A insistência irresponsável de Bolsonaro contra a imunização coletiva da população brasileira no combate à Covid-19 está sobrecarregando as unidades de saúde e os profissionais, que atendem aos inúmeros casos diários de contaminação pela variante Ômicron.
Atualmente, o maior número de casos de internação de paciente por Covid-19 ou pela nova variante Ômicron são de pessoas não vacinadas em sua maioria e, em menor parcela, de imunizados parcialmente, com penas uma dose da vacina, ou duas.
Diante desse quadro de pressão, diferente do registrado durante as fases anteriores da pandemia, passaram a ocorrer casos de violência de pacientes e familiares contra os profissionais de saúde.
No final de semana, a mídia regional e nacional noticiou diversos casos de profissionais da saúde que denunciaram uma onda de agressões verbais e físicas, em diversas regiões do país.
No Goiás, a prefeitura da cidade divulgou nota de repúdio contra a agressão de um casal a uma médica, que foi ferida no rosto, e disse que que está tomando as medidas judiciais necessárias.
“Repudiamos veementemente as agressões sofridas por nossos colaboradores, empenhados no trabalho de salvar vidas, e se solidariza com as equipes e família”, destaca a prefeitura.
No pronto-socorro de um hospital público em Maceió (AL), outra médica e seus seus colegas atendem pacientes com dois seguranças na porta do consultório.
“As pessoas chutam e batem na porta, gritam, ameaçam a equipe. Algumas se comportam de forma animalesca com profissionais esgotados, que estão trabalhando sem parar há dois anos nessa pandemia, muitas vezes com carga horária triplicada para ocupar o espaço dos colegas que estão doentes”, diz ela.
Em Florianópolis (SC), no centro de saúde da Praia dos Ingleses, uma enfermeira, levou um soco no olho no início do mês ao tentar separar uma briga entre pacientes iniciada porque os dois médicos do posto interromperam o atendimento por alguns minutos para tentar estabilizar um doente grave trazido pela ambulância.
No Rio de Janeiro, um enfermeiro também precisou chamar a Polícia Militar após sofrer agressões físicas. Segundo ele, as agressões verbais viraram rotina.
“As pessoas nos chamam de vagabundos, dizem que são elas que pagam os nossos salários. Chegam quando a unidade já está fechada e querem ser testadas, gritam, xingam.”
Em entrevista à Folha de São Paulo, em uma UBS na zona oeste de São Paulo, um médico da família disse que perdeu a conta das vezes em que foi ameaçado de morte e de agressões desde o início deste ano. “O usuário vem e te ameaça de te pegar no final do plantão. Geralmente, é o cara hígido [saudável], encrenqueiro, de 20, 30 anos, que quer passar na frente dos outros e não aceita que tem outras pessoas com mais prioridade.”
Proteção aos profissionais da saúde
A coordenadora do Setorial Nacional de Saúde do Partido dos Trabalhadores (PT), Eliane Cruz, alerta sobre importância de ações protetivas aos profissionais, antes valorizados e admirados no início da pandemia. Agora, negacionistas da pandemia arruínam o Sistema Único de Saúde (SUS).
“A rede de saúde não é um campo de batalhas entre usuários e trabalhadores de saúde, com agressões físicas e verbais, prisões e achincalhe dessa força de trabalho dedicada a saúde do povo brasileiro. A rede de saúde é o lugar do acolhimento e cuidados de saúde. O inimigo é outro, o inimigo é Bolsonaro e os negacionistas que arruínam o SUS, negam a pandemia e negam recursos financeiros a devida qualidade e oferta de ações protetivas e recuperação da saúde, com recursos de custeio adequados para ações básicas e de suporte hospitalar e UTI para Covid e para cuidados eletivos (demanda reprimida acumulada nos últimos dois anos)”.
O Núcleo de Acompanhamento de Políticas Públicas de Saúde e o Setorial Nacional de Saúde do PT emitiram uma nota oficial e exige que o Ministério da Saúde cumpra o seu papel e proteja a vida dos trabalhadores e trabalhadoras do SUS.
Confira a nota, na íntegra, abaixo.
Alerta: A pandemia não acabou!
