No Brasil de Jair Bolsonaro e seu ministro-banqueiro Paulo Guedes, até o que deveria ser boa notícia traz alguma iniquidade embutida. A queda da desigualdade de renda em 2020, por exemplo, só ocorreu devido ao auxílio emergencial, política pública negociada e aprovada pelo Congresso Nacional a despeito das manobras evasivas do Executivo, e que chega ao fim em novembro.
O boletim ‘Pnad Contínua 2020 – Rendimento de Todas as Fontes’, divulgado nesta sexta-feira (19) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), constatou que no ano passado o rendimento médio mensal das pessoas do grupo de 1% com melhor rendimento foi de R$ 15.816 por mês, “apenas” 34,9 vezes o rendimento dos 50% com menores rendimentos (R$ 453). Um “avanço” comparado a 2019, quando a diferença (40 vezes) bateu o pico da série histórica, após queda entre 2012 (38,3) e 2014 (33,5).
Em 2020, houve redução de 9,4% na renda mensal real domiciliar per capita do 1% mais rico, que caiu de R$ 17.448 em 2019 para R$ 15.816 em 2020. Mas o auxílio emergencial permitiu que a renda média per capita recebida pela metade mais pobre da população brasileira crescesse 3,9% em relação a 2019, quando era de R$ 436.
A pesquisa também apontou que a renda per capita nos domicílios das famílias mais pobres subiu 12,2% entre 2019 e 2020, de R$ 688 para R$ 722. Essa alta, no entanto, ocorreu em um contexto onde, em 2020, o rendimento médio mensal real domiciliar per capita total do país caiu 4,3% ante 2019, chegando a R$ 1.349.
“Houve uma piora do mercado de trabalho. Muita gente perdeu ocupação e todo mundo teve perda (na renda do trabalho), alguns mais, outros menos. Mas você teve uma política social que segurou (os mais vulneráveis). Isso tornou a distribuição de renda do país menos desigual” explica Alessandra Scalioni Brito, analista do IBGE.
“Houve redução da desigualdade porque todo mundo perdeu, não é porque alguns estão ganhando. É uma notícia que parece boa, mas não é tão boa”, ressaltou a pesquisadora. Para ela, o auxílio emergencial funcionou como um “colchão” para os trabalhadores, principalmente informais, que perderam as ocupações ou ficaram impedidos de atuar devido às medidas restritivas adotadas no auge da pandemia.
“Foi um colchão, mas não para suprir toda essa queda que teve no mercado de trabalho e em outras fontes de renda”, ressalta Alessandra. “No Norte e Nordeste, como o peso de programas sociais é maior, aumentou um pouquinho (a renda per capita). Nas outras regiões, não. No total do Brasil, também não.”
O resultado obtido em 2020, mesmo com o auxílio emergencial, ainda representa 105,5 milhões de pessoas subsistindo com R$ 15,10 por dia. Do total, entre 25 milhões e 29 milhões não sabem onde obterão renda a partir de dezembro, pois foram excluídos do Auxílio Brasil bolsonarista. Para a presidenta nacional do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann (PR), esse é o legado do bolsonarismo para o país.
“Auxílio Brasil é um programa meia boca feito pro ano eleitoral com data pra acabar. Alunos desmaiando de fome na escola, crianças sem fazer três refeições por dia, pais desesperados sem ter como colocar comida na mesa. Essa é a herança que Bolsonaro vai deixar, descaso e pobreza”, postou a deputada em seu perfil no Twitter.
Da Redação