O vice-presidente general Hamilton Mourão pretende enfrentar a pressão dos investidores estrangeiros camuflando a devastação ambiental. É o que transpareceu em seu encontro na quinta-feira, 9, com investidores que ameaçam deixar o Brasil diante da situação de devastação ambiental da Amazônia. Participaram da reunião administradores de US$ 3,7 trilhões que haviam enviado carta ao governo, cobrando medidas efetivas contra o desmatamento da Amazônia.
Em coletiva após a reunião, o general Mourão defendeu o atual ministro do Meio Ambiente, Ricardo “passar a boiada” Salles. “O ministro tem a total confiança do presidente Bolsonaro e a minha também”, afirmou o vice-presidente, o que não deve ter agradado aos convidados. Para Mourão, existe uma campanha difamatória, “geopolítica”, contra o agronegócio do país.
Os fatos, no entanto justificam não só a preocupação dos investidores, mas principalmente da sociedade brasileira. O desmatamento na Amazônia Legal cresceu pelo 14º mês consecutivo em junho, segundo dados preliminares do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
Apenas em junho, o desmatamento aumentou 10,7%, comparado com o mesmo mês do ano passado, de acordo com informações do Deter, programa de satélite usado para acompanhar em tempo real o desmatamento. Nos primeiros seis meses do ano, a área devastada chegou a 3.066 quilômetros quadrados.
“Temos no poder um presidente que nos leva ao abismo interno e descrédito externo”, afirma o senador Paulo Rocha (PT-PA), alertando para os riscos ambientais que comprometem a imagem do país no exterior. De acordo com o senador paraense, a exploração clandestina de madeira ocorre também em terras indígenas, com suas lideranças ameaçadas pela violência paramilitar.
O incêndio que o vice-presidente tenta apagar, no entanto, já ameaça aos interesses econômicos do país. No início do mês, a chinesa Cofco International, anunciou que vai rastrear o processo de produção da soja proveniente do Brasil. A Cofco International é a maior empresa de processamento de alimentos da China. Um claro sinal de alerta.
O desastre anunciado da política ambiental do governo Bolsonaro também é alvo do Ministério Público Federal (MPF). Em ação, o MPF pediu o afastamento do cargo do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles por improbidade administrativa. Salles é acusado de promover “desestruturação dolosa das estruturas de proteção ao meio ambiente”.
A continuidade do atual ministro e da política ambiente do governo pode levar ao “aumento exponencial e alarmante do desmatamento da Amazônia”, adverte o MPF. “Caso não haja o cautelar afastamento, a situação pode levar a Floresta Amazônica a um ponto de não retorno, situação na qual a floresta não consegue mais se regenerar”, alertaram os procuradores na ação.