Longe de um quadro de controle da pandemia, o Brasil voltou a registrar alta na média de óbitos e infecções por Covid-19, após mais de um mês com queda no índice. Ignorando mais uma vez a gravidade da crise, o maior responsável pela tragédia brasileira, o presidente Jair Bolsonaro mentiu descaradamente ao discursar na Assembleia Geral das Nações Unidas, nesta terça-feira (22). Em fala recheada de fake news, Bolsonaro acusou a imprensa de “politizar” a pandemia, criticou governadores e alardeou um auxílio fictício de U$ 1.000 à população. Nas palavras de Bolsonaro, o governo evitou um “mal maior”.
“Como aconteceu em grande parte do mundo, parcela da imprensa brasileira também politizou o vírus, disseminando o pânico entre a população”, esquivou-se Bolsonaro. “‘Sob o lema ‘fique em casa’ e ‘a economia a gente vê depois’, quase trouxeram o caos social ao país. Nosso governo, de forma arrojada, implementou várias medidas econômicas que evitaram o mal maior”, disse, esquecendo-se de mencionar que ele e o ministro da Economia queriam pagar R$ 200, e que o PT e a oposição garantiram no Congresso o valor de R$ 600 pagos à população, antes de Bolsonaro cortar o auxílio pela metade.
O discurso mentiroso do presidente gerou reações indignadas de organizações da sociedade civil. O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), por exemplo, acusou o presidente de reinventar as fake news típicas de seus apoiadores.
“Bolsonaro reinventou as fake news”, afirmou Felipe Santa Cruz, em sua conta pelo twitter. “Até então as notícias falsas eram plantadas anonimamente para repercutirem sem lastro e disseminarem a desinformação. Na Assembleia Geral da ONU, nosso presidente sustentou vergonhosamente um discurso com média de uma fake news por parágrafo”, lamentou o presidente da OAB.
Já a presidenta do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR), afirmou que Bolsonaro e a verdade não cabem no mesmo discurso. “Culpar justiça e governadores pela pandemia, indígenas por desmatamento e calor por incêndio no pantanal é total falta de caráter”, criticou Gleisi. “Voltou a lamber botas de Trump. O Brasil não merece mais este vexame internacional”, observou.
Negacionismo
De fato, em seu discurso, Bolsonaro voltou a exibir o negacionismo responsável pelo caos institucional e sanitário no Brasil, causando milhares de mortes. Sua afirmação de que alertou o país sobre a necessidade de tratar o vírus e o desemprego com a mesma responsabilidade simplesmente não encontra eco na realidade. Ao contrário, desde março, seu comportamento de constante desrespeito às recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS) confundiu a população, ajudando a imprimir, no imaginário popular, uma falsa sensação de normalidade e segurança.
“Mais um vexame internacional”, destacou o líder da bancada do PT no Senado Federal, Rogério Carvalho (SE). “O Brasil perdeu uma grande oportunidade assumir compromissos que tranquilizassem a comunidade internacional e os grandes investidores”, advertiu Carvalho. “Na ONU, Bolsonaro fez a única coisa que sabe fazer: MENTIR!”, afirmou.
Para o líder da Bancada do PT na Câmara, deputado Enio Verri (PT-PR), o discurso de Bolsonaro foi uma “vergonha”. “O pronunciamento de Bolsonaro na abertura da Assembleia Geral da ONU foi no nível de sua microscópica estatura e alinhado à sua ideologia de vira-latas. O presidente colocou o Brasil em 2º plano, como se fosse um quintal do mundo, onde a população é de segunda classe. Vergonha”, destacou.
Aglomerações e mortes
Não à toa, o país viu um novo aumento de aglomerações em praias, bares e restaurantes no mês de setembro. Agora, paga-se a conta do afrouxamento da população no combate ao vírus. De acordo com o consórcio de veículos de imprensa, o Brasil atingiu a marca de 137.445 mil mortes e 4,5 milhões de infecções confirmadas nesta terça-feira (22).
A média móvel de mortes variou 8% para cima em 15 dias, ficando em 748 mortes. Já o número de novos casos também mantém tendência de alta de 30 mil, em média. Além disso, cinco estados apresentam alta de mortes. A média de infecções, que estava em 27,3 mil novos casos em 10 de setembro, voltou a subir a partir do dia 16, quando o país bateu 31 mil novos registros. Ou seja, tudo o que Bolsonaro fez não foi “evitar um mal maior”.
200 mil mortos
Na mesma Assembleia onde Bolsonaro envergonhou o país perante o mundo, seu ídolo americano, Donald Trump, promoveu ataques ao multilateralismo que caracteriza a história de 75 anos das Nações Unidas. Em tom belicoso, Trump cobrou da entidade uma responsabilização da China pela pandemia. Os ataques ocorrem no mesmo dia em que os EUA ultrapassaram a triste marca de 200 mil vítimas fatais por coronavírus.
“O governo chinês e a Organização Mundial da Saúde, que é controlada pela China, falsamente declararam que não havia evidência de transmissão entre humanos”, atacou. “Depois, afirmaram falsamente que as pessoas sem sintomas não poderiam espalhar a doença. A ONU precisa responsabilizar a China pelas suas ações”, disse. Ele voltou a chamar o coronavírus de “vírus chinês”.
Ignorando a primeira colocação dos EUA em mortos no ranking mundial da pandemia, Trump destacou os resultados de uma campanha nacional contra o vírus. “Nos EUA, nós lançamos a mais agressiva mobilização desde a Segunda Guerra”, afirmou. “Rapidamente, produzimos um número recorde de ventiladores: criamos um excesso que nos permitiu compartilhar com os amigos e parceiros. Nós fomos os pioneiros em tratamentos para salvar vidas, reduzindo a taxa de fatalidade em 85% desde abril”, gabou-se Trump.
Com 204,9 mil mortos no colo e 7 milhões de casos da doença, que continua avançando, o presidente terá muito a explicar ao eleitor nas eleições presidenciais de 3 de novembro.
Da Redação, com PT na Câmara, PT no Senado e agência de notícias