Nos últimos tempos somos atacados com as ofensas à Presidenta Dilma Rousseff. Somos, no plural, porque quando se ataca a figura da Presidenta, não se ataca apenas a pessoa de Dilma Rousseff, se ataca a Instituição que ela representa e da qual somos parte.
Estamos em uma democracia e temos o direito de criticar, mas independente da discordância que se tenha com a pessoa Dilma ou com a legenda que a elegeu, não se pode ofender a maior representante da nação. Para além de Dilma ser a Presidenta da República e toda a cortesia e respeito que deve ser tratada, ofendê-la é mais do que um desrespeito cívico, é um desrespeito a uma senhora de 67 anos, mãe e avó.
Dilma foi reeleita Presidenta da República, mas o desrespeito à única mulher que chegou a este posto mostra sua face machista sempre. Em julho circulou nas redes um adesivo sexista e misógino divulgado em um site de compras da internet, para ser colocado na entrada dos tanques de gasolina dos carros, com o rosto da Presidenta colado em um corpo feminino de pernas abertas, de modo que, quando a bomba fosse abastecer o veículo, se daria a ideia de que estaria penetrando-a sexualmente.
Em agosto, a hashtag #Dilmanaplayboy e supostas capas foi o assunto mais comentados do país no Twitter. A hashtag já havia sido postada anteriormente, mas apenas este ano entrou no ranking dos assuntos mais comentados do microblog. O adesivo e a hashtag desrespeitam a dignidade humana da Dilma, como também a instituição que ela representa.
Existem ainda imagens que são repassadas por grupos de Whatsapp, em uma delas aparece a Presidenta grávida com o seguinte escrito: “Campanha: Bruno, por favor, engravida a Dilma! …o resto é com o macarrão!”, neste caso é um estimulo ao assassinato à Presidenta, quando fazem alusão ao assassinato bárbaro de Eliza Samudio.
Ainda em agosto, o jornalista João Luiz Vieira, um dos editores da revista Época, publicou um artigo intitulado “Dilma e o Sexo”, atribuindo que os problemas que Dilma Rousseff enfrenta à frente do comando da nação se resumiriam a “falta de erotismo” ou ao fato dela ter se tornado, na opinião dele, uma mulher assexuada. Vieira infere que a sexualidade de Dilma tenha sido subtraída há pelo menos uma década, como que provando exatamente o contrário: poder e sexo precisando se aniquilar. O jornalista ainda questiona se Dilma não devaneia, se não sente falta de alguém para preencher a solidão que o poder provoca em noites insones?!
João Luiz Vieira perdeu a oportunidade de ficar calado e o senso do ridículo, tendo sido criticado por colegas e leitores (não eleitores de Dilma), que questionaram o limite do bom senso e da liberdade de imprensa. O mau gosto do texto repercutiu tão mal que o texto foi retirado do ar logo depois. No texto, Vieira citava os adesivos de Dilma como machistas e misóginos, mas foi capaz de produzir um texto tão machista, sexista e misógino quanto, ao sugerir que uma mulher precisa de alguém ao seu lado para se satisfazer ou que precisariade erotismo para melhorar sua relação com o mundo.
Vieira perpetua assim o grito dos machistas quando uma mulher não atende os padrões sociais de feminilidade, sensibilidade e doçura, atribuindo à falta do sexo o motivo para os problemas. Quantas vezes as mulheres escutam que são mal amadas, que dormiram de calça jeans ou outros termos impublicáveis?
Esse tipo de atitude perpetua o machismo ao atribuir que mulheres que não tem um parceiro são infelizes, mal humoradas, agressivas, ou de mal com a vida. Como se a felicidade feminina dependesse de uma companhia.
Repudiamos as vaias, os xingamentos de baixo calão, os adesivos, as hashtags ofensivas e este artigo infame que ofendem a honra não apenas da senhora Dilma Rousseff, mas da Presidenta da Nação, Dilma Rousseff.
Pedimos que a Advocacia Geral da União, o Ministério Público Federal e o Ministério da Justiça apurem e tomem as medidas cabíveis, com punição dos responsáveis, já que os crimes contra a honra da Presidenta da República estão previstas no Código Penal Brasileiro, com reclusão de 1 a 4 anos e multa (Código Penal Brasileiro, Capítulo V, dos Crimes contra a honra, Artigos 138,139, 140 e 141. Lei nº 7.170/1983, Artigos 26, 27, 28 e 29).
Solidarizamos-nos com a Presidenta Dilma como mulheres, como mães e avós, como cidadãs brasileiras e exigimos respeito à nossa compatriota, cidadã brasileira, Dilma Rousseff.
Moema Gramacho é deputada federal (PT-BA) e coordenadora do Núcleo de Mulheres do PT da Câmara dos Deputados