérios de 29 para 15. Ele já ventilou vários possíveis nomes. Além dos três confirmados, Bolsonaro poderá contar, por exemplo, com o de Stavos Xanthopoylos no Ministério da Educação.

Um de seus conselheiros para políticas desse setor, Xanthopoylos compõe a diretoria da Associação Brasileira de Educação a Distância (ABED) e já integrou também os quadros da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

Um possível nome citado por Bolsonaro para o Ministério da Saúde, por exemplo, é o do pecuarista Henrique Prata, médico que dirige o Hospital de Amor, antigo Hospital do Câncer de Barretos (SP). Ele é amigo pessoal de Bolsonaro.

Já o general Osvaldo Ferreira, que participa da campanha com propostas para a área de infraestrutura, é cotado para o Ministério dos Transportes, enquanto o astronauta brasileiro Marcos Pontes é o nome visado para a pasta de Ciência e Tecnologia.

Pontes já ensaia uma atuação política há algum tempo. Ele é atualmente o segundo suplente do deputado federal Major Olímpio (PSL-SP) e chegou a ser cogitado para vice de Bolsonaro na chapa presidencial.

Uma pasta para a qual Bolsonaro também não fechou questão no caso de um possível governo é a do Ministério da Justiça, que poderá ser liderada, por exemplo, pelo atual presidente interino do PSL, Gustavo Bebianno, que coordena a assessoria jurídica da campanha de Bolsonaro. Outra possibilidade é o advogado Antonio Pitombo, que defende o presidenciável de ações que tramitam contra ele no Supremo Tribunal Federal (STF).

Por Brasil de Fato