O Brasil saiu da recessão neste ano. O crescimento foi concentrado na agropecuária, mas ainda assim deve ser comemorado. As projeções de mercado indicam aceleração em 2018, puxada por indústria e serviços, outra notícia positiva.
A grande questão sobre a recuperação atual não é sua ocorrência. Depois de uma recessão, sempre vem uma recuperação. O ponto principal é: por que tão devagar?
Comparada com episódios similares de nossa história, a recuperação em curso tende a ser a mais lenta após três anos seguidos de queda do PIB per capita.
Um lado do debate público no Brasil atribui a recessão e a lenta recuperação somente aos governos do PT. Segundo essa visão simplista, tudo deu certo a partir de maio de 2016. Não é preciso ser economista para ver o viés político dessa interpretação.
Uma análise mais isenta ajuda a entender a questão. Sim, houve equívocos de política econômica em 2012-14. Tanto que a presidente Dilma começou seu segundo mandato tentando corrigi-los.
Por limitação de espaço, destaco dois pontos: adiar o enfrentamento do desequilíbrio orçamentário via operações legais, mas não recorrentes, de antecipação de receita e adiamento de despesa (Temer está indo pelo mesmo caminho) e tentar controlar preços para adiar o aumento da Selic (isso a própria Dilma já corrigiu em 2015).
A direção da política econômica de 2012-14 foi um dos motivos que me fizeram deixar o governo, em junho de 2013, após encaminhar a criação do fundo de pensões dos servidores (com sucesso) e a reforma do ICMS (sem sucesso). Mas voltemos ao principal.
Será que os erros de 2012-14 explicam toda a recessão e a lenta recuperação? É claro que não! O momento atual também se deve à estratégia do “quanto, pior melhor” adotada por MDB e PSDB contra o PT.
Em 2015, houve as pautas bombas. Em 2016, o golpe parlamentar. Nos dois casos, o Brasil ficou paralisado -não se aprovava nem “parabéns para você” no Congresso- enquanto a economia só piorava. Aguardo a autocrítica dos incendiários de ontem, embora saiba que ela nunca virá.
Depois do golpe parlamentar também houve erros de política econômica que atrasaram a recuperação, quase todos reversíveis.
O BC demorou a cortar a Selic, mas já está corrigindo isso. A Fazenda ampliou e depois derrubou o gasto discricionário da União, mas depois reconheceu o erro e mudou a meta fiscal.
No crédito, houve grande contração pelo BNDES, em cima do ajuste já feito por Dilma em 2015. Sem alarde, o governo está procurando corrigir esse erro injetando recursos do FGTS na economia e reduzindo o compulsório dos bancos.
E houve ainda a inacreditável PEC do teto dos gastos, que adiou a reforma da Previdência e aumentou a incerteza fiscal sobre 2019. Só o próximo governo corrigirá esse erro.
Nelson Barbosa é ex-ministro da Fazenda
*Artigo publicado originalmente na ‘Folha de S.Paulo’ e reproduzido na Tribuna de Debates do PT