Partido dos Trabalhadores

No PT Conexões Brasil, Gleisi discute economia dos cuidados, eleições e pauta feminista

Com foco nas eleições municipais e nas desigualdades de gênero, presidenta do PT recebeu, na quarta (14), socióloga Daléa Antunes e a deputada Natália Bonavides (PT-RN)

Reprodução/TvPT

No programa, as participantes trataram de desafios do país para implementar uma economia do cuidado mais justa e inclusiva

Na noite de quarta-feira (14), a TVPT exibiu mais uma edição do programa “PT Conexões Brasil”. O tema central foi a nova economia dos cuidados no país, com foco nas eleições municipais e nas desigualdades de gênero.

A presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, conduziu a discussão ao lado da pesquisadora do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e doutora em Sociologia pela UERJ, Daléa Soares Antunes, e da deputada federal e candidata à prefeitura de Natal, Natália Bonavides (PT-RN). 

As três destacaram a importância do tema, que toca diretamente em questões relacionadas ao cuidado, ao papel das mulheres na economia, às desigualdades de gênero e à necessidade de políticas públicas que atendam novas demandas da sociedade.

Economia dos cuidados

Gleisi Hoffmann abriu o programa destacando que o PT, com 44 anos de história, foi fundado em uma realidade brasileira muito diferente da atual.  “As coisas mudaram muito, e precisamos nos atualizar para continuar defendendo os trabalhadores e as trabalhadoras, seus direitos e continuar promovendo um país com mais desenvolvimento e justiça social”, afirmou.

Para ela, essa contextualização foi fundamental para introduzir uma nova economia dos cuidados, um conceito que visa dar visibilidade e valor econômico às atividades de cuidado, tradicionalmente exercidas pelas mulheres, tanto no ambiente doméstico quanto no mercado de trabalho.

Daléa Soares Antunes explicou que a nova economia dos cuidados surge como uma nova percepção sobre o que as mulheres já fazem há muito tempo. “Historicamente, temos uma divisão sexual do trabalho que foi naturalizada. Nos últimos anos, essa ideia começou a ser desconstruída, confirmando-se a importância econômica dessas atividades”, disse. 

Mulheres no mercado 

A pesquisadora do IBGE ressaltou que as mulheres desempenham essas funções de forma não remunerada em casa, além de ocuparem funções importantes no mercado de trabalho, como cuidadoras e empregadas domésticas.

Segundo Daléa, estudos apontam que a contribuição do trabalho doméstico para o Produto Interno Bruto (PIB) poderia ser de 11% a 13% se fosse contabilizado. Ela disse que o IBGE vem realizando pesquisas de uso do tempo desde 2000 para identificar quanto trabalho doméstico não remunerado é realizado no Brasil, o que tem contribuído para debates e formulações políticas. 

“A nova economia do cuidado exige uma mudança cultural, onde a responsabilidade pelo cuidado deve ser compartilhada e não atribuída apenas às mulheres”, concluiu.

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Tecnologia e dados econômicos

Durante o programa, Gleisi Hoffmann questionou como a tecnologia poderia ser utilizada para melhorar a prestação de serviços de cuidado no Brasil. Daléa Soares Antunes reconheceu que a tecnologia é uma aliada importante, destacando aplicativos que podem acompanhar idosos, lembrando horários de medicamentos e até enviando alertas em casos de emergência. 

“A tecnologia pode ser uma fronteira a ser explorada e canalizada para a economia de cuidados”, afirmou a pesquisadora.

Natália Bonavides acrescentou que a produção e utilização de dados são fundamentais para a formulação de políticas públicas eficazes. Ela destacou que muitos cuidadores informais vivem em grande invisibilidade, e que o georreferenciamento poderia ajudar a identificar onde há maior necessidade de serviços de cuidado, facilitando a tomada de decisões sobre onde alocar recursos e implantar serviços. 