“Pela distribuição de máscaras PPF-2 (NR-95), nas unidades de saúde, vacinação em massa e proteção da saúde e da vida das trabalhadoras e trabalhadores do SUS”
No atual cenário sanitário e político da pandemia, o avanço da Covid 19, impulsionado pela variante Ômicron, indica aumento de contágios e mortes, cuja análise e capacidade de intervenção ficam profundamente comprometidas em virtude do apagão de dados do Ministério da Saúde que já dura dois meses, que prejudica ainda mais as projeções e planejamentos de atenção à saúde. Monitorar o comportamento atual e as tendências da pandemia para os próximos meses é essencial para orientar as ações necessárias e nosso posicionamento político.
Diante desse quadro de fragilização da vida e da saúde, nossa atuação política se concentrará em exigir que o Ministério da Saúde cumpra o seu papel. Devemos incentivar a realização de campanhas de vacinação em massa para todas as faixas etárias (inclusive dos brasileiros que ainda não tomaram nenhum dose ou que só tomaram a primeira dose da vacina), envolvendo e mobilizando gestores da saúde e movimentos sociais, contrapondo-se a ação negacionista, que vem sendo feita pelos negacionistas por meio do uso das mídias sociais, panfletagens e chamadas em carros de som contra a vacinação. É preciso, sobretudo, garantir que as crianças sejam vacinadas, contrapondo-se ao posicionamento criminoso de Bolsonaro antivacina.
Queremos que o SUS garanta acesso às máscaras PPF-2 (NR-95), para a devida proteção da população. Os valores para aquisição deste item fundamental para proteção individual têm saído do bolso das trabalhadoras e dos trabalhadores, e isso é injusto. Essa necessária proteção deve compor o orçamento público e ser inserida como item básico a ser oferecido gratuitamente pelo SUS.
A implantação de uma política de testagem efetiva deve permitir o acesso aos testes para toda a população, com farta disponibilização nas Unidades Básicas de Saúde e nos serviços de urgência/hospitalares. Da mesma forma que as máscaras, o dispêndio de recursos próprios para acesso aos testes atinge a renda das famílias e se torna inatingível para a maioria dos brasileiros.
Estamos mobilizados também para exigir que o Ministério da Saúde garanta o financiamento e repasse de recursos para que estados e municípios possam garantir a oferta de ações protetivas e de recuperação da saúde, com recursos de custeio adequados para ações básicas, de suporte hospitalar e de UTI para Covid, assim como para cuidados eletivos (demanda reprimida acumulada nos últimos dois anos que tem penalizado duramente a população e colocado suas vidas em risco)
É preciso instalar a CPI para investigar o apagão de dados e exigir a correção dos graves problemas no sistema de informação em saúde que estão impedindo a análise e monitoramento da pandemia.
É fundamental, ainda, dar o devido peso político a Comissão Externa do Coronavírus e os desdobramento da CPI da Covid 19, nas ações de denúncia e mobilização da sociedade no enfrentamento real a pandemia.
Ressalte-se, nestas ações, a necessária solidariedade aos trabalhadores de saúde. É imperioso reduzir a sobrecarga de trabalho, o adoecimento físico e saúde mental e mortes dos que estão há dois anos lutando contra a Covid. Devemos lutar pela aprovação do PL do piso salarial da enfermagem e a jornada digna da psicologia, que tramitam no Congresso Nacional, e combater a PEC 32.
A rede de saúde não pode se transformar em um campo de batalha entre usuários e trabalhadores de saúde, com agressões físicas e verbais, prisões e achincalhe dessa força de trabalho dedicada a saúde do povo brasileiro. O inimigo é outro. Os inimigos são Bolsonaro e o neoliberalismo que arruínam os vínculos trabalhistas por meio da privatização da saúde, das Organizações Sociais, que na gestão de serviços de saúde abarcam nossos recursos financeiros e reduzem a real capacidade de garantir a atenção à saúde que temos condições de oferecer pelo SUS.
Núcleo de Acompanhamento de Políticas Publicas – Saúde
Setorial Nacional de Saúde do PT
Da Redação, com informações do G1 e Folha de S. Paulo