Partido dos Trabalhadores

MP de MG investiga ‘pedaladas’ tucanas em negócios da Cemig com Andrade Gutierrez

Promotoria quer saber como empréstimos tomados pelo Estado para pagar dívidas da estatal viraram lucros da empreiteira; por que acordo com acionista minoritária deu à construtora poderes para indicar diretor; e como distribuição de lucros subiu de 25% para 50%

Os deputados estaduais do PT de Minas Gerais, Rogério Correia e Professor Neivaldo, municiaram o Ministério Público do estado na última semana com ampla documentação sobre negócios suspeitos entre a Companha Energética de Minas Gerais (Cemig) e a Construtora Andrade Gutierrez.

Otávio Marques de Azevedo, presidente da construtora está preso por participação no esquema de corrupção descoberto pela Operação Lava Jato, da Polícia Federal.

Os negócios entre Cemig e Andrade Gutierrez sob investigação do MP foram determinados pelo acionista majoritário – o governo mineiro – no decorrer dos anos de gestão tucana, de 2003 a 2014, dos governadores Aécio Neves, Antônio Anastasia e o seu vice, Alberto Pinto Coelho (PP), que o substituiu durante os oito últimos meses de mandato, a partir de abril de 2014.

Com a documentação, o promotor público Eduardo Nepomuceno decidiu ampliar o leque de investigações sobre a venda, pela construtora, de sua parte na usina hidrelétrica de Santo Antônio, em Rondônia, à Cemig. Esse era o foco inicial do inquérito aberto pelo MP no ano passado para tentar desvendar o negócio.

O promotor reconheceu, em vídeo-reportagem do telejornal “Notícias de Minas”, da Rede TV Minas, que só tomou conhecimento dos fatos pelas mãos dos deputados.

“Com o material entregue (dia 14), a gente tem uma notícia, que não era do nosso conhecimento, da lei estadual que aprovou empréstimos para pagar dívidas da Cemig e informações sobre o acordo de acionistas para aumentar a distribuição de dividendos, o qual não seria do interesse do Estado”, afirmou Nepomuceno.

Segundo Correia, os empréstimos feitos para pagar dívidas da estatal, estimadas em cerca de US$ 2 bilhões ou R$ 7,6 bilhões, em valores atuais, foram usados para beneficiar a Andrade Gutierrez.

Em sua página na internet, o deputado define as relações entre o estado e a construtora como “negociatas” e chama o caso de “Lava Jato de Minas”.

“A Gutierrez não tinha nada a ver com as dívidas, mas recebeu dividendos (com o dinheiro) dos empréstimos. Não deve ter ficado em menos de R$ 600 milhões”, afirmou, com base nos critérios de distribuição de lucros pela companhia mineira.

No ano passado, segundo o deputado, a construtora tornou-se a principal doadora de recursos à campanha eleitoral de Aécio Neves à presidência, ao repassar cerca de R$ 20 milhões ao tucano, mas também financiou Anastasia e candidatos do PSDB de Minas ao Congresso Nacional.

Correia também lamenta que a construtora, mesmo minoritária como sócia da estatal mineira, vem recebendo vantagens do governo estadual. “A Andrade Gutierrez, na prática, vem mandando na Cemig”, garante.

Devido ao acordo de acionistas, a parte mais importante da diretoria é indicação da empreiteira, explica o deputado.

“A principal diretoria são eles (da Andrade Gutierrez) que escolhem”, afirma. O pagamento de dividendos é citado por ele como exemplo das benesses tucanas ao grupo empresarial.

“Na época do (governador) Itamar (Franco), o pagamento de dividendos era de, no máximo, 25%, mas hoje é, no mínimo, de 50% (sobre os lucros)”. Correia afirma que em dois anos mais de 100% dos lucros da Cemig foram distribuídos aos sócios minoritários.

“Grande parte fica com a Andrade Gutierrez”, admira-se Correia. Ao telejornal, o PSDB mineiro afirmou que as declarações do deputado são “absurdas e irresponsáveis”; Anastasia declarou que os negócios foram vantajosos para a Cemig; e a construtora não quis se manifestar.

Por Márcio de Morais, da Agência PT de Notícias