As mulheres, os trabalhadores que ganham acima de um salário mínimo e os que têm idade entre 30 e 39 anos foram os mais impactados pelo desemprego no ano passado, auge da pandemia da Covid-19. É o que mostra o levantamento da Relação Anual de Informações Sociais (Rais), sobre movimentações empregatícias do ano e de todos os tipos de contrato, divulgada esta semana.
Em 2020, o Brasil perdeu 480,3 mil empregos formais, com carteira assinada, sendo que deste total, 462,9 mil (96,4%) eram vagas ocupadas por mulheres, o que comprova o aumento da desigualdade de gênero no mercado de trabalho.
Segundo levantamento do LCA Consultores para o jornal Valor Econômico, a proporção de mulheres no estoque de empregos formais (43,6%) foi a menor desde 2014 (43,2%), após ganho contínuo de espaço na década anterior – anos dos governos Lula e Dilma em que houve crescimento da participação feminina no mercado de trabalho.
Para a secretária da Mulher Trabalhadora da CUT Nacional, Juneia Batista, não há dúvidas de que o aumento da desigualdade chegou a este índice por termos no país “um presidente misógino, que não tem políticas públicas que atendam às mulheres”. Pelo contrário, desde o início de seu mandato, Bolsonaro tem promovido desmontes de políticas existentes com o corte de investimentos.
“Esses dados têm muito a ver com o governo que a gente tem, que se pudesse faria as mulheres desaparecerem do mercado de trabalho. Temos que lembrar que em todas as crises sejam econômicas ou sociais, é a mulher que mais sofre impactos. Em especial as mulheres negras. São elas as primeiras a perderem seus empregos”, diz Juneia.
Por isso, que além de lamentar, temos de repudiar este governo, e isto já começamos a fazer no último dia 4 de dezembro com o Bolsonaro Nunca Mais”, afirma.
Segundo a dirigente, o dia 4 de dezembro foi o início da construção de um grande 8 de Março, em 2022, Dia Internacional da Mulher.
Para Juneia, reverter o atual quadro de maior impacto do desemprego para as mulheres, promover igualdade e acabar com as diversas formas de violência praticadas cotidianamente contra elas começa pela conscientização de que temos um governo que ataca as mulheres e é preciso derrubar Bolsonaro.
Ao citar fatos históricos, Juneia reforça a convocação às mulheres. “As revoluções francesa e russa, bem como o direito ao voto nos Estados Unidos começaram com as mulheres. E nós temos de começar agora a nossa luta. São as mulheres as precursoras das grandes revoluções”, ela diz.
Trabalhadores com salários acima do mínimo estão entre os mais atingidos pelo desemprego
Ao todo foram perdidos 254,2 mil postos celetistas, 215,1 mil estatuários e 11 mil classificados como “outros”. Houve ainda redução de quase 104 mil vagas para aprendiz, enquanto os temporários cresceram 92,2 mil postos.
Além da perda de empregos, as poucas vagas que foram criadas foram de remuneração mais baixa. Quem ganhava até meio salário mínimo (R$ 550,00) conseguiu uma das 120,6 vagas abertas nesta faixa salarial. De meio salário a um mínimo (R$ 1.100) foram abertos 1,93 milhão de postos de trabalho.
Já quem ganhava acima de um salário e meio (R$ 1.650) e dois mínimos (R$ 2.200), foram os que mais perderam, com pouco mais de 1 milhão de postos de trabalho fechados.
A Rais também mostra o que outras pesquisas como a PNDA Contínua do IBGE já mostrou que a renda média do brasileiro vem caindo. Pela Rais a remuneração real média do trabalhador caiu de R$ 3.326,65 (2019) para R$ 3.291,56 (2020).
Faixa etária dos 30 anos, a mais prejudicada
De acordo com o levantamento da Rais o maior saldo negativo de emprego, por faixa etária foi entre 30 e 39 anos. Para esses trabalhadores e trabalhadoras foram fechadas 379,9 mil vagas.
Já os trabalhadores com idade de 40 a 49 anos, a variação no número de vagas abertas foi positiva, com a criação de 165,1 mil novos postos.
Desemprego por setor
Por setor, a construção civil ficou com o maior número de empregos positivos, com 124,4 mil vagas em segundo, a indústria com 101,2 mil.
Já comércio perdeu 162,2 mil vagas e os serviços perderam 536,4 mil, por serem setores que necessitam da circulação de pessoas e que, portanto, foram impactados pelas medidas necessárias de isolamento social, em função da pandemia.
Apesar do tombo no número de empregos, o setor de serviços é o que mais emprega trabalhadores formais no país, com 26,6 milhões (57%) do total de 46,7 milhões
Os municípios também demitiram servidores. Na análise do LCA ao Valor Econômico, o setor público municipal registrou redução de 443,3 mil trabalhadores. No estadual houve crescimento de 133,3 mil e no âmbito federal 86,7 mil.
Já as empresas privadas tiveram redução de 190,4 mil trabalhadores.
Falências
Ao todo 53,3 mil estabelecimentos foram fechados em 2020. Comércio com 26,6 mil e serviços com 20,3 mil, foram os negócios mais atingidos.
Do Portal da CUT