Com quase 65 anos, Gilberto Carvalho dedicou mais da metade da sua vida à luta por um País menos desigual. Filiado ao Partido dos Trabalhadores desde a fundação, ex-seminarista, teve forte atuação da Pastoral Operária e no PT do Paraná, onde chegou a presidência.
Em 1987, integrou a executiva nacional e, em 89, assumiu a direção do Instituto Cajamar. Ao voltar para a direção do partido, foi secretário-geral e secretário de comunicação, cargos que o credenciaram para assumir a Secretaria de Comunicação e, em seguida, a Secretaria de Governo da Prefeitura de São André, na gestão Celso Daniel.
Depois de tocar a agenda da campanha que elegeu o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pela primeira vez, Gilberto Carvalho tornou-se Chefe de Gabinete da Presidência da República. Lá, permaneceu os dois mandatos de Lula.
No primeiro mandato do governo da presidenta Dilma Rousseff, ele foi ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República e hoje é o presidente do Conselho Nacional do Sesi.
Convidado da semana na Entrevista LD, Gilberto falou ao portal e a Rádio Linha Direta sobre os tempos que trabalhou com Lula e Dilma, a relação com os movimentos sociais e a conjuntura política.
No início da entrevista, Gilberto elencou sua trajetória profissional e política, frisando o quão é necessário que todos petistas tenham a dimensão da importância de unir militância e serviço. “Eu acho fundamental a gente não perder essa dimensão”, disse.
Dos 12 anos que teve acesso direto a sala da presidência, Gilberto conta que foi um privilégio e guarda as memórias com carinho.
“Um período que marca a minha vida. Eu agradeço a Deus todos os dias o privilégio que eu tava tendo, ao mesmo tempo, uma enorme responsabilidade de estar ali”, contou.
Da convivência diária com Lula, ele só lamenta não ter equipamentos capazes de registrar. “Foi um tempo extraordinário em que a gente sentiu de perto a mudança que estava acontecendo no Brasil e por ver ali as atitudes magnificas e incríveis de um homem profundamente amante do povo, dos mais pobres, que conseguiu dar uma dimensão totalmente nova ao cargo de presidente da República, como servidor do povo”, lembrou.
Do período com a presidenta Dilma, ele pontuou que ali teve mais aproximação com os movimentos sociais e pôde trabalhar por um novo marco regulatório das organizações sociais, mas passou por muita tensão e angústia.
“Eu acho que o fato de a gente ter conseguido abrir o Palácio do Planalto para aqueles que nunca tiveram acesso, não só para visitar, mas para ir debater, criticar, propor foi incrível”, disse.
Agora fora do governo, Carvalho disse que atualmente está muito preocupado e ansioso com a conjuntura que a presidenta Dilma tem enfrentado. De acordo com ele, o governo precisa encontrar novas formas de desenvolvimento para sair da crise.
“Estou vendo uma elite que domina e utiliza o seu principal aparelho hoje que é a mídia para disseminar o ódio contra nós, confundindo combate à corrupção com combate ao PT, o que é um absurdo porque sabemos que a corrupção antecede muito a vida do PT. (…) Procuram confundir isso achando que eliminando o PT, vai se eliminar a corrupção, o que é um grande equívoco. É ao contrário. Eles que são profissionais da corrupção”, avaliou.
Segundo Gilberto, o pior é o PT passar por tudo que tem enfrentado e a direita continuar a fazer o que sempre fez contra os mais pobres, governando para a elite, promovendo o governo da exclusão e corrompido como sempre foi.
Na entrevista, o ex-ministro se posicionou contra a realocação dos ministérios da Igualdade Racial, das Mulheres e Direitos Humanos em uma única pasta, homenageou os movimentos sociais e comentou o descabido envolvimento de seu nome e dos seus familiares na Operação Zelotes.
Ele agradeceu o apoio que recebeu de amigos e militantes e estendeu essa solidariedade a todos petistas que tem sido perseguidos por promover a luta pela justiça e do partido.
“Eu tenho orgulho de ter saído, depois de 19 anos da vida pública, sem me enriquecer. Pelo contrário, com muitas dificuldades. Se eu vender todo o meu patrimônio hoje e a minha filha vender o dela, nós não conseguimos a pagar – se quer – a dívida que ela tem no Banco do Brasil (…) Estou limpo, não tenho problema nenhum”, explicou.
O ex-ministro avaliou que essa perseguição ao PT visa desmontar o capital conquistado com projeto que o PT apresentou ao povo brasileiro. Para ele, a militância não deve abaixar a cabeça, ter orgulho dos feitos dos governos petistas e manter a altivez.
“A nossa luta não pode ser uma luta para ficar no governo por ficar no governo, a nossa luta é por um projeto que faz bem aos pobres. Isso que nos dá motivação, que deve estimular a militância enfrentar todo tipo de batalha que pintar, para defender os pobres e o nosso projeto”, completou.
A atuação dos movimentos sociais foi enaltecida pelo ex-ministro. De acordo com ele, os movimentos souberam perfeitamente compreender a conjuntura, fazem críticas à política econômica e defendem o Estado Democrático de Direito. “Isso poucas vezes na história se verificou”, afirmou.
confira a entrevista na íntegra:
Por Cláudio Motta Jr., do “Linha Direta”