Invisibilidade é o termo que usamos para dizer que algo ou alguém existe, mas as pessoas agem como se não existissem. Quem conheceu Keron Ravach por meio dos noticiários, a conheceu morta. Assassinada aos 13 anos, em Camocim, foi morta a pauladas, socos, facadas e pedradas. O grau de violência contra essa criança é típico dos crimes contra pessoas trans. Sim, Keron Ravach era uma cidadã brasileira transexual. Como muitas outras pessoas trans, ela estava ali, mas quem a via?
A população LGBTI+ brasileira vive um paradoxo: invisível para a política pública, visível para negação de seus direitos, mesmo após a morte. Dois exemplos: a não notificação como crime de lgbtfobia pelas secretarias de Segurança de assassinatos como o de Dandara, e o desrespeito ao nome social das vítimas ao citá-las em seus noticiários.
Em nosso primeiro mandato (2017-2020) reinstalamos a Frente em Defesa da Cidadania LGBT e apresentamos diversas propostas para proteger a vida dessas pessoas. Aprovamos a Lei n° 10.709/2018, que criou o Dia Municipal de Enfrentamento à Transfobia, data da morte de Dandara.
Crimes de ódio contra a população LGBTI+ devem ser combatidos com ações que passam pela educação contra o preconceito desde as escolas, pelo acolhimento familiar ou institucional e pelas oportunidades educacionais e profissionais para essas pessoas. O Poder Público não pode chegar apenas para dar certidão de óbito. O Poder Público tem que chegar cedo para dar condições dignas de vida.
Em 2020, o Ministério dos Direitos Humanos não gastou nenhum centavo dos R$ 4,5 milhões orçados para a Diretoria de Políticas de Promoção e Defesa dos Direitos LGBT em 2020. A foto de Keron segurando uma flor que estampou o noticiário é o que sobrou nesse País que naturaliza a morte por crimes de ódio.
Larissa Gaspar
Vereadora de Fortaleza