“A tecnologia já foi usada inclusive no processo de elaboração da política nacional do cuidado, onde uma das formas de contribuir era através da internet, enviando propostas e sugestões”, lembrou a parlamentar.

Impacto econômico e desigualdades de gênero

Outro assunto de destaque no debate foi quando Gleisi Hoffmann falou sobre o impacto econômico do trabalho doméstico remunerado e não remunerado no Brasil. 

Daléa Soares Antunes explicou que, embora o IBGE ainda esteja desenvolvendo metodologias para mensurar com precisão esse impacto, estudos indicam que o PIB poderia aumentar em até 13% se o trabalho doméstico fosse contabilizado. Ela destacou que essa nova economia do cuidado pode trazer avanços avançados em termos de regulamentação e valorização dessas atividades, tradicionalmente exercidas pelas mulheres.

Natália Bonavides ressaltou que a desigualdade de gênero está intrinsecamente ligada ao tema do cuidado. “Não tem como falar desse tema sem falar da sobrecarga das mulheres”, afirmou. 

Ela enfatizou ainda que o governo Lula trouxe o tema da desigualdade de gênero como pauta prioritária, apresentando um projeto de lei que cria uma política nacional do cuidado. 

Essa iniciativa foi construída com a participação da sociedade civil e prevê, entre outras coisas, a garantia de um cuidado decente para quem necessita, condições de trabalho justas para os cuidadores remunerados e a redução da sobrecarga das cuidadoras não remuneradas.

Eleições municipais e a pauta feminista

Gleisi Hoffmann também abordou como a nova economia dos cuidados deve ser inserida nas eleições municipais. Natália Bonavides, candidata à prefeitura de Natal, destacou que esse tema é central em sua campanha. 

“Estamos trazendo esse tema desde o primeiro debate. É essencial que todas as candidaturas do PT incluam o tema do cuidado em suas propostas de políticas municipais”, afirmou. 

A deputada enfatizou que a experiência de Bogotá, como as “Manzanas del Cuidado”, pode servir de inspiração para o Brasil. Essas “manzanas” são espaços específicos para mulheres cuidadoras, onde elas podem receber apoio, fazer terapia, exercícios e até cursos realizados enquanto alguém cuida das pessoas de quem elas são responsáveis.

Natália destacou ainda que a inclusão desse tema nas eleições é essencial para promover a igualdade de gênero e garantir que todos tenham acesso a cuidados decentes. “Não tem como debater igualdade de gênero e oportunidade sem tratar do cuidado. O governo Lula deu um passo importante ao trazer esse tema para a pauta nacional, mas é fundamental que ele também seja tratado nas eleições municipais”, disse. 

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Desafios e o futuro da economia do cuidado

O programa PT Conexões Brasil trouxe para debate os desafios que o país enfrenta para implementar uma economia do cuidado que seja justa e inclusiva. Gleisi Hoffmann encerrou o programa lembrando que a mudança cultural é um processo lento, mas necessário. 

“Nós já vimos isso com a Lei Maria da Penha. Mudanças na legislação são fundamentais, mas levarão tempo para transformar profundamente a cultura da sociedade”, refletiu.

Daléa Soares Antunes finalizou destacando que a política de cuidados promovida pelo governo Lula pode se tornar um marco histórico, assim como o Bolsa Família. “Um terço das brasileiras hoje tem acesso à creche. Uma política séria de cuidados é estar ao lado das mulheres quando elas enfrentam a sobrecarga do cuidado, quando deixam seus filhos na creche e quando estão desenvolvendo seu trabalho remunerado”, afirmou.

Natália Bonavides reforçou a importância de trazer o debate sobre o cuidado para as eleições legislativas. “O cuidado é um tema que toca a vida das mulheres e, por consequência, de toda a sociedade. Precisamos garantir que as políticas públicas alcancem todas as cuidadoras, sejam elas remuneradas ou não”, concluiu.

Da Redação