Desde a convocação da Assembleia Nacional Constituinte na Venezuela pelo presidente Nicolás Maduro, o debate sobre os rumos da revolução bolivariana têm se intensificado. No entanto, a disputa de narrativas é extremamente desigual. A grande mídia internacional tem um lado, que é o da covarde oposição oligárquica. Não há equilíbrio na cobertura e o debate só acontece quando as opiniões destoantes e anti-hegemônicas projetam suas vozes, como o Partido dos Trabalhadores fez no Foro de São Paulo.
Quando Hugo Chávez assumiu o poder, em 1999, as agências de notícias e redes de televisão do Norte Global já trataram de começar a difamação contra o novo presidente. Isso se deu principalmente pelo fato do ex-militar não ser qualquer líder anti-hegemônico, mas o chefe de estado da nação que possui em seu território a maior reserva mundial de petróleo.
Na ocasião, aquele povo castigado por séculos, como já nos contava o brilhante Eduardo Galeano, decidiu contrapor o poder dominante. O sonho de libertação mobilizou a população a acreditar na mudança que Hugo Chávez prometeu – inclusive tendo importante papel no impedimento de um golpe de estado capitaneado pelos meios de comunicação locais.
E cumpriu. A pobreza diminuiu, o analfabetismo foi erradicado (segundo a UNESCO) e o Índice de Desenvolvimento Humano disparou.
Acontece que com a morte de Hugo Chávez, em 2013, a oposição decidiu que era a hora de retomar o poder. Derrotada nas urnas em uma eleição apertada que sagrou Nicolás Maduro presidente, a Mesa de la Unidad Democrática (MUD) não reconheceu o resultado. A partir de então passou a seguir uma cartilha golpista.
Obviamente, não agiu sozinha. Internacionalmente tinha respaldo, principalmente, dos Estado Unidos, da Espanha (que ainda possui uma visão colonialista sobre a primeira nação a se tornar independente de suas amarras) e de algumas nações sul-americanas que agem conforme os estadunidenses.
A mídia internacional e as agências de notícias passam a fortalecer a teoria de que aquela nação latino-americana enfrenta um sangrento regime ditatorial que ignora os direitos humanos. Esse enfoque acontece enquanto os oligarcas oposicionistas incendeiam alimentos com o objetivo de desequilibrar a economia nacional. Junto a isso, o Poder Legislativo, comandado pela MUD, optou por desrespeitar determinação do Poder Judicial e instaurou uma verdadeira guerra política visando desestabilizar ainda mais o governo de Nicolás Maduro.
No panorama internacional, o Mercosul, presidido pelo golpista Michel Temer, suspende a Venezuela; a Organização dos Estados Americanos, principal órgão de proliferação dos desejos dos EUA para o continente, também trabalha pela suspensão – passando por cima inclusive da Presidência Pro Tempore da Bolívia -; e os EUA de Trump aplicam sanções. Enquanto isso, a União de Nações Sul-Americanas e o Vaticano trabalham pelo diálogo entre governo e oposição – que já enviou carta ao Papa Francisco dizendo que não tem interesse em terminar com o conflito.
Apesar da tentativa de golpe se intensificar, Maduro optou por resistir e aprofundar a revolução bolivariana e convocar uma Assembleia Nacional Constituinte. A ideia é aprofundar o participação dos diversos setores da sociedade na construção de um futuro, enquanto a oposição rejeita o diálogo político. Essa atitude intensificou a retórica de “ditadura” por parte da oposição e todos os meios de comunicação repercutiram.
Diante da ofensiva imperialista com várias frentes, defender a continuidade do governo democraticamente eleito é mais do que apenas apoiar Nicolás Maduro, é apoiar um projeto anti-hegemônico, anti-imperialista e emancipador contra a volta de uma agenda neoliberal que massacrou a América Latina durante os anos 80 e 90. A correta posição da presidenta do Partido dos Trabalhadores, Gleisi Hoffmann, no Foro de São Paulo, reafirma as conquistas da década de 2000 e demonstra a solidariedade do maior partido de esquerda da América Latina com o projeto chavista de socialismo do Século XXI.
Enquanto CNNs, El Paises e Globos propagam notícias e opiniões baseadas unicamente na visão da oposição – subvertendo qualquer ideia mínima de equilíbrio e democracia no jornalismo -, aqueles que acreditam em um mundo mais igualitário, justo e multipolarizado têm o dever de fortalecer as mídias alternativas que proclamam a legitimidade do bolivarianismo, como a rede multiestatal TeleSur.
O posicionamento do PT, certamente, foi importantíssimo para garantir que o debate ultrapasse a barreira dos meios de comunicação e chegue aos brasileiros. Enquanto parte da esquerda nacional prefere se escorar no golpismo midiático, o PT reafirma seu compromisso em defender não só o povo brasileiro mas também todo o povo latino-americano. Apesar dos ataques sofridos e de artigos ditando o que é ser esquerda e o que o PT deveria fazer, a clareza e a firmeza no posicionamento do partido devem continuar. Nenhum golpe imperialista deve ser tolerado, seja no Brasil ou na Venezuela.
Por Lucas Rocha, estudante de Jornalismo, coordenador geral do Centro Acadêmico da Escola de Comunicação da UFRJ e militante da Kizomba e da JPT, para a Tribuna de Debates do PT.