1990: o mundo está perplexo! No ano anterior, em novembro de 1989, o fim do chamado socialismo real , com a destruição do Muro de Berlim, o maior símbolo da Guerra Fria, inaugura um novo momento na história da humanidade. As potências capitalistas definem suas novas diretrizes para criar um novo reinado, baseado no Consenso de Washington e em suas políticas neoliberais, cuja prática já havia começado alguns anos antes. Nada mais de disputas político-ideológicas, o planeta se uniria sob a crença única da evolução da humanidade garantida pelo mercado e pelos próprios indivíduos, livre de um suposto estado controlador, cuja única finalidade era impedir os individuos e as empresas de exercerem todo o seu potencial , com liberdade.
Década de 1990: a pobreza extrema afeta os países da América Latina e do Caribe. Serviços básicos como saúde e educação são direitos de poucos, a fome é uma chaga que vitima milhões de pessoas. Muitos nem têm casa para morar. Essa grave situação se aprofundava com as políticas neoliberais que haviam aberto seu caminho em nossas nações. Movimento sindical, movimentos políticos, sociais e populares lutam e resistem a esse projeto e seus efeitos nocivos.
Julho de 1990: Sob o nome “Reunião de Partidos e Organizações de esquerda da América Latina e do Caribe”, partidos e organizações políticas de esquerda de toda a região se reúnem pela primeira vez na cidade de São Paulo, Brasil. Dado o grave cenário apresentado, compartilham idéias e experiências para a construção de um mundo em que as pessoas não seriam escravas do capital e teriam direito a uma vida decente, com democracia e justiça social. Companheiros e companheiras de toda a região debatem como evitar o aprofundamento do sofrimento de nossos povos diante do imperialismo agora renovado pelas teses neoliberais. Compartilham a concepção de que era preciso lutar arduamente por nossa soberania e democracia, construindo uma inserção de nossa região na economia globalizada onde nossos povos tivessem protagonismo , sem interferência externa e ingerência de nenhum tipo. .
Em 4 de julho de 1990, ao final daquela reunião internacional, foi feito um compromisso: as partes e organizações presentes se encontrariam no ano seguinte para continuar esse caminho de solidariedade. Nascia o Foro São Paulo.
Hoje, 30 anos depois, tivemos muitas vitórias, algumas derrotas e também muito a comemorar. Aprendemos com nossos erros e aperfeiçoamos nossos êxitos. Tivemos acaloradas discussões e chegamos a acordos muitas vezes considerados impossíveis.
Os governos que alcançamos mostraram ao mundo que é possível construir justiça social, inclusão, desenvolvimento e proteção ao meio ambiente, integração regional soberana. Estabelecemos a América Latina e o Caribe como uma zona de paz no mundo. Sempre com unidade em nossa diversidade e pluralidade.
Neste momento, enfrentamos uma dura ofensiva ultraneoliberal contra nossas conquistas. Aqueles que se opõem a nós se utilizam de golpes, redes de fake news, lawfare, bloqueios e sanções economicas unilaterais, ameaças militares, repressão, perseguição e autoritarismo. Mas nossos povos seguem lutando, seguem resistindo , seguem disputando a batalha de idéias. Sabemos que estamos do lado certo da história, o lado da solidariedade, da cooperação, da integração, do multilateralimso e da paz.
Nestes 30 anos, nos conhecemos e criamos laços de amizade e identidade de propósitos. Muitas pessoas passaram entre nós e nos deixaram a lição mais importante: juntos continuaremos por um mundo sem pobreza, igualitário e democrático. Viva o Foro de São Paulo!
Monica Valente é secretária executiva do Foro de São Paulo / CEN-PT