Bolsonaro e o “partido militar” dobraram a aposta neste 7 de setembro. O que era para ser uma manifestação unificadora da nação e uma festa eminentemente popular foi transformada em comícios eleitorais da chapa situacionista, usando a máquina pública a custo altíssimos. Lembrou a comemoração do Sesquicentenário da independência em 1972 -auge da ditadura civil-militar, que com a oposição presa, torturada e censurada foi transformado em exaltação ao golpe de 1964 e motivo de comemoração para os setores endinheirados e das camadas médias que galopando o “milagre econômico” fazia “crescer o bolo” no linguajar do ministro Delfim, só que não distribuíam. Já, que as classes trabalhadoras viviam um intenso arrocho salarial.
O Bicentenário não foi diferente. Tripudiando sobre os 700 mil mortos pela Covid, os 20 milhões de desempregados e os mais de 30 milhões de famintos que vagam pelas cidades, parte das classes médias com o auxílio do fundamentalismo neopentecostal inundaram as ruas de algumas capitais exalando preconceitos, racismos, misoginias e frases antidemocráticas. Nada que nos assuste, porém nos indigna. Principalmente o uso da máquina pública e da boa-fé do povo iludido pelas fakes News numa clara mistura entre religião e política, mistura que nunca deu certo em nenhum lugar do mundo.
O bolsonarismo raiz galvaniza em torno de 12 a 15% da população. Esse contingente apesar de minoritário representa alguns milhões de brasileiros. Junta-se a fina-flor do reacionarismo e do ultraconservadorismo altamente mobilizável e tendo como combustível os milhões de reais advindo do empresariado golpista e a retórica mentirosa dos pastores e monta-se um espantalho da “ameaça comunista” o verdadeiro caldo de cultura que promove as manifestações.
Nada disso, porém, amedrontará as forças democráticas e progressistas que não irão cair na provocação de inverter a pauta eleitoral: a economia, os preços dos alimentos, o desemprego e a pauperização do subemprego que atinge a maioria do povo brasileiro.
Não está em jogo só a reconquista do Estado Democrático de Direito e sim a recuperação da soberania nacional, dos símbolos pátrios, da autoestima do país e da distribuição da renda e da riqueza, sem a qual a perversa situação de penúria da maioria da população não assistirá mudança substancial.
É preciso uma grande concertação de todos os democratas brasileiros já no primeiro turno. Não dá mais para assistir impassível a escandalização da vida política nacional; não dá para mais para que a retórica protofascista e de ataque às mulheres, negros e negras perdure.
O destino do Brasil é infinitamente maior do que as nossas diferenças. Lula deu mostras disso quando convidou Geraldo Alckmin para compor sua chapa. Esse não é o
momento da disputa de espaços ou de projetos. É o momento de trazer ao Brasil ares menos tóxicos e pôr um à exaltação da violência.
É a civilização x barbárie.
Alberto Cantalice é diretor da Fundação Perseu Abramo