Partido dos Trabalhadores

Nova ofensiva do governo federal a estados e municípios agrava crise

Bolsonaro sobe o tom contra os governadores, acusando-os de “desobediência civil”. Conselhos de Saúde estaduais e municipais desgastam Nelson Teich ao rejeitarem plano do ministro para flexibilização do isolamento social

Arte: Aroeira

Ministro da Saúde sofre mais um desgaste com rejeição do plano de diretrizes para o isolamento social nos estados e municípios

O presidente Jair Bolsonaro subiu o tom na ofensiva contra os governadores nesta quinta-feira (14), acusando-os de “desobediência civil” por não seguirem o decreto que estabelece como serviços essenciais salões de beleza, academias e barbearias. A declaração foi dada durante reunião com empresários de São Paulo, entre eles o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaff.  A insistência de Bolsonaro na reabertura das atividades aprofunda ainda mais a crise sanitária decorrente da pandemia do coronavírus. Na quarta-feira, o ministro da Saúde, Nelson Teich, iria apresentar um plano com diretrizes para flexibilizar o isolamento social em estados e municípios. O estudo elaborado pela pasta, foi, no entanto, rejeitado pelos conselhos nacionais de Secretários de Saúde (Conass) e de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems).

Diante do desentendimento, Teich foi obrigado a cancelar a coletiva na última hora, deixando de explicar as diretrizes do plano. Em meio à disparada de mortes e novos casos – o país já tem mais de 13 mil mortes e atingiu a marca de 200 mil contaminados –, o governo federal parece concentrado em atrapalhar deliberadamente as estratégias de combate ao Covid-19. A cartilha do ministério foi vista mais como um esforço de Teich para agradar Bolsonaro do que uma tentativa de alinhamento das estratégias nas esferas federal, estadual e municipal.

“Desde o último sábado, a estratégia tem sido debatida com os conselhos dos secretários de saúde estaduais e municipais, o Conass e o Conasems. O objetivo era ter um plano construído em consenso. No entanto, esse entendimento não foi obtido nas reuniões conduzidas até o momento”, limitou-se a comentar, em nota, o Mministério da Saúde, sobre a reprovação da proposta. Em nota publicada no portal do Conass, os conselhos afirmam que a publicação de uma “Matriz de Risco”, com indicações de níveis de relaxamento do isolamento social de acordo com a situação de cada município, é inoportuna, “especialmente por estarmos, neste momento, em franco crescimento diário do número de casos e de óbitos pela Covid-19”.

Ainda segundo a nota, “a mensagem sobre o isolamento social deve ser clara e objetiva. Gerar dúvidas na sociedade sobre sua importância ou mesmo relativiza-la nos parece inadequado”. A nota informa ainda que os presidentes do Conass e Conasems fizeram um apelo ao ministro Teich para que o Gabinete de Crise seja reativado e “que a gestão tripartite da emergência em saúde pública seja retomada e fortalecida”.

“Este é o momento de salvar vidas. Precisamos de um único consenso agora: a saúde e a vida das pessoas não podem esperar. União, Estados e Municípios devem somar esforços no enfrentamento da pandemia, para o bem de todos os brasileiros”, disse o presidente do Conass, Alberto Beltrame.

A reação dos conselhos representa mais um desgaste para Teich na condução da crise sanitária trazida pela pandemia do coronavírus. Há menos de um mês à frente da pasta, ele mostra-se atrapalhado e hesitante. Exibe, dia pós dia, uma desconcertante inabilidade em lidar com a máquina pública. Para piorar, ainda precisa conviver com as sabotagens do presidente Jair Bolsonaro no combate ao Covid-19 no país, explicitada pela guerra deflagrada a estados e municípios.

Interiorização

O avanço da pandemia pelo interior do país preocupa autoridades de saúde e especialistas pela falta de estrutura do Sistema Único de Saúde (SUS) na disponibilização de leitos nas Unidades de Terapia Intensiva (UTIs). O temor é de uma corrida das populações de cidades de pequeno e médio porte aos hospitais  das capitais aumentar a sobrecarga da rede pública, provocando o colapso absoluto do sistema. Segundo o próprio Ministério da Saúde, 2.865 cidades do Brasil apresentam registros da doença. O número corresponde a 51,4% dos municípios do país.

Seguindo orientações do Centro de Contingência de Combate ao Coronavírus, que recomenda a manutenção da suspensão das atividades de academias e salões de beleza, entre outros estabelecimentos, o governador de São Paulo, João Dória (PSDB), anunciou um decreto estadual para fazer cumprir a decisão nos 645 municípios do estado. “Do ponto de vista de controle de contágio, essas áreas representam um risco. Diante de outras atividades, o contato pessoal destas áreas é de alto risco”, disse o coordenador do grupo, o médico infectologista Dimas Covas. Apesar disso, pelo menos 21 prefeituras do estado autorizaram a reabertura de academias e cabelereiros, segundo informações da GloboNews.

Bolsonaro aposta no caos

Enquanto isso, Bolsonaro eleva o nível de tensão institucional ao limite. Na reunião desta quinta-feira, ele voltou a atacar o governador paulista. “Um homem está decidindo o futuro de São Paulo, decidindo o futuro da economia do Brasil”, disse o presidente. “Os senhores, com todo o respeito, têm que chamar o governador e jogar pesado. Jogar pesado, porque a questão é séria, é guerra”.

”Nós temos que mostrar a cara, botar a cara para apanhar. Porque nós devemos mostrar a consequência lá na frente. Lá na frente, eu tenho falado com o ministro Fernando [Azevedo], da Defesa… Os problemas vão começar a acontecer. De caos, saque a supermercados, desobediência civil. Não adianta querer convocar as Forças Armadas porque não existe gente para tanta GLO [Garantia da Lei e da Ordem]”, ameaçou Bolsonaro.

Da Redação